Brasil de Gilmar
Não é preciso pesquisa para constatar a descrença do brasileiro com seus representantes. Com os exemplos acintosos de figuras como Gilmar Mendes, ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Supremo Tribunal Federal (STF), a revolta popular com os executivos e legislativos vem se alastrando também ao Judiciário. No vácuo deste desencanto, é grande a demanda por renovação. Tentando surfá-la, nomes relativamente jovens e ainda não testados nas urnas vêm colocando pré-candidaturas a deputado federal. É o caso, por exemplo, dos empresários locais Wladimir Garotinho (PR), Cesinha Tinoco (PPS) e Marcelo Mérida (PSD).
Wladimir e Cesinha
Filho do casal mais famoso da Lapa, Wladimir dispensa maiores apresentações. Diante das dificuldades enfrentadas no primeiro ano do governo Rafael Diniz (PPS), o ex-presidente municipal do PR lidera as pesquisas feitas pelo instituto Pappel, sobre os nomes locais na corrida à Câmara Federal. Ainda que tenha admitido (aqui), em entrevista à Folha no último domingo (17), ter “menos densidade política do que Wladimir”, Cesinha Tinoco é grande amigo e assessor especial do prefeito de Campos. E ninguém que entenda algo de eleição pode nela desprezar o peso da máquina.
Marcelo Mérida
Embora seja presidente da Federação Fluminense das Câmaras de Dirigentes (CDLs), inegável que a pré-candidatura de Marcelo Mérida a deputado federal parte de base mais modesta, se comparada com os outros dois nomes com quem comunga características de perfil. Ainda assim, ele já garantiu, em outra entrevista à Folha, publicada (aqui) em 3 de setembro, que sua postulação faz parte de “um projeto político sem volta”. Neste sentido, ele já definiu o PSD como legenda pela qual pretende disputar as eleições de outubro. E vai assumir a presidência do partido em Campos e sua coordenação em todo o Norte e Noroeste Fluminense.
Circunstâncias
A costura para assumir o PSD na região foi feita entre Mérida e Índio da Costa, presidente estadual da legenda e secretário do governo carioca Marcelo Crivella (PRB). Em outra entrevista à Folha, publicada (aqui) em 6 de agosto, com repercussão nacional (aqui e aqui), Índio confirmou sua pré-candidatura a governador. Ontem, o PSD levou ao ar sua propaganda nacional de TV. Ministro da Fazenda de Michel Temer (PMDB) e presidente do Banco Central no governo Lula (PT), Henrique Meirelles dominou boa parte dela. Se ele confirmar sua pré-candidatura a presidente, assim como Índio a governador, a pretensão de Mérida cresce a reboque. Como ressaltou o filósofo espanhol Ortega y Gasset (1883/1955): “O homem é ele e suas circunstâncias”.
Fora da cadeia
Com as recentes decisões judiciais, medidas diferentes foram tomadas aos réus da “organização criminosa” (Orcrim) presa na operação Caixa d’Água. Ontem foi cumprida a decisão dada no plantão pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Gilmar Mendes, que tirou da cadeia Anthony Garotinho (PR). Ele e a esposa, a também ex-governadora Rosinha Garotinho (PR), foram presos no mês passado por crimes eleitorais em uma ação da Polícia Federal. Eles negam as acusações. Rosinha já respondia em liberdade, mas com restrições de horário e uso de tornozeleira. Garotinho agora também responderá o processo em casa. Não precisará usar o monitoramento eletrônico, mas está impedido de deixar o país e precisou entregar o passaporte à Justiça. Ele pode, inclusive, voltar à rádio Tupi, se conseguir novo horário.
Festa para o “chefe”
Um grupo de cerca de 20 pessoas, incluindo a filha dele, Clarissa Garotinho (PRB), fez festa na porta do presídio. Após cumprimentos, beijos e abraços, ele conversou com jornalistas, sob gritos de “ladrão” vindo de populares. Ele disse que nada vai mudar as suas convicções e voltou a entoar o discurso de que está sendo alvo de “vingança”. Com Garotinho libertado por Gilmar, outra decisão foi dada desta vez pelo juiz Ralph Manhães. Pelo princípio da isonomia, ele entendeu que não cabia deixar os demais presos da operação na cadeia e determinou que todos fossem para prisão domiciliar. “Não se mostra razoável a manutenção dos referidos custodiados quando aquele que é apontado como ‘chefe’ da Orcrim recebeu benefício da liberdade provisória”, ressalta o juiz.
Ralph à frente
Com o título “Deu ruim para os políticos corruptos”, o blog Ponto de Vista, de Christiano Abreu Barbosa, hospedado no Folha 1, divulgou (aqui) na noite de ontem, que o juiz Ralph Manhães Jr, que tem sido implacável com a corrupção na Justiça Eleitoral, foi convidado e aceitou ser o juiz responsável pela fiscalização nas eleições do ano que vem em Campos. Caberá ao magistrado coibir abusos e manter a eleição dentro da regra eleitoral.
Com o jornalista Rodrigo Gonçalves
Publicado hoje (22) na Folha da Manhã
Não é justo que uns são punidos e outros que cometeram os mesmos crimes se duvidar mais graves fiquem impune, não existe essa de que votou em A, B ou C sem receber nada em troca