Assisti, recentemente, ao vídeo com a destruição de um terreiro. Um “traficante cristão” ordena que a mãe de santo quebre suas imagens e guias “em nome de Jesus”. Em seguida aparece coagindo um rapaz a fazer o mesmo, munido de um taco de basebol escrito “diálogo”. “É só um diálogo que eu to tendo com vocês, na próxima vez eu mato”, ele diz no vídeo.
A cena não parece real. Oxalá fosse coisa de filme… Particularmente, fiquei profundamente triste. Não tive estômago para assistir mais do que 2 minutos e 44 segundos. Esse foi o tempo suficiente para que o nome “Jesus” fosse gritado 8 vezes, “Deus” uma vez e “Satanás” também uma vez. A frase mais repetida foi “Quebra tudo em nome de Jesus, você é o capeta chefe”. Uma senhora e um rapaz obedeciam automáticos, sem fitar o traficante.
Ao me deparar com esse absurdo, lembrei do bispo Sérgio Von Helder no episódio da santa. Eu tinha 10 anos e não esqueci. Eu não sabia dizer, naquela época, o que havia de errado naquela cena, mas eu tinha certeza de que era errado. Foi violento para mim na época, assim como é hoje. Lembro que o marido da minha tia, pastor, apoiou o chute, disse “tem que fazer isso mesmo”. Não esqueci. Eu não entendia como alguém que eu gostava tanto e que era tão bom pra mim podia falar uma coisa dessas. Lembro-me da minha mãe, evangélica, dizendo que era errado chutar a santa – “chutar a santa para os católicos é como chutar a bíblia para os crentes, você não ia gostar, ia?”. Minha mãe sempre foi muito esclarecida nesse sentido. Não esqueci. Na escola, eu conheci que a igreja católica, em certo momento histórico, matou “em nome de Deus”. Também não esqueci. E agora mais essa, do traficante com jargão pentecostal… Dividindo opiniões, como se violência fosse passiva de aprovação. É muito triste.
Embora destruição e morte tenham sido promovidos por religiosos “em nome de Deus” desde sempre, a impressão que dá é de que na atualidade a falência da profundidade e da coerência é contagiosa. Basta acompanhar as redes sociais um (um!) dia para ver o radicalismo sendo “combatido” com mais radicalismo e se proliferando em mais radicalismo. Pessoas ofendidas com essa cena desgraçada publicam desejo de morte aos evangélicos, o outro lê, se identifica e compartilha. Gerando uma “bola de ódio”. O ódio está sendo declarado todos os dias na internet. Quando eu leio uma mensagem de paz do meu amigo Dz ou do radialista Paulo André eu fico agradecida e aliviada, eles estão na contramão da tendência virtual. Graças a Deus! E infelizmente, essas publicações positivas não competem com as sanguinárias em número de “curtidas”, “amei” e compartilhamentos.
O que está acontecendo com as pessoas?
E são as pessoas que estão ao nosso redor, são o os seus amigos, são os seus parentes, são os seus.
Passaram-se mais de vinte anos e eu continuo me surpreendendo — como eles podem ser bons comigo e apoiarem um discurso desses? Como essas pessoas, ditas religiosas (Não são só evangélicos não, viu?!) podem publicar esse ódio como se estivessem respaldados por algum Deus? Como se isso fosse coerente com os princípios básicos de alguma religião?
A gente tende a achar que o problema está na Educação. A Educação brasileira é ruim, não promove o senso crítico, etc etc etc. Mas não. É no mundo. É a humanidade. É a era de Saturno. Não sei. São pessoas que aparentemente desistiram de pensar, como se destruir fosse menos cansativo do que rever preceitos falidos.
Atualizado às 19h37 para incluir correção feita pelo jornalista Ocinei Trindade, em comentário ao link da postagem no Facebook
Isso faz muito me lembrar os politicos em geral, principalmente aos de Campos e região. Que querem juntar Religião e politica. Desculpa, mas não tem como. Ou se fala em nome de Deus ou em nome da politica. Como tem politico mentiroso e fala em nome Dele… Mas no final prestarão contas com Ele… eee Campos…