Gustavo Alejandro Oviedo — O herói das mulheres

 

(Cena do filme “O Terceiro Homem”)

 

 

O escritor espanhol Arturo Perez-Reverte apresentou em Buenos Aires, há duas semanas, o seu novo romance, “Falcó”. O livro relata as aventuras de um contrabandista de armas, Lorenzo Falcó, que vira agente dos serviços de inteligência na Europa dos anos 30. Sujeito sem escrúpulos, o espião somente é fiel a si mesmo, e não há pátria, governo ou pessoa que fique livre de suas traições.

Durante uma entrevista com Perez-Reverte pela revista Noticias, o jornalista comenta que falou com várias mulheres que leram o romance, e que elas adoraram esse personagem tão desprezível. Perez-Reverte sorriu e respondeu:

“É que as mulheres são umas sacanas. Todas o são. Está claro: Falcó é um filho da puta. Se esse filho da puta tivesse sido um sujeito sujo, feio, vulgar e medíocre, teria sido intolerável por todos. Mas, não. É lá onde reside a habilidade técnica do autor, que não é bobo e conhece o seu trabalho. Decidi colocar nele outras coisas: inteligência, simpatia, graça, mas, principalmente, a insolência do sem-vergonha-simpático. E isso, com as mulheres, não falha nunca. As mulheres se casam com cavalheiros, mas se apaixonam pelos canalhas. É uma constante histórica, não é uma expressão minha. Está provado historicamente e qualquer pessoa com cabelos brancos sabe de que estou falando.”

Não é uma teoria muito original, embora também não seja muito popular, principalmente nestes tempos de correção política. De qualquer forma, sempre surpreende que uma figura pública como Reverte tenha a coragem de dizer uma coisa dessas, considerando que metade de seus potenciais leitores são mulheres. Se bem que, como apontou o jornalista, elas adoraram Falcó…

Ao ler a entrevista, lembrei de alguns grandes canalhas do cinema que foram irresistíveis para as mulheres. Em “Cassino”, o filme de Martin Scorsese, o poderoso administrador do Tangiers, Sam Rothstein (Robert DeNiro), nunca consegue entender qual é a fascinação que o cafajeste Lester (James Woods) exerce sobre sua mulher, Ginger (Sharon Stone). Não há joia, casaco de pele ou valor em espécie que possa fazer com que a Ginger se esqueça daquele patife fanfarrão e vagabundo.

Muito mais elegante, O Rick de “Casablanca”, na pele de Humphrey Bogart, entra na categoria dos canalhas cínicos. Tão cínico que, depois de saber que Ilse o abandonou naquele apartamento de Paris somente por dever conjugal, ao se inteirar de que o seu esposo não tinha morrido, e tendo oportunidade de retomar o relacionamento, decide rejeita-la e a manda de volta para o marido. “Sempre teremos Paris”. Ingrid Bergman, com o coração destroçado, parte rumo ao avião junto com Lazlo. Alguém pode acreditar que Rick fez isso por dever patriótico?

Mas é provável que o canalha-mór do cinema seja o Harry Lime (Orson Welles) do filme “O Terceiro Homem”. O sujeito era capaz de traficar medicamentos adulterados para crianças, mas basta uma única cena do filme — a única onde aparece e fala — para que o espectador fique seduzido por ele. Tamanha é a fascinação que o safado provoca, que a sua namorada Anna nunca irá perdoar ao amigo de Harry, o mocinho Holly (Joseph Cotten), por tê-lo descoberto e provocado sua morte. O final do filme, com Holly aguardando Anna na saída do cemitério, é toda uma declaração de princípios acerca de a quem pertence a alma feminina.

O escritor argentino Adolfo Bioy Casares, ele próprio um canalha sedutor, escreveu um conto onde o espírito de um legendário bandido rural, outrora temido e admirado, se confunde com a figura de um tigre que assola uma fazenda. O proprietário é um homem de meia idade que está casado com uma jovem e bela mulher. Num determinado ponto da história, o fazendeiro se lembra de um filme de ‘caubóis’, onde o galã luta com o vilão pelo amor de uma moça. A mulher do fazendeiro quer saber quem fica com a moça, ao que o marido responde que, naturalmente, ela ficará com o herói. A mulher — que ao final do conto desaparece, capturada pelo tigre — esclarece, com uma sinceridade brutal: “o herói das mulheres nem sempre é o herói dos homens”.

