Com o tempo, ou por falta dele, deixei de acompanhar futebol. Mas vi ontem o Fla 3 x 3 Flu no Maracanã, pelas quartas-de-final da Copa Sul-Americana. Digno do seu palco, o jogo foi épico, daqueles em que as veias das pernas dos jogadores se confudem com os cadarços das suas chuteiras.
Virtualmente eliminado, após o Flu fazer 3 a 1, o Fla se incendiou com a entrada do veloz e incisivo atacante Vinícius Júnior, de apenas 17 anos, cujo passe já pertence ao Real Madri. Ele iniciou a jogada que acabou no segundo gol rubro-negro, com destaque ao passe de calcanhar do meia Éverton Ribeiro, para depois sofrer a falta que originou o terceiro. E, por muito pouco, a jovem promessa não marcou o quarto.
Recentemente, um amigo botafoguense me fez a observação: “Vocês olham de cima para nós e o Vasco. Mas quando é com o Fluminense, vocês respeitam”. E é verdade. Talvez por conta do mito grego entre pai e filho, já que o futebol do Clube de Regatas do Flamengo foi fundado por uma dissidência de jogadores do Fluminense Football Club. É coisa que se repete, por exemplo, entre Brasil e Uruguai, ex-província brasileira responsável por nossa maior tragédia no futebol, na final da Copa de 1950.
Superior aos outros três grandes clubes cariocas em todas as estatísticas, como número de torcida, de títulos, confrontos diretos e saldo de gols, o Flamengo só perde para o Flu no scout dos jogos decisivos. Como foi o de ontem, disputado pela vaga à semifinal da Sul-Americana, no qual o time das Laranjeiras jogou de igual para igual, por vezes melhor, contra uma equipe mais técnica.
Maior dos tricolores, o dramaturgo Nelson Rodrigues (1912/80) dizia que o primeiro Fla x Flu foi disputado “quarenta minutos antes do Nada”. Se foi, o jogo de ontem esteve à altura da sua gênese.