Igor Franco — Feliz Ano Velho!

 

 

 

Fosse eu desenvolto nas ciências naturais, há tempos teria proposto o Teorema da Relatividade do Tempo: a velocidade com que correm os dias é diretamente proporcional à idade do observador. A sensação, cada ano mais presente, é a de que o ano passou em alguns piscares de olhos. Não há jeito: como nação, temos uma vocação inequívoca para a postergação. 2017 se vai e deixa para 2018 uma série de problemas sérios a serem solvidos.

A dificuldade em cumprir suas obrigações ainda assombra a administração municipal. A penúltima tentativa de buscar equacionar o perrengue financeiro foi o reajuste do IPTU de determinadas áreas da cidade. É bastante questionável a iniciativa de onerar os já combalidos contribuintes municipais e a medida pode acabar por retardar a ainda tímida retomada do mercado imobiliário da cidade. A expectativa de incremento na arrecadação é da ordem de R$ 60 milhões, o que seria insuficiente para arcar, por exemplo, com um mês sequer de pagamento dos servidores – este, sim, o grande problema dos cofres municipais. Com uma folha praticamente bilionária, nenhuma outra medida que não passe por uma alteração na política de pessoal vigente nos últimos anos será capaz de melhorar o balanço público da cidade.

No estado, a situação é ainda mais desesperadora. Com seu grupo político devastado por denúncias de corrupção, o governador segue a sina fluminense de penhorar o almoço para, com certa dificuldade, garantir a janta. Enquanto sacrifica o custeio da máquina e o investimento para tentar deixar em dia o pagamento dos servidores, a educação e a saúde dos órgãos estaduais encontram-se na UTI. Recente estudo da FIRJAN demonstrou que as contas estaduais só fecharam nos últimos anos devido a operações dessa natureza. Como o aprendizado com erros passados não parece figurar no repertório dos políticos brasileiros, mais uma operação de crédito está a caminho para quitação da folha de pagamento. O estado aprofunda o problema financeiro pela incapacidade – legal e política – de enfrentar um problema semelhante ao da planície: sua folha de pagamento, agravada pelo número de inativos.

O governo federal, desmoralizado ainda antes do fim do primeiro semestre pela delação da JBS, foi incapaz de tirar do papel uma série de propostas que melhorariam a situação brasileira pelos próximos anos. A tímida mudança no marco trabalhista ainda demorará a mostrar seus benefícios concretos. Por outro lado, privatizações, concessões e a mãe de todas as medidas – a Reforma da Previdência – não saíram do papel graças à prioridade do governo de reunir sua maioria para garantir a permanência do presidente no poder. Décadas de benevolência e populismo fiscal no RJ dão uma mostra ao país do que ocorrerá se continuarmos a empurrar nossos graves problemas financeiros para debaixo do tapete.

Nesta semana natalina, não gostaria de ser desagradável e cansar o leitor, portanto, vou interromper minha retrospectiva atendo-me apenas ao risco financeiro que correm as finanças públicas nos mais variados níveis de governo. Deixo para outro momento as lamentações a respeito do aumento da violência, do acirramento da radicalização ideológica, da inércia e submissão da Justiça aos desejos dos poderosos etc.

O simbolismo da renovação proposta pelo Natal encontra eco nas resoluções de Ano Novo. De alguma forma, somos levados a acreditar que, diferentemente de todos os anos anteriores, quando falhamos miseravelmente, ano que vem estaremos prontos para fazer tudo diferente.

Os estoicos classificavam o símbolo (ou signo) como algo que parecia revelar algo obscuro, não manifesto. Seria essa força propulsora o “algo obscuro” do estoicismo? Como bom cético, dada a pequena experiência em Brasil que o tempo me trouxe, já me contentaria o fato de o “não manifesto” não ser mais um pepino a descascar.

Boas Festas!

 

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Este post tem um comentário

  1. cesar peixoto

    Esse foi um dos melhores anos para mim, aguentar Temer,Pezão,Pirciane,e Rafael Diniz não é para qualquer pessoa.Boas Festas para todos e que venha 2018

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