Fica o leitor devidamente avisado.

 

NF se une para cobrar no Rio volta de PMs e Delegacia de Homicídios

 

Reunião hoje, no Rio, da cúpula da Segurança Pública do Estado com o deputado Bruno Dauire e representantes de Campos, SJB, SFI, Carapebus e Macaé (Foto: Divulgação)

 

 

O retorno dos 40 homens cedidos pelo 8º BPM ao Grande Rio, aumento do efetivo policial nos municípios do Norte Fluminense e a instalação de uma Delegacia de Homicídios na região. Esses foram os principais assuntos da reunião que aconteceu hoje (30) no Rio, na sede da secretaria estadual de Segurança Pública, entre o deputado estadual Bruno Dauaire (PR), acompanhado de vereadores de Campos, São João da Barra (SJB), São Francisco de Itabapoana (SFI) e Carapebus, com secretário de Segurança Antônio Roberto Cesário de Sá, o comandante geral da PM, Wolney Dias Ferreira, e do chefe da Polícia Civil, Carlos Augusto Neto Leba.

Vice-presidente da Comissão de Segurança Pública da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), Bruno agendou o encontro, que teve também um representante do Conselho Municipal de Segurança Pública de Macaé. O deputado e os representantes dos municípios mostraram a realidade do crescimento da violência no interior do Estado do Rio. “Os números são preocupantes e não podemos deixar essa situação continue assim”, disse Bruno.

Comandante da PM, o coronel Wolney se comprometeu a estudar a possibilidade de retorno dos policiais ao 8º BPM, o que pode ser anunciado amanhã (31), em sua visita a SFI, anunciada aqui, na Folha da Manhã. Bruno adiantou que, a partir da reunião de hoje, essa é sua expectativa.

 

Com informações da assessoria do deputado 

 

Leia a reportagem completa sobre o quadro de Segurança Pública da região na edição desta quarta (31) da Folha da Manhã

 

Leticia Sabatella é a principal atração do Sesi-Campos em junho

 

O pessoal do Sesi-Campos — que levou a cultura goitacá nas costas nos tristes idos do governo Rosinha Garotinho (PR), com Patrícia Cordeiro à frente da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima (FCJOL) — divulga sua programação de junho. Como principal atração do mês, o espetáculo “Caravana Tonteria” trará a Campos, às 20h do próximo dia 9, a atriz Leticia Sabatella. Famosa também pela polêmica das suas posições políticas, ela integra o elenco dirigido por Arrigo Barnabé, que interpreta parte do repertório de grandes referências da música universal, como Chico Buarque, Colle Porter, Duke Ellington e Carlos Gardel.

 

 

 

Os ingressos para “Caravana Tonteria”, no valor individual de R$ 34, estarão à venda no Sesi a partir das 14h da próxima segunda, dia 5. Já para as demais atrações de junho, os ingressos poderão ser adquiridos a partir das 8h do dia 1º, na próxima quinta.

Confira abaixo toda a programação do próximo mês do Sesi:

 

 

Carol Poesia — Foi de chorar!

 

(Foto: Facebook de Potiara Lopes)

 

(Foto: Facebook de Potiara Lopes)

 

(Foto: Facebook de Potiara Lopes)

 

 

Felipe Ábido, o Bilibit, disse, há dois meses, que seria uma pequena roda de choro… Mas cerca de mil pessoas foram presenteadas com um show de altíssimo nível neste último sábado (dia 03).

Aconteceu, na Villa Maria, a segunda edição do Choro na Villa, que homenageou o singular compositor campista Juventino Maciel e reuniu ilustres convidados, como o músico Ricardo Maciel, bandolinista filho do compositor homenageado; o flautista Antônio Rocha, discípulo do grande Altamiro Carrilho; e Mailton Gonçalves, luthier, grande músico campista e integrante do grupo Reminiscências (décadas de60 e 70) — grupo esse que acompanhava o Juventino.

