Desde que Michel Miguel Elias Temer Lulia (com i mesmo, não confundir) chegou à Presidência da República sob muitos protestos de uns e alguns aplausos de outros, especulação é o que não falta sobre o futuro do Brasil com este (assim nem tanto) novo governo. Há quem diga que ele veio para ficar até 2018, período que se encerraria o mandato da presidente afastada Dilma Rousseff que responde no Senado Federal a um turbulento julgamento de impeachment, acusada de crime de responsabilidade. Golpe para uns, processo legal para outros, só teremos o desfecho dessa guerra de tronos em até 180 dias. Se pararmos para analisar, Temer já é presidente há muito tempo. Desde 2001 preside o PMDB, maior e mais influente partido do país, além de ter presidido a Câmara dos Deputados por três mandatos. Já Dilma, que se “casou” com Temer em 2010, parece ter se esquecido que nessa “aliança” que o PT promoveu, o “dote” maior sempre foi o do “noivo” com origens familiares do Líbano.
São cerca de sete milhões de descendentes de libaneses que vivem no Brasil, quase o dobro da população atual do Líbano. País com mais de sete mil anos de História, o Líbano é um dos berços da civilização antiga, já passou por inúmeras ocupações, guerras, e segue sob tensão política e iminentes conflitos em seu território e com os vizinhos nervosos e barulhentos do Oriente Médio. Na última semana, o jornalista Guga Chacra, correspondente em Nova York da Globonews e do jornal O Estado de São Paulo, que também é de ascendência libanesa, destacou no programa Em Pauta, alguns nomes da política e da literatura brasileiras que possuem raízes no Líbano. Entre os citados por ele estavam os escritores Raduan Nassar e Milton Hatoum, além dos experientes políticos Espiridião Amin, Geraldo Alckmin, Paulo Maluf, Fernando Haddad e Anthony Garotinho (Matheus), que assim como Michel Temer, todos se orgulham da ascendência libanesa. Em Campos, ainda é possível escutar alguém falando árabe por aí ou em algum comércio tradicional da cidade.
O Líbano está sem presidente da República há quase dois anos devido a conflitos políticos internos. Lá, por lei, todo presidente tem que ser cristão maronita, o primeiro-ministro muçulmano sunita e o porta-voz do parlamento muçulmano xiita. Acordo alcançado desde 1943, quando o Líbano deixou de ser colônia da França (aliás, dizem que Beirute é a Paris do Oriente). Parece exemplar essa tolerância e arranjos entre as religiões que descendem de um hebreu, o patriarca Abraão, mas não sejamos ingênuos: a tensão (ou traição) política, mesmo em país laico, passa por credos e vai além destes. Quem assume atualmente a presidência interina do Líbano é o primeiro-ministro Tammam Salam. Curiosa essa interinidade perpétua dos governos do Brasil e do Líbano nestes dias incertos. Quando chegou ao Palácio do Planalto, Michel Temer ganhou festejos e celebração na vila onde seu pai nasceu. Não sei se Temer é cristão maronita ou muçulmano de alma (há relatos de desconstrutores de imagem e personalidade de plantão na internet que ele é satanista), mas deve ser um homem de fé e obstinado, com certeza, pois está de pé. Ainda. Na política, muitos falam em nome de Deus, mas fica evidente, quase sempre, que esse negócio tem mais a ver com o inferno ou com o diabo, cá entre nós.
Bom libanês que se preza faz alguma relação de sua resignação e patriotismo com o Cedro do Líbano, árvore-símbolo que estampa a bandeira nacional. Acho que a primeira vez que ouvi falar do Líbano foi lendo textos bíblicos. O tal cedro aparece em várias menções, com destaque para alguns poemas do livro dos Salmos. Uma vez estive em Segóvia, Espanha, e pela primeira vez fui apresentado à árvore majestosa. O cedro é imponente, símbolo de força e eternidade. Nos primeiros três anos de vida cresce apenas cinco centímetros, mas suas raízes nesse período já atingiram um metro e meio de profundidade. Só depois de quarenta anos, o cedro produz sementes. A arvore pode alcançar quarenta metros de altura. No Salmo 92 se lê: “O justo florescerá como a palmeira; crescerá como o cedro do Líbano. Os que estão plantados na casa do Senhor florescerão nos átrios do nosso Deus. Na velhice ainda darão frutos; serão viçosos e vigorosos”. Mudando de assunto rapidamente, os alquimistas estão chegando, segundo Jorge Benjor. Os libaneses também.
Fico pensativo sobre quem seria esse “justo” que o salmista sugere na política. Nas biografias dos nossos libaneses como Garotinho (que já concorreu à Presidência da República e é o atual presidente estadual do Partido da República), e sua esposa, a linda prefeita Rosinha, também de origem libanesa (ela é Assed), percebemos que suas raízes têm se espalhado fortemente (seja para o bem ou para o mal, dependendo de cada ponto de vista). Temer e Garotinho são admiráveis e natos líderes, é visível (mas há quem discorde disto). Um mais diplomata e sutil e o outro mais passional e sanguíneo. Além de libaneses, o casal de ex-governadores do Rio de Janeiro tem lá atrás um histórico de ligação com Michel Temer (e qual político não tem?), pois também já passaram pelos quadros do PMDB. Desconheço o fato de que os três, Rosinha, Garotinho e Temer, tenham plantado cedros no Brasil, mas muita expectativa e polêmica têm sido plantadas abundantemente por muitos políticos na história recente do país. Esparramam-se mais céleres que as raízes poderosas da árvore simbólica, mais parecidos com o descontrole e pragas de ervas daninhas. Quanto tempo durarão? Coisas da política além-Líbano, além-Brasil, acima de qualquer botânica suspeita. SallamAleikum.
A maior colônia libanesa do estado do Rio de Janeiro é em Campos dos Goytacazes, o primeiro Clube Sirio Libanês do país foi em Campos dos Goytacazes.
Hoje a ASSOCIAÇÃO CULTURAL LÍBANO GOYTACÁ fundada em 2014, para resgatar a cultura libanesa no nosso município.VIVA O LÍBANO!