Depois de estrear com grande sucesso, no Sesc, em dezembro de 2015, será encenada a partir das 20h de hoje (26) no palco mais tradiconal do teatro de Campos: o Teatro de Bolso (TB) Procópio Ferreira. O espetáculo será reencenado no TB de sábado (27) e domingo (28), sempre às 20h.
Montada com base nos poemas do poeta português Fernando Pessoa (1888/1935), em versos assinados pelo próprio, além de seus heterônimos Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Alberto Caeiro, a coletânea foi selecionada pelo poeta, dramaturgo, ator e professor Adriano Moura, em parceria com o músico Matheus Nicolau, a quem coube a musicalização de alguns poemas. Além de Adriano, que também dirige o espetáculo, e Matheus, completam o elenco o ator Tim Carvalho e o músico Renato Arpoador.
Para quem não é tão íntimo do vasto universo pessoano, o espetáculo é uma maneira de se tornar mais próximo da obra daquele considerado, não sem razão, como o maior poeta modernista da língua portuguesa. E mesmo para quem conhece de cor alguns dos versos de Pessoa, a peça é também capaz de causar grande impacto, pela sensibilidade com que os poemas são encenados, ofertando novas possibilidades de interpretação a partir da musicalização, como ocorre em “Mar Português”, cujos versos geraram um fado, no blues de “O cão que veio do abismo”, ou no lamento sertanejo de “Carro de bois”.
A maioria dos poemas escolhidos, no entanto, não depende de versões musicais, sustentados apenas na interpretação cênica dos quatro atores. Como explica Adriano:
— Queria muito revisitar a obra do Pessoa. Eu e Matheus fizemos encontros para ler os textos, escolher o que seria música e o que seria recitado. Queríamos algo que não se parecesse com um recital, mas que também não se aproximasse de um musical biográfico.
Pessoa poderia estar certo ao versejar pela pena quase sempre debochada de Álvaro de Campos: “Todas as cartas de amor são/ Ridículas”. Talvez não por outro motivo, seja de Ophélia Queiroz, infeliz noiva do poeta, o retrato que funciona como eixo em boa parte das cenas. Apesar de amar Fernando, a homônima portuguesa da noiva de Hamlet não tinha pudor ao afirmar: “Detesto Álvaro de Campos!”. No amor de Adriano, Matheus, Tim e Renato expresso no palco pelas “Pessoas” em Pessoa, ridículo é não comparecer.