Rogério Siqueira — Favela Vive!

 

(Reprodução)

 

 

Estava preparado para lançar aqui neste espaço palavras sobre a cena alternativa de Campos,  suas bandas e a importância do momento na construção de uma identidade regional. No entanto não pude pensar em outra coisa,senão, a execução sumária de dois homens por policiais em uma operação em Costa Barros no Rio de Janeiro, somado a morte por bala perdida de uma estudante de 13 anos na mesma área no decorrer da troca de tiros.

Aquelas cenas fortes, que embrulham o estômago até dos mais insensíveis, demonstra com riqueza de detalhes, aquilo que a sociedade do “bandido bom é bandido morto” produz em seus discurso raso, que remonta os princípios da Lei de Talião.

Execuções como essas de Costa Barros são mais comuns do que se pensa, e mais cruéis do que um vídeo snuff pode mostrar. Tribunal de Rua foi o jeitinho brasileiro para instituir a pena de morte. É o Estado brasileiro dizendo que falhou na política de segurança pública. Falhou com a sociedade em servir e proteger, e falhou com próprios policiais que são obrigados a trabalhar em condições desumanas, tendo formação incipiente, por salários risíveis, em uma realidade de guerra.

E tudo isso, assim, não justifica a execução. O agente de segurança  pública do Estado age em nome do Estado e não pode, sob hipótese alguma, assumir as funções de advogado, promotor e juiz. Seguir essa linha de atuação aumenta ainda mais o extermínio da população negra que é endêmico no Brasil. Cabe aqui ressaltar que de acordo com o último censo do IBGE, 63% dos moradores de favela no Estado do Rio são negros. E não por acaso os que mais morrem .

Rogo para que passemos a entender a questão da violência com a honestidade intelectual devida, pois pobreza no Brasil tem cor, e está morrendo muita gente. A estratégia de segurança pública tem que estar inserida no bojo da estratégia de cidadania e direitos humanos, e não o contrário. Para que paremos com a política do Mal Entendido. De sindicâncias infindáveis. De notas oficias. De autos de resistências. De casos isolados. É mal entendido demais que não cabe no necrotério.

Deixo aqui aquilo que considero a elegia suprema de Wilson das Neves que serve de recado, e parece ser premonitório. Sobre música falo da próxima vez.

 

 

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Este post tem um comentário

  1. José Luis Vianna da Cruz

    Muito bom.

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