Felipe, com seu violão sete cordas, idealizador, diretor artístico e organizador do evento, integra o grupo Pé de Pitanga, que conta também com os músicos Vitor Vieira (bateria e percussão) e Joel Monção (cavaquinho). O grupo, que reuniu Rio e Bahia ao convidar a flautista Giselle Mascarenhase o acordeonista Marcone Cruz na primeira edição, conquistou o público ao homenagear os compositores Pixinguinha, Waldir Azevedo e Jacob do Bandolim, em abril. Incansáveis, emocionaram a todos, executando com brilhantismo as composições do conterrâneo Juventino Maciel, em junho.

Bilibit conta, emocionado, que existe uma conexão entre as edições do evento, uma vez que Juventino foi lançado no mercado fonográfico através da música “Cadência”, do LP “Vibrações” (1968), de Jacob do Bandolim; disco considerado pela crítica especializada como dos mais importantes da história do chorinho. Além disso, o homenageado foi amigo pessoal do grande Pixinguinha.

Pergunto a Felipe como foi a organização do evento. Ele, como músico excepcional, sincero e apaixonado, não responde à minha pergunta e me conta empolgado: “Ricardo utilizou, no show, o bandolim do próprio Juventino. E Antônio, não por acaso, tocou com o flautim do próprio Altamiro Carrilho. Ou seja, é uma tradição que está sendo passada de geração para geração”. E por falar em tradição, a centenária Lira Guarany fez uma maravilhosa intervenção surpresa, o que abrilhantou ainda mais a noite.

O organizador, além de músico, é estudante de mestrado em Cognição e Linguagem na Uenf, a quem agradece pelo apoio junto a demais parceiros. Seu estudo intitula-se “A formação da linguagem musical do chorão Juventino Maciel”. Seu talento, simplicidade e conhecimento podem, então, ser aguardados e desfrutados nas próximas edições do evento, que já é absoluto sucesso e marco importantíssimo para o cenário artístico-cultural de Campos.

 

Leda Lyzandro — De que é necessário criar tempo

 

Certa vez, numa varanda de Atafona, a psicóloga e amiga Leda Lyzandro disse que eu escrevia bem. Pois após ler como ela se desabriu ontem aqui, na comunhão das suas memórias com o advogado e músico Rodrigo Magalhães, o Magalha, é a minha vez de dizer: Ledinha, você escreve muito bem!

Na dúvida, leitor, confira na transcrição abaixo:

 

 

Rodrigo Magalha (Foto: Facebook de Leda Lyzandro)

 

 

A sua partida precoce e repentina me deixa várias reflexões. A mais importante delas é algo que eu já sabia na teoria, mas que ainda não havia sentido tão intensamente na prática. De que é necessário reservar tempo, criar tempo, fabricar tempo para encontrar quem amamos. O virtual está muito longe de substituir isso.

Ficará em mim o lamento daquele show que não fui, daquele churrasco que não aconteceu e daquela gargalhada que não pude ouvir.

São muitas as lembranças. Os “Anjos da madrugada” no aniversário de Simone, onde o palco era a mesa de sinuca. Show no Auxiliadora. Intermináveis noites em Atafona no inverno bebendo e jogando dicionário e Imagem e Ação. A partida de nosso irmão Gilberto. Conversas, papos-cabeça, lamentos, incentivos… Mas principalmente risadas… Gargalhadas…

Seu sobrinho Carlos lembrou muito bem essa sua mania de colocar apelido nas pessoas. Isso nos fazia rir e sentir especiais. Lá pelos anos 90, numa roda, algum dos alucinados, não me lembro quem, disse que eu me parecia com Luiza Tomé. E eu, toda boba, só pude ouvir a gargalhada de Rodrigo dizendo: “eles tem Luiza Tomé e nós temos Ledinha Tomamé”, apelido que, diga-se de passagem, me caiu como uma luva. Desde então me chamava ora de Tomamé, ora de Babalu e eu amava os dois apelidos!

Sei que ele está cercado de luz, porque ele é luz. Sou grata a Deus por ter tido o privilégio de tê-lo como amigo! Digo até breve, porque todo tempo humano, mesmo longo, é sempre breve! Assim como é sempre breve e é sempre pouco o tempo que dividimos com quem amamos!

Siga em paz, meu amigo!

 

Martinho Santafé — “O que não falta é ‘solidariedade’ para esses bandidos”

 

Não é a primeira vez que tomo a liberdade de republicar um texto escritos pelo jornalista Martinho Santafé na democracia irrefreável das redes sociais. E, dada a consonância no pensamento e admiração pelo estilo, tenho a forte impressão de que não será a última.

