Quase fim de dezembro, numa noite curiosamente fria, em Atafona, encontrei Rafael Diniz. Era confraternização entre poetas e artistas da cidade na casa de nosso amigo em comum. Eu nunca estivera, nem falara com o prefeito eleito antes desse encontro. Quando fomos apresentados, ele disse meu nome. Surpreendeu-me (devia ser conhecido do jornalismo, pensei). Eu o parabenizei pela vitória, chamei-o de prefeito e pelo pronome“senhor”. Ele pediu para que o tratasse como Rafael e “você”. Eu lhe respondi ter dificuldade de falar com autoridade assim, informalmente. Prometi que, quando ele não fosse mais prefeito, passaria a tratá-lo como uma pessoa comum. Ele riu.
Durante conversa em grupo, falamos de seu avô, o ex-prefeito Zezé Barbosa. Contei-lhe uma história sobre meu primeiro emprego aos treze anos de idade, o qual devia a Zezé (mesmo que indiretamente) a oportunidade de começar a trabalhar (um dia conto essa história em detalhes). O prefeito eleito demonstrou interesse pelas minhas memórias em que o avô aparecia de modo grato e lírico. Zezé Barbosa sempre foi um nome emblemático da política campista, considerado pelos mais jovens à época de seu governo, como uma figura conservadora e opressora. Outros tempos. Embora, seu sucessor, oponente e desafeto, Anthony Garotinho, tenha se mostrado tanto ou mais conservador e opressor em diversos momentos na política regional e nacional. Viramos a página? E agora, Rafael? Outros tempos.
Meu voto em Rafael Diniz não foi por convicção, mas por desespero. O poder deve ser alternado sempre: é democrático, é saudável. Os quase 30 anos de garotismo (com dublagens de Mendes, Arnaldo, Pudim, Campista, Mocaiber, Nahim e Rosinha) para Campos, podem ter alcançado frutos em algum momento, mas o governo e as instituições municipais nesse período se tornaram praticamente “propriedade particular”. Alguns grupos se apoderaram do dinheiro público e de royalties bilionários do petróleo (ou seja, patrimôniode todo o cidadão que mora neste munícipio) “investidos” em obras, gastanças, ações duvidosas e questionáveis. E como tudo na política é mesmo questionável e transitório, acredito, é a vez de a sociedade trazer o novo prefeito de Campos para o olho do furacão e para arder em fogueiras. Nas redes sociais vemos uma ciberinquisição, e pelas ruas, uma neo-inquisição surgindo. Descontentes a fim de desconstruir, de algum jeito, a imagem do novo governo. Nas mídias digitais são frequentes.
No único encontro com o prefeito Rafael, tivemos alguns minutos de conversa somente eu e ele. Foi então que perguntei sobre sua vida pessoal, se era casado, se tinha filhos, sua formação profissional; citei alguns amigos nossos em comum que sempre me falaram bem dele como pessoa. E fiz uma pergunta incômoda ao prefeito: se quando passassem os 100 primeiros dias de seu governo, se ele estaria preparado para o fim da lua de mel com os eleitores e apoiadores de sua campanha vitoriosa. Ele foi rápido e objetivo na resposta. Disse que tinha plena convicção dos desafios e rupturas que estariam por vir; das críticas e condenações que poderia receber; dos riscos inerentes à política e à governabilidade. Gostei dele. Nunca mais vi, nem falei com o prefeito. Saí do encontro otimista quanto ao futuro de Campos. Hoje é o centésimo primeiro dia da administração Rafael Diniz. Se mudei de opinião? Ainda não.
