“Riacho do Navio/ Corre pro Pajeú/ O rio Pajeú vai despejar/ No São Francisco/ O rio São Francisco vai bater no mei do mar…” A melodia ritmada de Luiz Gonzaga dá uma ideia simples do que é uma bacia hídrica. Na verdade, ela é mais complexa que isso. Uma bacia tem um rio principal com rios secundários, rios terciários e muitos outros. O rio principal desemboca numa lagoa ou no mar.
A Baixada Campista foi construída por dois sistemas hídricos. O principal é o do Paraíba do Sul. O segundo é… Fica difícil nomeá-lo porque não se trata de um rio apenas, mas sim de um complexo de rios e lagoas. No passado, eu daria a ele o nome do último rio – Iguaçu –, que saía da lagoa Feia e chegava ao mar. Hoje, vou denominá-lo de sistema Ururaí, por ser este rio bem conhecido. O primeiro integrante da bacia é o rio Imbé e todos os que desembocam nele. O Imbé desemboca na lagoa de Cima, assim como o Urubu, e escoa pelo Ururaí até a lagoa Feia, que hoje chega ao mar pelo construído canal da Flecha.
Os dois sistemas ou cruzavam lagoas ou tinham lagoas em suas margens ligadas a eles por canais naturais ou não. Entre os dois também existiam defluentes — rios que saem de outro, ao contrário do afluente — que nasciam no Paraíba do Sul e engrossavam o rio Iguaçu por conta da ligeira declividade da planície.
Na visão de uma geometria euclidiana, a baixada era um verdadeiro caos. Para um naturalista, era um caos maravilhoso pela complexidade e pela biodiversidade. Para aumentar áreas para a agropecuária, o Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS) substituiu o rio Iguaçu pelo canal da Flecha e escavou canais retilíneos das lagoas para os dois sistemas hídricos. A finalidade era drenar as lagoas e aproveitar seu leito para atividades econômicas.
A cidade de Campos alastrou-se de forma desordenada sobre lavouras e pastos. Como as lagoas da planície são muito rasas, entendeu-se que não era necessário tamponar seus leitos vazios para a nivelação do terreno. Terra para isso só na margem esquerda do Paraíba do Sul, área de tabuleiros, que já se esgotam com a extração de terra. Para agravar mais a dificuldade de drenagem, os canais abertos para tanto se transformaram em valas de esgoto e depósito de lixo. Os moradores de Campos não sabem como os canais deixados pelo DNOS são importantes para uma planície aluvial. Assim, com uma chuva mais intensa, Campos alaga.
Já escrevi muito sobre esse assunto. Dessa vez, particularmente, quero tratar da drenagem urbana na borda da cidade onde ficam os bairros Parque São Lino, Parque Dr. Beda, Parque Rui Barbosa e Parque São Benedito, todos eles extensão do Parque Aurora. E a expansão continua numa área verde em direção ao canal de Tocos. Pelo visto, nenhuma providência será tomada para impedir o inchaço urbano. No passado, onde estão esses bairros, existiam muitas lagoas. Num mapa de 1954, Alberto Ribeiro Lamego ainda as registrou, nomeando as lagoas da Caraca e da Barata, assim como o brejo do Cachorangongo. A lagoa da Piabanha drenada ainda não foi alcançada pela cidade e tinha fundamental importância para a baixada.
Para drenar as lagoas nas terras para onde, futuramente, a cidade cresceria e daria lugar a novos bairros, sendo o Parque Aurora, o DNOS abriu o canal do Rosário. Segundo informação pessoal do Engenheiro Agrônomo José Carlos Mendonça, ele foi canalizado sob a rua Doutor Beda, ficando com um trecho aberto de aproximadamente 1,500 m. Ele desemboca no canal de Tocos que nasce no canal Campos-Macaé que desemboca na lagoa do Jacaré, que é associada à lagoa Feia. Portanto, de forma artificial, ele foi incorporado ao sistema Ururaí.
Canais ao sul da cidade de Campos
Tanto ele quanto o canal Santo Antônio, também afluente do canal de Tocos, contribuem para a drenagem urbana. Como todos os canais que cortam a cidade ou que a cidade abraçou, a visão da população sobre eles é bastante negativa. Por isso, eles recebem esgoto clandestino e lixo. Ficam entupidos por resíduos e por vegetação que cresce por conta dos nutrientes contidos no esgoto, pela lâmina d’água delgada e pela luz do sol. Quando chove, eles transbordam e geram reclamações dos moradores que os entupiram. Então, a prefeitura efetua uma limpeza superficial neles para tudo começar novamente na próxima estação chuvosa.
Há quem reclame daqueles que criticam o governo municipal e não fazem proposições. Não sou desses. Proponho que o governo coloque em discussão o quanto antes a revisão do Plano Diretor de 2008 e a questão da macrodrenagem urbana. Existem um plano talvez defasado por nunca ter sido aplicado e um conselho específico para o assunto. A partir de então, voltemos a proceder a um diagnóstico dos canais no entorno de Campos e um plano de recuperação e proteção da rede. Se a questão não for tratada de forma estrutural, anualmente continuaremos a fazer intervenções paliativas.
Simples assim…conhecimento histórico e técnica salvam milhares de vidas e dinheiro. Ótimo documento concentrando um elaborado aviso aos órgãos competentes. Este tipo de apoio e estudo gratuito é fundamental e louvável a todos cidadãos de bem. Obrigado professor pelo conhecimento e exemplo.
A PERGUNTA É O SEGUINTE:INDEPENDENTE GOVERNO PASSADO! TEM MOSTRAR SERVIÇO E EFICÁCIA TRABALHO POXA!! FICAM NESSE JOGO EMPURRA EMPURRA!!! MOSTRA A CAPACIDADE TEM E ESTUDOU PRA QUÊ?ENTÃO!