Sabemos que o dinheirinho nosso de cada dia é suado e limitado: por isso tem grande valor e devemos usá-lo com equilíbrio. Assim, qual de nós, sem ter tido aumento de salário ou renda, ousaria passar a gastar mais sem qualquer preocupação? Mesmo acumulando desejos e adiando necessidades, evitamos qualquer passo nesse sentido por causa de uma coisa chamada responsabilidade. É por causa dela que, quando acontece de gastarmos além da conta, corremos a segurar despesas para reorganizarmos nossas finanças — pelo menos será este o conselho que pessoas responsáveis nos darão. Se você acha que isso é lógico, reflita sobre o que nossos governantes têm feito com o dinheiro público e (re)pense se tem cabimento sair por aí gastando como se não houvesse amanhã.
Por razões culturais — mais do que por justificáveis necessidades —, o brasileiro parece desejar e/ou supor que o dinheiro público brote como chuchu na cerca num latifúndio da Casa da Moeda. A consciência de que o Estado só tem para gastar o que nós pagamos de impostos ainda é rara. Além disso, costuma-se esperar que o Estado se responsabilize pela tutela de grande parte de nossos desejos e necessidades. E pior, enquanto isso: o dinheiro público costuma ser visto como sendo de ninguém — embora devesse ser encarado pelo que é: o suado e limitado dinheiro de todos nós. Então, se não podemos fazer milagres no orçamento doméstico, como esperar que o governo possa fazer no dele — especialmente para atender demandas que nem deveria?
Aliás, o debate sobre o papel do Estado precede as discussões sobre seu desempenho. Sem entrar nesse mérito, até porque este espaço é limitado como o nosso dinheiro, precisamos primeiro separar desejos de necessidades, encarando o atendimento das últimas com racionalidade e dentro das possibilidades do mundo real. O contrário é o que o alcoólatra faz: beber irresponsavelmente até espremer a garrafa — e sem jamais se satisfazer. Isso porque mesmo todo o dinheiro público não é suficiente para cuidar de todas as necessidades. É urgente que a sociedade compreenda as limitações orçamentárias, exija que se faça mais com menos e reconheça que precisamos de gestores eficientes sem imaginar, com culpa indevida, que isso nos transformará em pessoas insensíveis.
Não, ninguém se tornará (nem deve se achar) insensível por defender controle de gastos mesmo sabendo o imenso tamanho da demanda social, reprimida há séculos, por atendimento nos serviços públicos – e acho que o Estado tem que satisfazê-la no que lhe compete. Infelizmente, nem a imensidão das necessidades, nem o tamanho da nossa sensibilidade, nem nosso desejo de melhorar a vida do próximo farão crescer dinheiro onde for preciso. A gastança irresponsável (não falarei aqui da corrupção) produz o resultado inverso: a falência pública e a consequente piora dos já ruins serviços oferecidos.
Foi assim que o caos nos chegou em três esferas: Campos vendeu seus futuros royalties para tapar buracos nas contas, não nas ruas — enquanto a Educação não passa na mais rasa das avaliações, a Saúde nem encontra vaga na UTI e a máquina pública, ficando sem combustível… vai parando enquanto acumula defeitos. Por sua vez, o Estado do Rio enlouqueceu aumentando despesas 45% acima de uma arrecadação decrescente nos últimos anos e agora atrasa até salários com a cara de quem parece não saber o que aconteceu — todo mundo sabe. Já o governo federal… movido por uma ideologia que eu reputo, no mínimo, equivocada (além de interesses imediatistas, eleitorais e partidários), produziu foi atraso social enquanto jurava fazer o contrário — afinal: nos incentivou a provar o doce, mas nos impediu de avançar para a segunda mordida (isso pra não dizer que enfiou o dedo na nossa goela pra devolvermos o que já tínhamos engolido). É evidente que vivemos cercados de péssimos e irresponsáveis administradores. Mas como mesmo chegaram aos seus cargos?
