Garotinho é mais um da velha política que não resistiu ao Brasil de 2017

 

Capa e contracapa da edição de hoje (14) da Folha da Manhã

 

 

As velhas práticas e o Brasil de 2017

Por Maiá Menezes(*)

 

Em dia de looping de informações impactantes, mais um em que o noticiário político se confundiu com o policial, um personagem emblemático para os moradores do Rio ressurgiu. Condenado pelo juiz da 100ª Zona Eleitoral de Campos por comandar esquema de fraude eleitoral quando era secretário de Governo do município do Norte Fluminense, o ex-governador e radialista Anthony Garotinho foi detido no ar, no intervalo de seu programa de rádio. Um sinal dos nossos tempos.

Há quase duas décadas, quando chegou ao comando do estado, abrindo as portas do Palácio Guanabara para a população, Garotinho já trazia consigo os vícios da velha política. Foi por meio deles, aliás, que cacifou votos de sua chapa, então um leque amplo de alianças, que chegou a incluir nomes como o do ex-governador Leonel Brizola. Garotinho transitou por legendas de todos os matizes. Denúncias sobre compra de votos e cenas de clientelismo explícito pululavam durante o período em que a família do ex-governador reinou no Rio.

Investido por si mesmo de uma certa aura de heroísmo, ao se intitular representante dos pobres, Garotinho se dizia perseguido, cada vez que era acusado de condutas não republicanas. Escorou sua popularidade em programas assistencialistas, como o Cheque Cidadão — o mesmo que usou no esquema de fraude identificado pela Justiça de Campos —, dos quais lançava mão também nas campanhas, para manter sua clientela de eleitores. Não foram poucos.

Garotinho já teve um patrimônio de 15 milhões de votos pelo país, dilapidado pela descoberta de que usava, na pré-campanha que fez à Presidência, em 2005, recursos desviados do governo do estado, comandado à época por sua mulher, Rosinha.

De volta ao berço, com o poder encolhido, Garotinho não abandonou os hábitos. Os indícios da Polícia Federal apontam para uma sistemática estratégia de burlar a Justiça. Preso pela segunda vez este ano, na primeira, protagonista de cenas de revolta ao ser levado à prisão, o ex-governador é agora um apenado. De tornozeleira, será vigiado dia e noite por policiais. Não escapou do Brasil de 2017.

 

(*) Jornalista

 

Publicado na edição de hoje (14) de O Globo

 

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Este post tem um comentário

  1. cesar peixoto

    tenho certeza que ontem foi uma data comemorativa (trecho excluído pela moderação) com prisao injusta de Garotinho, eu duvido que Lula vai ser preso

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