Todos nascemos nus. Todos. Sem exceção. A nudez é nossa aparência natural e dura pouco, logo chegam as primeiras amarras – panos, mantas, roupas, botões… Mal se rompe o cordão orgânico e os brincos já estão nas orelhas, empoderando aquele pequeno ser de modernidade ou empobrecendo-o com a precoce oferta (imposição) material.
Mais tarde, as amarras são mais sérias – passam do material para o abstrato e ferem conceitos ainda não formados. A nudez raramente pode ser explorada, é logo erotizada, sexualizada e, portanto, condenada. Estar nu passa a ser um alívio para àqueles que percebem essas deturpações ou um tabu para aqueles que não percebem ou percebem mas se sentem protegidos/confortáveis no “pode/ não pode” social.
Pensando em unir, artisticamente, o natural e orgânico com o arquitetado e construído, surge o Nurbe – projeto artístico que registra voluntários nus em ícones do espaço urbano. Embora a ideia tenha sido concebida há três anos, pelo fotógrafo Kelvin Klein, recentemente uma foto gerou polêmica, elogios, piadas, deturpações e denúncias; até que o Facebook tirou a página do ar, que só pôde voltar quando retirada a referida foto.
Mas que foto é essa, meu “Bresell”? Tão passiva de dedos, medos e afins? Quando foi que a nudez se tornou assim tão significativa? Eu não sei, eu não percebi! Devo ser mesmo descendente goytacá, pois tal foto não me diz nada que eu não conheça. Há outras tantas fotos, com outros bumbuns, que assim como o meu e como o seu, são de carne e osso e devem ir ao banheiro todos os dias.
O cenário? O cenário é o centro da sua cidade, por onde você já andou várias vezes, nada demais. O que é realmente demais e faz com que o projeto tenha tantos adeptos (frequentadores das páginas e modelos voluntários) é, de fato, o conceito e as discussões que dele decorrem – até que ponto fomos separados da natureza e do natural? Em que esse afastamento nos prejudica? A arte, assim como a nudez, funciona como transgressões diante do retrocesso conservador que estamos vivendo? Por que a nudez incomoda? Por que ela liberta?
A estética das fotos também merece destaque, Kelvin criou uma linguagem, estabeleceu um diálogo pertinente entre as linhas do corpo e a linha do trem, entre as curvas da mulher e silhuetas de concreto, até entre o modelo fotografado e grafite ao seu lado pintado. Está tudo ligado! E poderia ser bem explorado, se machismo e tabu não reduzissem os olhares à seguinte questão: de quem é essa bunda?
https://www.instagram.com/projetonurbe/?hl=pt-br
https://www.facebook.com/pg/projetonurbe/about/?ref=page_internal
http://kelvinklein.com.br/projeto-nurbe/
Perfeito !!!