Era uma quinta-feira. Dezesseis de junho de 2016. Vinte e três anos antes, a família comemorava o nascimento de uma menina. Branca. Excessivamente branca, para desgosto da mãe morena. A mulher contava que a criança era tão bonita que encantou a médica. A profissional a apresentou à mãe horas depois do nascimento, quando esta se assustou com a cor inesperada.
Naquela noite, o pai foi para a casa de sua tia, tia-avó da bebê, para compartilhar a alegria do segundo filho. O primogênito tinha seis anos e, ao conhecer a irmã, exclamou: “mãe, a sua filha é linda”. O homem estava contente com a nova cria. Falava sobre ela. Tinha orgulho da menina branca e bonita que a esposa acabara de entregar ao mundo. Todos comemoravam a vida dela, que se tornou uma criança alegre e séria, uma adolescente emburrada e uma adulta tida como forte. As graças futuras renderam risadas aos parentes.
Vinte e três anos se passaram. No dia de seu aniversário, acordou satisfeita. Gostava, nesses momentos, de ver o tempo passar. Tinha um dia de trabalho pela frente e uma noite para festejar com os que lhe eram caros. Durante o dia, recebeu uma ligação. Era a tia-avó, uma mulher sincera e de personalidade marcante a quem ela admirava e amava.
Após os desejos de feliz aniversário, saúde e paz, conversaram um pouco antes do término da ligação:
— Você é minha sobrinha favorita. Minha casa sempre estará aberta para você.
— Que honra, tia! Fico muito feliz por saber disso.
Meses antes, a aniversariante havia lançado um livro de contos. A tia compareceu, parabenizou e, tempos depois, comentou com a sobrinha sobre a obra, da qual gostou.
— Até que você dá para escritora — e ambas riram. Havia afinidade, carinho e respeito na relação. Elas conversavam sobre diversos temas: de política ao cotidiano, passando por casos de família e rotina profissional. Mais do que tia e sobrinha, eram amigas.
No dia dos 23 anos, ela comemorou com amigos e família. Mas a data foi marcada pelas palavras sinceramente carinhosas da tia-avó, que também é a sua favorita.