Planilhas da Lava Jato na casa de quem assinou o “Morar Feliz”

JAMEGÃO — Junto com a prefeita Rosinha e Benedicto Júnior, o BJ da Odebrecht, outro executivo da empreiteira, Leandro Andrade Azevedo, assinou a primeira etapa do “Morar Feliz”, que teria mais três aditivos e uma segunda etapa, suspensa no final por falta de pagamento
Jamegão – Junto com a prefeita Rosinha e Benedicto Júnior, o BJ da Odebrecht, outro executivo da empreiteira, Leandro Andrade Azevedo, assinou a primeira etapa do “Morar Feliz”, que teria mais três aditivos e uma segunda etapa, suspensa no final por falta de pagamento

 

 

Por Aluysio Abreu Barbosa

 

Mas será o Benedito? Se for com um “c” entre o “i” e o “t”, é ele mesmo: Benedicto Barbosa da Silva Júnior, presidente da Odebrecht preso na 23ª fase  da operação Lava Jato, batizada de “Acarajé” e realizada pela Polícia Federal (PF) em 22 de fevereiro, por decisão do juiz Sérgio Moro. Foi também na residência de Benedicto, no Rio de Janeiro, que a PF encontrou as já famosas planilhas, vazadas pela imprensa (aqui) só em 23 de março, com as doações da Odebrecht a cerca de 200 políticos de 22 partidos, entre eles (aqui) o secretário de Governo de Campos, Anthony Garotinho (PR), a prefeita Rosinha Garotinho (PR) e a deputada federal Clarissa Garotinho (PR). Coincidentemente, foi também Benedicto quem assinou com Rosinha o contrato da primeira etapa do programa “Morar Feliz”, em 1º de outubro de 2009, para a construção de 5,1 mil casas, no valor total de R$ 357,4 milhões — numa licitação cujo resultado favorável a Odebrecht foi antecipado (aqui) pela coluna “Ponto final”, da Folha da Manhã, em quase quatro meses.

Na foto da assinatura da primeira etapa do “Morar Feliz”, Leandro Andrade Azevedo, outro executivo da Odebrecht, e a prefeita Rosinha, num contrato que seria também assinado por Benedicto Barbosa da Silva Júnior (foto de Ricardo Avelino - Folha da Manhã)
Na assinatura da primeira etapa do “Morar Feliz”, em 1º de outubro de 2010, Leandro Andrade Azevedo, outro executivo da Odebrecht, e a prefeita Rosinha, no contrato que seria também assinado por Benedicto Barbosa da Silva Júnior (foto de Ricardo Avelino – Folha da Manhã)

No inquérito assinado pelo delegado federal Filipe Hille Pace, fica claro (aqui) o papel de Benedicto como elo de ligação do dinheiro que circula entre a Odebrecht e os políticos:  “É possível verificar que Benedicto é pessoa acionada por Marcelo (Bahia Odebrecht) para tratar de assuntos referentes ao meio político, inclusive a obtenção de apoio financeiro”. Após fazer companhia ao chefe Marcelo, preso desde 19 de junho de 2015 na carceragem da PF em Curitiba, Benedicto foi solto por Moro em 26 de fevereiro, ao término dos cinco dias da prisão temporária, com a condição de não deixar o país ou mudar de endereço.

Desde 23 de março, quando as planilhas encontradas pela PF na casa de Benedicto vazaram à imprensa, Garotinho usou seu blog primeiro (aqui) para tentar se defender:

— Antes que pessoas inescrupulosas possam fazer qualquer associação entre o meu nome e o esquema da Lava Jato, quero deixar claro que meu nome aparece numa doação oficial, com CNPJ da campanha, e conta registrada no Banco Itaú, informada à Justiça Eleitoral, relativa à campanha de 2010, quando concorri para deputado federal.

Só depois o ex-governador fez também (aqui) a defesa da esposa prefeita e da filha deputada:

— Não me preocupa o fato de meu nome aparecer nessa lista, porque, diferente de outras situações, trata-se de uma constatação normal de doação que está declarada na minha prestação de contas feita ao TRE-RJ, assim como os casos de Rosinha e da minha filha Clarissa.

No caso de Garotinho (aqui), não consta nos registros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nenhuma doação feita pela Odebrecht em 2010. Todavia, uma planilha apreendida na casa de Benedicto revelou uma doação de R$ 1 milhão da empreiteira ao político de Campos, em 1º de setembro de 2010. E, no mesmo dia, o TSE registrou duas doações com mesmo valor conjunto (R$ 1 milhão) ao diretório estadual do PR controlado por Garotinho: a Leyroz entrou com R$ 800 mil, cabendo R$ 200 mil a Praiamar. As duas empresas atuam na distribuição de bebidas e vem sendo apontadas na mídia nacional (aqui) como “laranjas” para os repasses da Odebrecht a políticos.

