Ao chegar em sua principal colônia, em 1808, fugindo da saga militar de Napoleão Bonaparte que, no afã de dominar a Europa, decretara o famoso bloqueio continental, D. João VI, trazendo a bordo todos os burocratas da corte lusitana, encontrou por aqui, de formação insipiente, um grupamento militar, criado, ainda, nos tempos das conquistas do Rei D. José I, na segunda metade do Século XVIII, para dar proteção ao Vice-Reinado instalado no Rio de Janeiro.
Historicamente, o regente português, que trouxera na bagagem sua genitora, a Rainha D. Maria I, a Louca — aquela megera que sentenciou Tiradentes à forca e ao esquartejamento — aproveitou a estrutura hieráquica da Cavalaria de Guarda, transformando-a em Regimento, nos mesmos moldes dos denominados “dragões” do Rio Grande do Sul, cuja missão era a de dar segurança à presença do governo imperial no cenário nada saudoso do Brasil Colônia.
Contudo, apesar de controvérsias históricas, há registros salientando que “as forças militares se reuniam sempre que o poder necessitava abafar qualquer tipo de agressão às nossas fronteiras”, isso desde o inicio da colonização, no Século XVI, mas a data oficial da implantação do Exército é o dia 19 de abril de 1648, como referência à Batalha de Guararapes — o primeiro grande embate em favor da restauração do poder português em confronto com holandeses, em Recife.
Muitos revisitadores, no entanto, defendem que o Exército brasileiro tem origem no ato simbólico da Independência, às margens do riacho do Ipiranga, em São Paulo, quando a guarda do Imperador Pedro I consolida o desejo do monarca em separar o Brasil de Portugal, por não concordar com o retorno do Pacto Colonial proposto pela Revolução do Porto, em 1820, até porque naquela ocasião o Rio de Janeiro já tinha os ares de uma cidade européia digna de abrigar uma corte independente.
A missão constitucional do Exército e, por extensão, das Forças Armadas — incluindo a Marinha e a Aeronáutica — é a de consubstanciar a Carta Magna e lutar em defesa da pátria (?) e, também, de cuidar de seus interesses no âmbito internacional, tanto que participamos das duas grandes guerras mundiais — 1914-1918 e 1939-1945 —, além de outras missões expressivas, como o conflito no Canal de Suez e as atividades humanitárias do Haiti, isso para reconhecer sua importância histórica.
Não se sabe se por questões teosóficas, que indicavam que os reis são/eram nomeações inspiradas por Deus, nos 67 anos dos dois reinados brasileiros não ocorreram problemas com os militares, pois cumpriram à risca o que estabelecia a Constituição de 1824, somente até a conspiração ardilosa pela queda do Imperador Pedro II, redundando na proclamação da República. Sem propor qualquer debate sobre a monarquia brasileira, (e não é nosso objetivo) pelo ponto de vista das (des) humanidades, foi a primeira covardia do Exercito e contra um monarca nascido no Brasil e que, expulso, dois anos depois, falecera de saudade, aos 66 anos, num hotelzinho em Paris.
Depois veio a Revolução de 30, com a ascensão de Vargas ao poder como presidente provisório, o que se transformaria numa ditadura até 1945. O Exército também atuou na decretação do fim da Era Vargas e conseguiu, com apoio das forças politicas de então, eleger presidente o General Eurico de Gaspar Dutra. Muito recente, ainda, o denominado Golpe de 1964, que derrubou João Goulart, instaurando uma ditadura sangrenta, que permaneceu na cena politica até 1985.
Pode-se lembrar, também, como exemplos, as ações belicosas (e selvagens) do Exército em lutas contra revoltas populares/nativistas (e foram muitas), ilustrando aqui a desenvolvida contra Canudos, no serttão da Bahia, em 1897, onde uma comunidade messiânica, comandada pelo beato Antonio Conselheiro, fora completamente dizimada. Homens, mulheres, idosos, crianças e animais mortos e decapitados, com requinte de barbaridade, e a contabilidade da ação desastrosa dos militares, assumida pelo presidente Prudente de Morais, registrou mais de 25 mil pessoas assassinadas.
No livro “Os Sertões” — que deveria ser lido por todos os brasileiros e em todas as escolas de jornalismo — o escritor Euclides da Cunha descreve os horrores de uma guerra desnecessária, produzida por uma república recém-instalada e que não tinha, ainda, se livrado dos ranços absolutistas da monarquia. O massacre de Belo Monte fica como uma das mais terríveis ações do Exército Brasileiro. Rachel de Queiroz, em “A Beata Maria do Egito”, também narra um conflito entre uma seguidora do Padre Cicero Romão, que sofrera a ação desalmada de um militar do Exército.
Na descrição da realidade e (ou) da ficção, levando em conta que os períodos golpistas não supriram o país de suas necessidades, o melhor para todos e para o estado democrático de direito é, (apesar das mazelas, da corrupção, do analfabetismo anacrônico de parte de nossa gente, da falta de educação, saúde e segurança…), a democracia, com todos os seus defeitos. Para quem passou, como jornalista atuante, pelas agruras produzidas pelos militares nos famigerados capítulos do golpe de 1964, é pesaroso se pensar em novo golpe. O juventude brasileira foi infeliz durante um quarto de século.
Aos militares, com seus uniformes pomposos, principalmente os dos Dragões da Impendência, deve ser mantida a obediência aos mandamentos da democracia, por pior que ela possa parecer. Ditadura, Civil ou Militar, Nunca Mais.
Aclamemos!
Quero dizer: ACLAREMOS!!!