“A hora de consertar o telhado é quando não está chovendo”, se diz popularmente. E o que fizemos? Ignoramos os avisos e, não bastasse: ainda quebramos mais umas telhas achando — irresponsavelmente — que a tempestade nunca viria. Num mundo tão precisado de formigas, fomos cigarras — para o horror não só de La Fontaine. Já foi dito que “a política é a arte do possível” (Bismarck — chanceler alemão) e que “a economia é a administração da escassez” (junção que abreviei das definições de Robbins, mais alinhado ao pensamento de Mises, e de Samuelson, um pensador a la Keynes — economistas de visões divergentes). Óbvio: nem tudo é possível porque não há recursos suficientes. É a administração responsável desses limitados recursos, com a priorização das urgências e necessidades — e sem a perda de uma perspectiva humanista –, que caracteriza uma boa gestão pública.
Então, por que políticos são aplaudidos e eleitos prometendo uma fartura impossível? Por que a sociedade não se toca de que o Estado, visto equivocadamente por muitos como um desejável grande provedor de tudo – mas percebido corretamente por tantos como o provável garantidor de quase nada –, só é eficiente em nos infantilizar, por nos tirar autonomia e tolher nossa iniciativa; e em nos condenar à mendicância, por nos manter dependentes do que ele não é sequer minimamente capaz de entregar? Por que aceitamos trocar nossa independência como indivíduos pelos favores distribuídos a quem se torna “amigo do Rei”? Temos medo de crescer? Continuaremos apostando no milagre da multiplicação infinita das verbas? Vamos continuar achando que a racionalidade econômica e a responsabilidade individual são inimigas da solidariedade e da preocupação social? Até quando?
O que nos têm impedido, como sociedade, de alcançar a consciência de que é alto, muito alto, o preço da irresponsabilidade?
Nossos políticos não diferem muito do brasileiro médio, irresponsável quanto aos gastos, perdulário quando há recursos e “chorão” quando vê a bolsa vazia. Esse hábito, seguido desde a colônia, transformou a todos em escravos das benesses que supõe ser direitos, sem que percebam que ao fim são as mesmas que apertam os grilhões postos pelo feitor populismo.
Quero saber porque ainda não foi rescindido o contrato de aquisição de livros escolares? Falta alguém ligar para Brasília para pedir os gratuitos?
Ou agora vão alegar que “não pode” ser assim?
Tudo foi dito com perfeição. Da Presidência da República ao mais simples município brasileiro, a irresponsabilidade, a incompetência e a corrupção desembocam no mais básico: __ A má escolha dos políticos que nos representam!
Mas, não podemos ser hipócritas e nem sequer temos o direito de bancar inocência! Sem a menor dúvida, a “máquina” que alimenta as eleições para que corruptos sejam eleitos, é muito forte! O pobre coitado, aquele que leva 3 anos e 11 meses no sufoco, quando chegam as eleições vai tirar “vantagem” (coitado!) daquele que o oprime. E permanece o mesmo “ciclo” que irá realimentar este processo.
O caso de Campos é clássico, é “padrão”! Tanto que é que gastaram com irresponsabilidade, um empréstimo para cobrir o outro, idéias mirabolescas de um alucinado, péssimo administrador e a cumplicidade da esposa, secretários e vereadores manipulados.
O texto é claro, já disse tudo, só não enxerga quem tem outros interesses!
O prefeito de Campos Rafael Diniz lançou um pacote de medidas para conter a crise, porém continua nomeando centenas de DAS para cumprir acordos políticos.
Na mesma sexta-feira, quando anunciou as 10 medidas, incluindo reforma administrativa e cortes de RPAs, o prefeito nomeou mais uma grande leva de DAS.
Diferente do discurso, o novo prefeito estaria enganando alguém quando anuncia reforma administrativa e ao mesmo tempo continua nomeando cargos comissionados. Ou os novos DAS serão usados por alguns dias, ou o prefeito engana a população de Campos com esse discurso de austeridade.