Da Grécia a Campos dos Goytacazes, o mundo dos homens e o das ideias

Foz do Paraíba do Sul, no último sábado (16) de Atafona (foto de Aluysio Abreu Barbosa)
Casario no entorno da foz do Paraíba do Sul, no último sábado (16), em Atafona (foto de Aluysio Abreu Barbosa)

 

 

Eu e as torcidas juntas do Olympiakos e do Panathinaikos, principais clubes gregos de futebol, já escrevemos sobre a diferença básica entre as escolas de pensamento do ateniense Platão (428/348 a.C.) e seu discípulo de Estagira, Aristóteles (384/322 a.C.).

Muito marcada pela influência do seu mestre Sócrates (469/399 a.C.), na filosofia de Platão o principal era o mundo das ideias. Daí sua grande influência no Cristianismo, já na Antiguidade Tardia (300/ 476 d.C) e por toda a Idade Média (sécs. V a XV d.C.), a partir do neoplatonisno aproximado com a religião pelo teólogo e santo católico Agostinho de Hipona (354/430 d.C.).

Já a Aristóteles se deve a própria segmentação da filosofia grega em ciências particulares, a partir da enciclopedização do conhecimento produzido desde Tales de Mileto (623/543 a.C.), considerado primeiro filósofo. Filho de um médico, o pensamento de Aristóteles era mais voltado ao homem que à alma. Ainda assim, foi nele que outro santo católico e pensador da fé, Tomás de Aquino (1225/1274), buscou basear sua teologia cristã, tomando por exemplo o que Averróis (1126/1198), dentro da Europa, já havia feito no islamismo.

Dia considerado sagrado para muitos, o domingo, ontem, reservou uma boa surpresa para quem acha que política e fé devem jamais se misturar em conteúdo, tampouco em forma. Se o advogado e publicitário Gustavo Alejandro Oviedo, argentino caído em Campos, tem se revelado na circunscrição goitacá das redes sociais um defensor do liberalismo político e econômico, além de crítico contumaz dos regimes de esquerda na América do Sul, ele encontrou aqui, nos cometários das suas postagens, um respeitável (em todos os sentidos) adversário: George Gomes Coutinho, professor de Ciências Sociais da Universidade Federal Fluminense (UFF) em Campos.

Naquilo de melhor que as redes sociais têm reeditado da ágora grega, berço da democracia que sempre destaco como “irrefreável” em sua expressão virtual, lendo atentamente cada um dos comentários de Gustavo e George, em dado momento fui involuntariamente teletransportado à ágora real de Atenas.

Afinal, quem falava era Alejandro, mas soava (aqui) a Aristóteles:

— eu justifico o existente, você justifica o que não existe.

E respondeu Coutinho, como se ecoasse (aqui) Platão:

— eu prefiro o não existente por uma questão moral.

A discussão não teve fim na Grécia Antiga, logo depois esticada pelo rei Alexandre da Macedônia (356/323 a. C.), aluno de Aristóteles, até o rio Indo, na Índa. E, mais de 23 séculos depois, convenhamos, seria uma pretensão amazônica se conhecesse sua foz conosco, nesta terra de planície parida e cortada pelo Paraíba do Sul.

Mas enquanto seguir seu curso no nível mantido por Gustavo, George e alguns outros participantes, num debate instigante que afluiu em dezenas de outros comentários, também pelo dia de hoje, ainda há esperança de que possamos atravessar essas águas agitadas sobre as quais navegam o Brasil e o mundo, desembarcando no porto do outro lado como naquele em que entramos: diferentes, mas juntos.

 

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Este post tem um comentário

  1. SAVIO

    Taí, gostei da “discussão”, de modo inteligente e com classe. Gente civilizada e culta procede deste jeito.

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