Gosto de brincar com os números, os astros e as coisas ocultas. Por exemplo, o número 23 do PPS (Partido Progressista Socialista), sigla à qual pertence Diniz, no tarô, é a carta do Lavrador. Um sinal? Campos dos Goytacazes, terra de ascensão e queda da cultura da cana de açúcar, parece que necessita voltar urgentemente para sua antiga vocação econômica, e ampliar a lavragem em todos os aspectos sociopolíticos e agrícolas (embora parte da população ainda prefira soluções rápidas, fáceis e miraculosas que nunca existiram em gestões passadas, e que assim, infelizmente, permanecerão). Acho que somos incompetentes quando delegamos todo o poder aos políticos. Hesito ao especular quem é mais incompetente: se o povo que elege mal ou,se o mau político eleito. Campos é um município tão vasto e complexo. Mudá-lo para melhor, desafiador. Já o Brasil, desafio eterno…
Rafael Diniz é do signo de leão, nasceu em 13 de agosto de 1983. Foi em um 13 de agosto que também nasceu Fidel Castro, o líder da revolução cubana. O primeiro, eleito. O segundo, tomou o poder e perpetuou-se nele por mais de meio século até sua morte recente. Consultando um site de astrologia, fico sabendo sobre os que nasceram nesse dia 13 de agosto serem regidos pelo número 4 (aliás, são quatro os anos de mandato) e por Urano, que com frequência indica comportamento errático e pouco convencional em pessoas que tendem a ser difíceis; são argumentadores que têm uma visão própria, bem diferente da dos outros. O número “4” tradicionalmente representa revolta, crenças idiossincráticas e desejo de mudar as regras. O número “13” considerado de azar por muitos, é, ao contrário, um número poderoso, que carrega consigo a responsabilidade de usar o poder com sabedoria ou atrair autodestruição. Segundo a astrologia, os nascidos neste dia têm uma certa atração pelo perigo, em vencer grandes desvantagens. Alcançar o impossível é o que querem, e mesmo os tímidos, em geral, rejeitam uma vida sem desafios onde a segurança está garantida. No tarô, 13 é a carta da Morte. Seu significado raramente é literal, mas representa largar o passado para superar limitações. Confesso que gostei muito de brincar de mapa astral com essa leitura sobre o pré-destino ou destino de Rafael Diniz, escrito nas estrelas do ciberespaço.
Crenças e lendas à parte, uma coisa presumo afirmar: nossas vidas estão em jogo, assim como o recém-nascido governo Rafael Dinizque assumiu uma estrutura de poder cheia de vícios e minas detonáveis que podem explodir a todo instante, e levar-nos todos nós pelos ares, mutilando-nos ou matando-nos de um jeito ou de outro. É o risco que se corre, seja na política, seja em qualquer circunstância de vida. Dizem que todo o político mente, contra ou a favor de qualquer coisa. O eleitor, ao meu ver, também mente. Mente para si mesmo, inclusive. Algumas mentiras são por pura sobrevivência neste mundo-cão. Se tem perdão? Hum, talvez. Poder com mentira vai de Trump a Pezão; de Merkel a Temer; de Lula a FHC… a lista é extensa. Ser honesto na política, dizem, é possível. Só não sei por quanto tempo.
A população brasileira ainda não sabe lidar com o poder que tem, com a democracia que tantos defendem na ponta da língua, mas que na prática é penosa, e às vezes, apenas uma expressão desgastada. Elegemos políticos que nos dilapidam e nos afundam, não convertem os altos impostos que pagamos em benefícios básicos de saúde, educação e segurança (só para citar alguns exemplos simples). Elegemos a nós mesmos quase sempre.
Campos é o Brasil cheio de mazelas, jeitinhos, mediocridades, intrigas, fofocas, traições e vantagens pessoais priorizadas. Até quando? Bem, particularmente, acredito que os resultados do novo governo Rafael Diniz só começarão a aparecer após o primeiro ano ou depois do segundo ano de mandato. Parece muito? E o que são 100 dias? “O tempo é muito longo para os que lamentam”, segundo Shakespeare. Vencer Rosinha em um turno de eleição apenas demonstrou o nível de insatisfação da população com a gestão da ex-governadora e ex-prefeita. Ela ficou no poder por oito anos, Rafael está há menos de quatro meses. O futuro de Campos desconheço, mas o passado está aí para ser recuperado. Melhor não esquecer as coisas ruins.
Sabemos que velhas e novas raposas políticas estão em torno do prefeito Rafael Diniz. Alguns que se dizem desapontados ou escandalizados com demissões e nomeações (ou a falta delas) de pessoas para atuarem na gestão municipal em cargos de confiança com bons salários, é bom lembrar: nada dura para sempre. Nem cargos, nem governos. Pensar e agir pela coletividade, pelo bem de todos ainda parece soar estranho e incômodo para muita gente nesta cidade e neste país. Lamentável, pois temos tantas possibilidades de vida melhor impedidas por nossas corrupções. Até quando?
Se o prefeito ouve ou não os conselhos de políticos e gestores experientes, não cabe a mim julgá-lo ou condená-lo agora.O tempo nos sentencia. Pelo menos, a astrologia via Google dá o seguinte toque aos nascidos no dia 13 de agosto como Rafael Diniz e Fidel Castro:
“Faça o melhor com o que tem e nunca permita que o mundo o decepcione. Encontre outras pessoas com mesmo gosto e mentalidade. Cuidado com a raiva e as tendências tirânicas. Procure manter-se aberto e confiante; não se refugie demais em seu mundo particular”.
PARABENS !!!! SHOW
Ocinei, AINDA não”descobriram” você! Parabéns
Vera Cardoso
E agora o que dirá depois de 1.000 dias,
se tiver coerência dirá:
UMA VERGONHA !!!