Num país que a esquizofrenia política pretende cindir entre coxinhas e mortadelas, em opostos comuns pelo raciocínio rançoso nos dois lados, confira aqui e na transcrição abaixo:

 

 

 

 

Nem coxinha, nem mortadela. O grande embate político brasileiro, hoje, não é ideológico, mas entre os que querem continuar roubando dinheiro público para se perpetuarem no poder e os que exigem um país menos corrupto e mais eficiente, onde os serviços públicos realmente funcionem, justificando os elevados impostos diretos e indiretos que pagamos.

Nesse momento tão conturbado, ideologia é um ato diversionista daqueles que querem manter seus privilégios. Basta observar o quadro atual. Parlamentares dos principais partidos estão se unindo nos bastidores para melar a Lava Jato e encontrar mecanismos que anistiem seus crimes, contando com a cumplicidade de empresários e até de juristas da mais alta Corte. O que não falta é “solidariedade” para esses bandidos.

Se os cidadãos não reagirem à altura dessa ofensiva descarada, teremos mais duzentos anos de atraso. E a culpa, aí sim, será nossa!

 

Fernando Leite — Fronteira

 

 

 

Fronteira

 

Na sala de espera do Centro de Doença

de Alzheimer e Parkinson estavamos eu,

José, de 58 anos, vítima de esquizofrenia

e distúrbios neurológicos; dona Olivia, 75 anos,

parksoniana e Pedro, 48 anos, refém do Alzheimer.

Sabíamos um do outro, mas não nos olhávamos,

como se fôssemos irmãos de uma seita secreta,

o silêncio e o alheamento era nosso código

de comunicação. Não havia o que falar.

Palavras são lâminas, por natureza,

se não, domadas.

O olhar comum de desassossego era uma carta náutica

para velhos marinheiros do mar alto,

que pouco se viam, mas que se reconheciam no

vastíssimo oceano da dor.

Nossos acompanhantes tricotavam experiências

e as últimas cenas da novela da 9h.

Alguns de nós, acompanhados, sabíamos de nossa

condição de fronteiriços,

tínhamos um pé na lucidez e o outro

no território do delírio.

O coração se aventurava em acrobacias

nos abismos, independente de nosso pânico.

De repente, uma réstia de sol

atravessou o vidro da janela

e acendeu a esperança que guardamos

escondida.

José, dona Olívia, Pedro e eu

rimos, cúmplices, ninguém mais percebeu.

A vida, por um momento, desabrochou exuberante e sã

naquela burocrática sala de espera.

É assim que, em nós, de vez em quando, independente

da hora e do lugar,

irrompe no maciço da escuridão a improvável

flor da manhã.

 

(FLF)

 

Artigo do domingo — Solo de guitarra pelo coletivo de uma geração

 

Magalha nos anos 1980, jovem e de cabelos compridos, no auge do BRock (Foto: Alcino – Facebook de Fred Landim)

Por Aluysio Abreu Barbosa

 

A semana que passou, como creio ter sido para vários amigos do advogado, professor e músico Rodrigo Magalhães, foi de reflexão. Sua morte precoce aos 47 anos, durante uma cirurgia de emergência entre o fim de noite de segunda (22) e o início da madrugada de terça (23), por conta de um aneurisma na artéria aorta, trouxe a público o que muita gente talvez sentisse cotidianamente, mas talvez nunca tenha se tocado de forma tão nítida: pela cultura associada à humildade, ao bom humor e jeito sempre afável com todos, Magalha era um dos sujeitos mais queridos da sua geração.

Depois que ele passou mal na manhã de segunda, enquanto dava aula na Universidade Cândido Mendes, soube ainda de tarde, por meio de familiares e amigos médicos, da gravidade da situação. Como escrevi no blog, pelo qual comecei a acompanhar a evolução do seu quadro, conhecia Magalha desde a adolescência, nos anos 1980. Vivíamos o auge do BRock, quando ele, ainda garoto e de cabelos compridos, já brilhava como músico nas bandas locais de rock.