Com o jamegão de Rosinha Garotinho e Benedicto Barbosa da Silva Júnior, só a primeira etapa do “Morar Feliz” rendeu mais de R$ 357 milhões dos cofres púbicos de Campos para a Odebrecht (foto de Antonio Cruz - Folha da Manhã)
Com o jamegão de Rosinha Garotinho e Benedicto Barbosa da Silva Júnior, só a primeira etapa do “Morar Feliz” rendeu mais de R$ 357 milhões dos cofres púbicos de Campos para a Odebrecht (foto de Antonio Cruz – Folha da Manhã)

No caso de Rosinha (aqui) e Clarissa (aqui), embora nas planilhas achadas na casa de Benedicto não conste o ano do repasse, investigação e defesa trabalham com o ano de 2012, quando a filha perdeu a eleição à Prefeitura do Rio, na qual foi vice da chapa de Rodrigo Maia (DEM), e a mãe se reelegeu prefeita de Campos. Não há em 2012 nenhuma doação direta da Odebrecht às duas, só ao PR e ao DEM, mas com valores diferentes. A revista “Veja” classificou os repasses como “bônus” e afirmou (aqui) que Rosinha recebeu R$ 1 milhão. Como o valor na planilha é registrado em 1.000, baseado na mesma aritmética, Clarissa, que aparece com 500, teria recebido R$ 500 mil.

Ex-secretária da Odebrecht, onde trabalhou de 1979 a 1990, Conceição Andrade deu uma entrevista ao “Fantástico” que foi ao ar no último domingo (27/03). Nela, afirmou sobre os pagamentos da empreiteira a políticos:

— Tudo isso era propina. Tudo que tem dentro, toda essa relação que existe nessa lista foi pagamento de propina, de caixa dois.

Após Benedicto assinar a primeira etapa do “Morar Feliz”, em outubro de 2009, com a prefeita Rosinha e Leandro Andrade Azevedo, outro executivo da empreiteira, somados os três aditivos de pagamento entre janeiro de 2011 e março de 2012, mais a assinatura da segunda etapa do programa, em 28 de fevereiro de 2013, a Odebrecht levou no total R$ 996.434. 912,43 dos cofres públicos de Campos — maior contrato da história do município. Entretanto, a parte final da obra foi abandonada por falta de pagamento.

 

Página 2 da edição de hoje (03/04) da Folha
Página 2 da edição de hoje (03/04) da Folha

 

Publicado hoje (03/04) na Folha da Manhã

 

Você é a favor ou contra o impeachment de Dilma? Por quê?

José Paes 2

 

Apesar das divergências ideológicas que nunca escondi, sempre mantive uma boa relação com os membros do PT Campista, quer seja pela qualidade dos seus quadros, quer seja pela pauta comum que cultivamos acerca das necessárias mudanças de rumo da política campista. Essa boa relação, contudo, não me faz fechar os olhos para a realidade nacional. Como afirmado por expressiva parcela do meio jurídico, inclusive por ministros do STF, há fundamentos jurídicos para o impeachment, instituto previsto no texto constitucional. Não se pode falar, portanto, em golpe. Isso não significa dizer, contudo, que me sinta à vontade com a ascensão do PMDB ao poder. Não é um cenário fácil, mas diante do caos político, social e econômico vivido pelo país, me parece que o afastamento da presidente é inevitável.

José Paes Neto, advogado e blogueiro

 

 

 

Sana Gimenes

O impeachment é um procedimento constitucional que pode e deve ser usado em um Estado de Direito em caso de cometimento de crime de responsabilidade. O pedido de impeachment que tramita atualmente na Câmara se baseia em uma suposta violação à legislação orçamentária por meio de duas práticas: o atraso nos repasses do governo aos bancos públicosque pagam gastos sociais e a abertura de créditos suplementares. Todavia, tais atos, além de serem legais, foram referendados pelo próprio Congresso Nacional e admitidos, até aqui,pelo TCU. Sendo assim, é forçoso reconhecer que o objetivo do impeachment é retirar o mandato de uma presidenta legitimamente eleita e sobre a qual não recai, até o momento, nenhuma denúncia de corrupção, em razão de uma insatisfação, essa sim legítima, em relação ao seu governo. Nesse sentido, o cenário é de um gravíssimo ataque à democracia, que é ainda mais preocupante, justamente, por se valer do insidioso manto da legalidade.

Sana Gimenes, advogada e socióloga

 

Fabio Bottrel — Resgate da Memória Sonora de Campos

Bottrel 02-04-16

 

 

“Pelos olhos o amor chega ao coração, pois os olhos são os guias do coração. Os olhos procuram o que o coração gostaria de possuir, quando estão de pleno acordo, os três em harmonia, nasce o perfeito amor, oriundo do que os olhos tornaram bem-vindos ao coração. Os verdadeiros amantes sabem, o amor é a perfeita bondade, que nasce sem dúvida do coração e dos olhos.”

