Fernando Leite — O futuro é um furo no muro

 

 

 

Tudo é cultura.

As andorinhas da antiga praça do Santíssimo Salvador sabem a causa do drama que vive o gestor municipal de Campos, no tempo presente. É assunto recorrente nas ruas, bares e similares. No recente pretérito imperfeito, o avesso do avesso do que deveria ser o prefeito, do último andar de sua irresponsabilidade, comportou-se como um califa decadente, um grão vizir iracundo, megalômano, dono do mundo, que sabe que  todo cuidado é pouco em se tratando de futuro, um furo no muro entre o que há e o imponderável e que governar é um verbo que se conjuga no impessoal.

Mas a personagem preferiu ser o ventríloquo do casal.

Estourou a bolsa da Viúva. Deixou tantas dívidas, quanto dúvidas e uma única certeza: é imprescindível dizimar na governança a esperteza desonesta.

Nós não temos uma cultura de Estado. Somos o que sobra de uma sucessão de governos personalíssimos, que duelam nas eleições e são capazes de tudo, literalmente, por uma vitória partidária. O diagnóstico da crise na vila de São Salvador dos Campos revela atitudes temerárias do governo de então e expõe à luz do debate que este modelo de gerenciar o bem público, como se fosse próprio, se exauriu completamente. Absolutamente.

Em 2016, o governo municipal de plantão teve quase R$ 3 bilhões em caixa — somando orçamento e empréstimos. A administração inaugurada em janeiro último recebeu metade deste valor, as parcelas do prego na Caixa Econômica Federal — e que prego! E receitas futuras comprometidas. O que fazer? A solução não será encontrada na exatidão da matemática, mas na largueza da cultura política, para muito além do mi-mi-mi das redes sociais.

Bem, além de responsabilizar, judicialmente, a quem de direito, instaurar uma gestão moderna e enxuta. Mas, a maior contribuição que a atual administração pode deixar como legado é instituir uma cultura que estabeleça uma relação republicana com o eleitor.

E deixar, definitivamente, no passado mais que imperfeito a prática da ventriloquia política. Só assim será possível resgatar a indispensável esperança do futuro.

 

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