Com o título desse artigo o jurista Modesto Carvalhosa adjetivou todas as instâncias de todos os poderes constituídos de nossa jovem e escandalosa república. Teria ele razão, ou trata-se apenas de retórica moralista?
Podemos observar, com clareza que nos deveria corar as faces, indícios os mais graves de variados desvios. Assim como o futebol, também não inventamos a corrupção ou como já ouvi dizer a CPF (comissão por fora), mas assim como com a redonda, também nesse esporte parece que nossos conterrâneos têm aquele algo mais, ou menos, que eleva a prática ao estado da arte. Tive uma profunda decepção ao ler Gomorra, do escritor italiano Roberto Saviano, para quem vivencia a política brasileira o livro tem ares de literatura infanto-juvenil. Competir com a realidade tupiniquim, como perceberam os autores de House Of Cards, não é fácil.
De Triplex no Guarujá a auxilio moradia de juízes e outros, com hábitos alimentares menos ortodoxos, nossa república amarga a imoralidade de atores que, quando flagrados, se defendem nas minúcias hermenêuticas da lei ou na retórica pós-guerra de perseguidos políticos. Vale tudo para manter privilégios e escapar incólumes, ou com o menor nível de danos possível, das consequências dos atos praticados. O “whataboutismo” do “mas e o fulano?” talvez seja o mais debochado e cínico dos argumentos dos debates políticos na terra das palmeiras aonde canta o sabiá.
Ao tentar, através de inversão de significados e repetição contínua, transformar os crimes comuns de Lula em crimes ou perseguição políticos, seus seguidores repetem a velha fórmula já tantas vezes usadas com sucesso pelas esquerdas mundo afora. Bolsonaro, por sua vez, abusa da truculência para constranger aqueles que ousam o escrutinar. Prática adotada por muitos professores quando questionados por alunos, eu mesmo tive alguns assim, escondiam a incompetência sob o manto da arrogância. Já os juízes… os juízes nem se preocupam em responder questões morais postas por meros mortais. Quem somos nós para por a prova o valor dos semideuses de nossa república?
Espero que sejamos capazes de paulatinamente aperfeiçoar nosso sistema, eliminando os canalhas e evitando os “salvadores da pátria” que vez por outra surgem e se tornam em curto prazo grandes decepções. Vemos, com certo ineditismo, alguns figurões sendo condenados e presos. Ainda há muitos que o merecem ser e o judiciário precisa ter seus membros desvairados sendo responsabilizados. Ouso acreditar que o Brasil tem jeito, apesar das cascas de banana, das jabuticabas e dos chequinhos que encontraremos pelo caminho.