Invade-me um enorme alivio ver as delações dos executivos da Odebrecht. Observar como estes executivos reconhecem o esquema de corrupção gigantesco, que abarcou todos os principais partidos políticos que governaram o Brasil nos últimos 30 anos, me enche de satisfação.
É a satisfação que se tem quando se faz evidente aquilo que se ocultava. Isto é, a enorme roubalheira que alimentava o funcionamento do estado brasileiro, que todos imaginávamos, mas ninguém conseguia provar. Isso sim que era angustiante.
Pois somente um ingênuo poderia ter imaginado que os políticos ficavam ricos, depois de passar pela gestão pública, pela sua incrível capacidade em fazer bons negócios. E quando falo dos políticos não me refiro a todos, mas quase todos.
Não era razoável pensar que o Brasil é pobre, violento e subdesenvolvido porque esse é o nosso destino latino americano. Ou porque os países ricos nos exploram. Agora temos a confirmação: somos pobres porque somos corruptos – logo, somos ineficientes. E isto é uma excelente noticia.
Sim, é uma excelente noticia porque indica a solução: atacar a impunidade e aperfeiçoar os sistemas de controle para atingirmos um estado mais competente e menos dispendioso. O que resultará em recursos melhor aplicados sem a necessidade de continuar aumentando a carga tributária que, já não há dúvidas, hoje é utilizada para manter os luxos da única oligarquia brasileira: a casta política.
Outro aspecto positivo da delação do fim do mundo é ver como o partido que governou nos últimos 13 anos foi tão ávido e corrupto quanto os outros — se é que não o foi ainda mais.
Não que seja positivo por desiludir milhares de simpatizantes bem intencionados(e um pouco cândidos, diga-se), mas sim porque desconstrói de vez aquela teoriade que o capitalismo, que o partido tanto detesta, tem na corrupção um componente vital para o seu desenvolvimento.
A avidez e a cobiça são características inerentes ao ser humano, seja de direita ou de esquerda; não são qualidades monopólicas de apenas um sistema político. A maioria dos indivíduos querem sempre mais do que tem. Foram ávidos de conquistas Alexandre e Atila; de riquezas, Hernan Cortes e Francisco Pizarro; de conhecimento, Aristóteles e Leonardo da Vinci. Nenhum deles viveu no sistema capitalista.
Acontece que o capitalismo é o único sistema econômico que toma em conta esse ‘defeito’, e o canaliza em favor do próprio sistema. Utiliza a ambição individual em seu favor. As outras doutrinas ideológicas (socialistas, fascistas, etc.) querem anular essa condição, e tentam criar o ‘Homem Novo’, aquele que renuncia as aspiraçõesmateriais individualistas, em favor do partido ou do estado. Pretendem anular na marra aquilo que justamente floresce quanto mais tirânico é o regime. Por isso sempre acabam fracassando.
Segundo a ONG Transparência Internacional, os quatro países menos corruptos são capitalistas (Dinamarca, Finlândia, Nova Zelândia e Suécia), enquanto os comunistas/socialistas Cuba, China, Venezuela e Coreia do Norte ocupam as posições 60º, 79º, 166º e 174º, respectivamente. O paradoxo é evidente: um dinamarquês está mais próximo de se converter no Homem Novo do que um chinês, graças ao bom capitalismo.
A Lava Jato está mostrando como era podre o sistema político brasileiro, mas também está revelando as causas de nosso atraso. Enxergar isso nunca pode ser uma má notícia.