Apesar da infância frequentando as missas de domingo no Convento, onde minha mãe fazia escambo das presença dos dois filhos pela pipoca com queijinho frito na saída, não me tornei católico. Mas fui batizado e fiz a primeira comunhão — se não me falha a memória, a primeira e última vez em que me confessei a um padre.
Especificamente em relação a Maria, admito interpretá-la, enquanto figura religiosa, com teologia próxima dos evangélicos. Ainda que sem nenhuma simpatia especial por estes, sempre fui incapaz de ver na mãe de Cristo nada além isso — nem menos, nem mais.
Mas admito ter sentido uma energia diferente quanto visitei a casa na qual ela teria vivido e morrido, uma habitação humilde de pedra, com dois cômodos, próximo às ruínas da cidade Éfeso, na atual Turquia. Ela teria sido levado para lá por José de Arimatéia, para fugir da perseguição romana após a crucificação do seu filho.
Já em relação à multiplicação da figura de Maria, personalizada à fé particular dos vários lugares do mundo onde é adorada, reconheço no fenômeno a reedição do que aconteceu na Antiguidade, por exemplo, com a deusa pagã Atena, cujo culto foi sincretizado com várias outras divindades do Mediterrâneo, chegando a ser adorada até na Índia.
Razão à parte, sou neto de uma Maria da Penha, filho de uma devota da santa e convivo há décadas em Atafona. Ao londo dos anos, fui permeado pela fé das mulheres da minha família, a mesma dos pescadores, que sempre admirei, em sua protetora. Por ela, os homens do ofício de Simão realizaram na tarde de hoje (aqui) mais uma procissão fluvial com a imagem de Nossa Senhora da Penha, onde o Paraíba do Sul deságua no Atlântico, numa tradição de 160 anos.
Abaixo, alguns registros pessoais dessa fé viva e feminina, como as águas de um rio em seu encontro com o mar:
Show de imagens e sensibilidade.