Folha 40 anos — Giannino Sossai

 

Jornalista Giannino Sossai

Quando os fatos conspiram

Por Giannino Sossai(*)

 

A Folha da Manhã nasceu de um vácuo jornalístico existente em Campos à época. Não de talentos, que tínhamos muitos, mas de estilo e forma. Ainda se usava na composição o velho e eficiente linotipo e, na impressão, o “prelo” motorizado. Aluysio Barbosa, trabalhando no jornal A Notícia e correspondente do Jornal do Brasil percebeu isso e, juntamente com Diva Abreu mais os empresários Pereira Júnior, Andral Tavares e João José Muylaert, foram à luta.

Instituiu-se a impressão em offset e o estilo jornalístico investigativo, com uma redação reduzida, acho que uns seis profissionais e uma máquina que imprimia bulas de remédio em Belo Horizonte. Era uma impressora plana e necessitava da gravação de dois fotolitos (um positivo e outro negativo) e uma chapa. A dobra era manual mesmo. Um processo demorado e que exigiu, no início, a ajuda até de Diva entre os dobradores.

Quando Aluysio me fez o convite para montar a redação foi com a orientação de que daríamos preferência aos assuntos locais relevantes, principalmente em defesa de nossa economia sucroalcooleira. Depois passamos a ter um telex, do qual se extraíam os assuntos nacionais e internacionais mais importantes. Era o período da ditadura e sofríamos da síndrome da autocensura. Não se sabia o que poderia desagradar o status quo do sistema vigente. Mas aí o imponderável conspirou a nosso favor.

Surgiram alguns acontecimentos que alavancaram de vez os rumos da Folha: Dois crimes bárbaros, lamentáveis e de repercussão nacional, que foram os que ficaram conhecidos como a “Chacina da rua Dr. Beda” e o assassinato, em Bom Jesus do Itabapoana, do sobrinho morto pelo tio (“Zé do Rádio”), por vingança contra o irmão e pai da criança, que negou-lhe um empréstimo em dinheiro. Paralelamente, Aluysio Barbosa descobriu que estavam  estourando bombas (batimetria, parece) no subsolo do litoral de Atafona. Era o início da descoberta de petróleo na Bacia de Campos.

Posteriormente, o mesmo Aluysio e o fotógrafo Esdras Pereira conseguiram um avião emprestado do industrial Geraldo Coutinho e registraram o primeiro embarque de petróleo extraído pelo navio-sonda “Petrobras 02” da Bacia de Campos. A notícia, publicada pelo Jornal do Brasil e dele ao mundo, foi pronta e categoricamente desmentida pelo governo militar, que guardava sigilo absoluto sobre o assunto. Mas fatos não podiam ser desmentidos. Como fato é a liderança da Folha da Manhã desde então.

Vida longa à Folha!

 

(*) Jornalista e ex-editor-geral da Folha da Manhã

 

Publicado hoje (07) na Folha da Manhã

 

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