Nosso maior convívio se deu a partir de uma excursão que saiu de Campos para o primeiro show de Paul McCartney no Brasil, no Maracanã, em 1990. Tinha passado os dois últimos anos ouvindo muito os Beatles e, conversando com Magalha durante a viagem, me surpreendi com seu conhecimento de rock inglês, de conjuntos que eu ainda sequer conhecia, mas viraria fã, como Yarbirds (depois Led Zeppelin), John Mayall & the Bluesbreakers e Cream — hoje, minha banda favorita.

Quem também estava naquela viagem era Gilberto Cruz Filho, outro que teria a vida precocemente abreviada, num acidente de carro, em 1993. Lembro após sugerir que, caso alguém se perdesse do grupo, que esperasse os demais na estátua do Bellini, em frente à entrada do estádio, Gilbertinho exclamou:

— Bellini, grande capitão de 50!

Ao que aleguei que Bellini só teria sido capitão da Seleção de futebol em 1950 no juvenil, já que o ex-zagueiro foi de fato capitão da Seleção em 1958, na conquista primeira Copa do Mundo pelo Brasil. Grande amigo de Gilbertinho, Magalha não deixou passar a oportunidade para cair em sua pele, indagando a todo momento, inclusive nos intervalos das músicas do ex-Beatle:

— E o Bellini?

Algum tempo depois, já na primeira década do novo milênio, sobretudo a partir de outro amigo comum, o também advogado Andral Tavares Filho, tive minha fase de maior convivência com Magalha. Não raro nos cruzávamos para dividir mesa, bebidas e papos nas noites campistas. Lembro do encontro com outro amigo comum, médico, gente boa, mas que já tinha bebido um pouco além da conta, no antigo Club, casa noturna que fez sucesso na Pelinca dos anos 2000.

Se não me falha a memória, o cardápio da casa oferecia um prato com palmito de pupunha. E como esse amigo comum começou a querer encher o saco de Magalha com lembranças do passado, “pupunha” virou uma espécie de código particular, montado naturalmente entre nós, para fazer referência velada a quem já bebeu demais e começou a ficar inconveniente. E sem que ninguém mais na mesa entendesse, inclusive o alvo eventual da ironia, ríamos a balde enquanto um indagava ao outro:

— Será que vai rolar pupunha?

Com a idade e mudanças de hábitos, nesses rumos diferentes que a vida segue sem que nem percebamos, nossa convivência foi se espaçando. Mas sempre que nos encontrávamos, demonstrávamos o mesmo carinho recíproco. Depois que se casou com Beatriz, Magalha se tornou um cara caseiro, sobretudo após o nascimento da sua Alice, hoje com 2 anos. Recolhimento que eu levei mais tempo — e casamentos — para finalmente adquirir.

Não pude ir ao seu velório na terça, pois tinha um compromisso prévio e inadiável agendado no Rio, coincidentemente em companhia de outro amigo comum de Magalha. Mas minha namorada, também advogada e sua ex-colega de turma no Auxiliadora, esteve no Caju e me contou do grande comparecimento de amigos, colegas do Direito, alunos e ex-alunos. E testemunhou como dava para se cortar com faca a densidade da consternação geral.

Na tarde de quarta (24), me ligou uma ex-namorada. Presente num dos últimos shows de Magalha, com sua banda Cross Time, há menos de um mês, no pub Republic, ela se reuniu com ele ao final e conversaram um pouco. E fiquei emocionado ao saber que, uma vez que me tornei o assunto, as palavras dele sobre mim foram paridas em três das suas grandes virtudes para com todos: gentileza, carinho e generosidade.

Na noite daquela mesma quarta, outro amigo comum, o biólogo e também professor Marcelo Cordeiro completou 45 anos — exatamente um mês antes de mim, como observamos desde que nos tornamos amigos, ainda aos 3 anos de idade. De volta recentemente a Campos, depois de mais de 10 anos morando na Bahia, ele chamou vários amigos de adolescência e juventude para comemorar a data no Mexicano.

Inevitavelmente, além dos brindes pelo reencontro e a felicidade do aniversariante, o fizemos também em homenagem ao companheiro de um mesmo lugar e tempo, que todos conheciam, gostaram durante boa parte da vida, mas já não estava mais entre nós.

Num solo de guitarra pelo coletivo da nossa geração, vá em paz, Magalha!

 

Publicado hoje (28) na Folha da Manhã