Logo após escutar essas palavras de Joseph Campbell na célebre entrevista sobre O Poder do Mito concedida ao jornalista Bill Moyers(*1), conheci o Resgate da Memória Sonora de Campos, e não tive dúvidas, pelos ouvidos o amor também chega ao coração. Quando a canção beija os ouvidos, o corpo se emociona e agradece toda a beleza que os olhos não puderam ver. Fez pensar as histórias que ainda hei de conhecer, pelas notas, as paisagens, pelos versos, as lágrimas e os sorrisos dos poetas. Segui a migração das almas, discordei de Jung, aos sussurros das usinas moendo a esperança, escapei do preconceito da condição humana.

Carregado pela brisa, o som preencheu meu corpo de história e melodia, de “verde bonança dos canaviais. Era o caldo espumante, o refrigerante de um tempo demais.”(*2) Como nas  Heroides de Ovídio, meu coração suave é presa fácil dos que regam — sem água — a arte plantada nesse solo fértil(*3). Vozes, Goytacazes, levantam-se das terras molhadas de lágrimas, ouro negro usurpado em bolso branco dentro da noite se perdeu e encontrou com o passado, chorou.(*4)

Em tempo de banda com nome inglês, as cores da minha identidade não compõem essa bandeira sem pátria, minha origem está aqui onde os negros deram a vida, aqui onde os índios por muitos foram esquecidos. Não vendo a minha história a preço de banana, a nascente desse rio é minha voz, minha memória. O resgate sonoro de Campos é também o resgate da nossa alma acanhada, perdida há muito, por se sentir tão menosprezada.

Presente do meu grande amigo Helio de Freitas Coelho, cujo tempo dedicado a me apresentar a cidade e aconselhar se transformaram em conhecimento para toda a vida.

O Resgate da Memória Sonora de Campos é uma coletânea fonográfica em tributo ao passado musical da terra goitacá.

 

Realizado por Orfeão de Santa Cecília.

www.orfeaodesantacecilia.org

 

(*1)  Série de conversas entre Joseph Campbell e Bill Moyers, foram transcritas e transformadas em livro: O Poder do Mito.

(*2) Referência à faixa 01 do primeiro disco: Nossa Cidade. “O Gênio criador de Anoeli Maciel (1940 – 2005), associado à inspiração do poeta Luiz de Gonzaga Balbi, produziu este retrato nostálgico da paisagem campista, a um só tempo singelo e verdadeiro, de tocante beleza melódica. A gravação original tem o mavioso teclado de Anoeli Maciel acompanhando as brilhantes vozes de Magid Abud e Alba Valéria.” Extraído do livreto explicativo Resgate da Memória Sonora de Campos.

(*3) Referência às Heroides de Ovídio, XV, 79-80. “Meu coração suave é fácil presa das flechas ligeiras, e por isso estou sempre amando.”

(*4) Referência à Faixa 08 do segundo disco: Dentro da noite. “A cantora e compositora Neuza Pinto Pessanha foi musicista de muita inspiração, sobretudo quando tratava a temática noturna, recorrente em suas românticas composições, tendo sido este samba-canção, Dentro da noite, uma das peças mais marcantes em sua carreira. A interpretação é da versátil cantora Alba Valéria, sobre o piano de Luiz Reis.” Extraído do livreto explicativo Resgate da Memória Sonora de Campos.

 

Você é contra ou a favor do impeachment da presidente Dilma? Por quê?

Adriano Moura 1Sou contra o impeachment por várias razões. Primeiro por não confiar nas motivações  e intenções de alguns segmentos que o reivindicam. O inconformismo com o resultado das eleições é muito maior do que a vontade de combater a corrupção. As pedaladas fiscais servem de justificativa, mas o que está em jogo é um projeto de governo que, com todas as suas mazelas, não muito diferentes de seus predecessores, conseguiu iniciar um processo de redução de uma desigualdade social abissal que sempre caracterizou o Brasil. Outro motivo é que um impeachment  sendo conduzido por  réu acusado de corrupção e lavagem de dinheiro e por uma comissão que conta com 34 investigados pelo STF simplesmente não merece a menor credibilidade. É como convocar o comando vermelho pra ajudar a combater o crime organizado. Antes de tirarmos a presidente, precisamos de outro Congresso. Isso só em 2018.

Adriano Moura, poeta, dramaturgo e  professor do IFF

 

 

Hamilton Garcia

 

Sou a favor, porque ninguém pode estar acima da lei, sobretudo quando se é representante do povo, autoridade pública. Um país pobre, para sair da pobreza, precisa da colaboração entre os cidadãos e, principalmente, do incentivo do Estado para realizar esta colaboração. O Estado não pode sabotar, mas precisa promover esta situação. Foi isto o que se fez nas revoluções democrático-burguesas que varreram a Europa a partir do séc. XVII. A começar pela Inglesa, que se chocou com o Absolutismo monárquico em nome do direito do cidadão controlar o uso que o monarca fazia dos recursos privados que lhes extraía. No Brasil, infelizmente, em pleno séc. XXI, isto ainda é considerado por pessoas que se dizem progressistas como “insuficiente para interromper um mandato popular conquistado nas urnas”.

Hamilton Garcia, cientista político e professor da Uenf