Na semana passada, a exposição Querrmuseu foi cancelada, censurada por “conter obras inadequadas”.
Essa semana mais uma bomba: Justiça concede liminar que permite tratar homossexualidade como doença.
Jesus…
Enquanto isso, na micro-esfera da minha humilde vidinha, uma aluna se recusa a ler o livro do semestre, segundo ela “pesado demais”. “Então você leu o livro?”. “Não, estou falando do título”. O livro é Inferno, de Patrícia Melo (prêmio Jabuti).
Fico aqui pensando… “Senhor… Senhor… Por que me abandonaste?…”
Qual é a lógica desse retrocesso conservador generalizado?
Pois então não leram a Bíblia? Lá tem inferno, tem irmão que mata irmão, incesto, genocídio, estupro, traição, assassinato e mais um monte de coisa pesada à beça. Mas oh, vale a pena a leitura! Super indico, apesar das cenas fortes. É que às vezes, no meio do sangue, a moral da história é honesta.
Pois então nunca ouviram falar do Vaticano? Em 2010, a ala de Arte Contemporânea já exibia um enorme Cristo de terno. E tinha um corredor muito assustador, com tapetes bordados contando as passagens de terror do livro sagrado. E tem também a Capela Sistina, com um alvoroço no teto: Deus e Adão retratados do mesmo tamanho, seminus e quase se tocando, pintados por Michelangelo, entre 1508 e 1512.
Mil quinhentos e oito e mil quinhentos e doze e não foram censurados. Nunca antes Deus e Homem haviam sido, publicamente, do mesmo tamanho, retratados. E não é que estão lá até hoje? Uma exuberância inigualável, da arte renascentista.
Por falar em Renascimento, que povo pra frente! O que dizer de François Boucher (1703 – 1770), em Leda y El Cisne?
Ah me poupem!!! Não somos obrigados! Quanta ignorância! Quanta perda de tempo! Quem não quer ser confrontado com arte provocativa não vá à exposição, simples assim. Mas também não liga a televisão não! Nem internet heim! Tem um/uma tal de Pablo Vittar aí ó arrebatando a nação. Eu não curto o som que ele/ela faz, mas diante de tanto conservadorismo e retrocesso, entendo o seu grito! Um grito em falsete mas… honesto.
Também não achei belos os quadros da exposição Queermuseu, que vi pela internet, mas acho ótimo que vivamos em uma época em que essa exposição possa acontecer (Vivemos?). Além disso, nem toda arte é pra ser agradável; se eu me informar um pouco a respeito das obras talvez eu as veja com outros olhos.
Enfim, é aquela velha ignorância, aquele medo da liberdade, aquela força conservadora que, parafraseando (vulgarmente) Freud, deve ter explicação a partir de algum encalacramento sexual.