O título desta crônica é inspirado em uma dessas postagens de redes sociais, sem autoria confirmada, mas que, de qualquer forma, me deixou pensativo desde que li pela primeira vez a frase “o homem faz planos e Deus ri”. Escrevo este texto no fim de tarde do primeiro dia de 2017 com uma ponta de frustração. Planejei terminar 2016 em casa de amigos na praia, onde iria ver queima de fogos e molhar os pés no mar, quem sabe até um mergulho, queria rir, meditar, avaliar o tempo, mas nada saiu como imaginara. Adoeci feio. Só me restou ficar de cama entre vômito, diarreia e dores abdominais. O lado oculto e merdístico da Força tem dessas surpresas. É a vida real.
Prostrado e em jejum, passei o dia 31 de dezembro na cama com vários intervalos de sono e delírios, talvez. Não demorou muito, me espantei, e já era tarde da noite. Pela televisão, acompanhei aquelas tradicionais festas de fim de ano, contagem regressiva, shows musicais, muita energia positiva gerada pela expectativa de uma alteração numérica no calendário. Não me queixo de 2016, mas particularmente, este último dia do ano que passou (mas que ainda não acabou e vai demorar acabar, garantem especialistas políticos e econômicos) me causou estragos físicos. A roupa da virada na praia seria túnica indiana branca, bermuda cáqui e cueca vermelha, mas que acabou sendo substituída pela samba-canção xadrez. Se desejei feliz ano novo? Sim, principalmente para mim, moribundo.
Alguns não entendem quando digo que para mim todo dia é Natal e Ano Novo, pois penso que a solidariedade, o amor e a confraternização devem se manter todo o tempo; e que festejar cada dia de vida merece fogos de artifícios (que não deveriam fazer tanto barulho e afligir os animais) desde a hora que eu acordo até a hora que durmo. Quando alguém sai vivo de uma tragédia ou de uma grave dor de barriga ou virose inexplicável como eu, merce dobrar o número de explosivos coloridos no céu para comemorar. O ano de 2017 fez muita gente vibrar pelas grandes festas privadas ou coletivas, mas nos primeiros minutos do primeiro dia do ano novo dezenas de pessoas foram mortas numa boate em Istambul por um terrorista. Na cidade de Campinas, um homem matou doze pessoas que estavam celebrando o réveillon em casa, e depois suicidou-se. O primeiro ataque seria por motivos de fanatismo religioso e político. Já no segundo caso, o atirador quis se vingar da ex-mulher com quem disputava a guarda do filho adolescente, segundo a imprensa. É a vida real outra vez.
Como percebemos, a vida não é feita só de roteiros prontos, estamos quase sempre fugindo do script. A náusea e a ressaca do ano velho de ontem ainda permanecem em nós, e devem durar um longo período, mesmo que não queiramos pensar nisto (pelo menos na comemoração ilusória que gostamos de participar em festas da virada). Só no Brasil, mais de cinco mil prefeitos passaram a governar cidades desde o dia 1, alguns eleitos pela primeira vez para o cargo. É o caso de Rafael Diniz, prefeito de Campos dos Goytacazes que foi aclamado pelo voto popular derrotando a poderosa família Garotinho composta por dois ex-governadores e uma deputada federal. Muitos eleitores fizeram planos, além de todos os políticos que disputaram. Resta saber quanto tempo dura o riso de quem venceu, e quem vai rir por último nesta era conturbada em que o país se encontra. Acreditar em mudanças é desejo de muitos brasileiros. Mudar para melhor é outra meta. Mas como mudar sem pagar o preço exigido por sacrifícios quase sempre? Quantos estarão dispostos? Brasil em chamas de realidade, ilusão e desilusão.
O preço a pagar é alto nos impostos, nos gastos pessoais, nos investimentos que precisam ser feitos, mas que são ameaçados pelo desemprego e por uma economia cambaleante, por serviços públicos ruins e em colapso, sobretudo nas áreas da saúde, educação e segurança. Precisamos urgentemente de um ano novo, de muito ânimo novo para enfrentar o caos que ameaça a todo instante cidades brasileiras como Campos. Aliás, o caos ameaça também países ricos da Europa, Ásia e os Estados Unidos. Afinal, “miséria é miséria em qualquer canto”, como afirma a letra da canção composta por Arnaldo Antunes, Paulo Miklos e Sergio Britto para a banda de rock Titãs. E esta miséria humana é o grande desafio para todos os povos e governantes de qualquer nacionalidade. A onda de otimismo que percorre o mundo por cerca de treze horas na virada de ano novo também passa, e a vida segue com os mesmos problemas e transtornos de anos anteriores. É a realidade dos fatos.
O ano de 2017 é o Ano do Galo na tradição chinesa. Por sinal, sou do signo de Galo no horóscopo chinês. É o meu ano, arrisco dizer, tipo: ou tudo ou tudo. Andei lendo por curiosidade as previsões astrológicas do Galo, e apesar de ser um ano de energia empreendedora, será um ano de muita cautela e diplomacia na política, devendo-se evitar envolvimento em polêmicas, garantem (o que acho impossível de se concretizar) os especialistas. No amor, quem estiver livre, será o ano da explosão sexual e das conquistas avassaladoras (já estou me preparando). Quem já está comprometido, será o ano para solidificar as relações afetivas e matrimoniais. Se eu creio nestas coisas? Sim, por que não? Entretanto, ainda fico com a máxima que Deus ri de tudo quando se trata de planos e projetos dos homens e mulheres, mas especulo que também Deus fica triste quando destruímos sonhos e vidas neste planeta. O futuro recomeçou para quem ainda vive. Coragem.
“Para cima do perigo coragem”
Eis a minha máxima e eu recomendo