Alexandre Buchaul — Quem poderá nos defender?

 

Bandeira do Brasil hasteada pelas forças de Segurança Pública no alto do Morro do Alemão, em 28 de novembro de 2010

 

 

 

Há mais de trinta anos nos perguntamos isso, há mais de trinta anos ouvimos promessas, discursos inflamados e presepadas de todo tipo. Agora, será diferente?

Desde Brizola o crime só tem feito crescer sob nossos narizes, cansei de, ainda criança, assistir aterrorizado as cenas de arrastões nas praias do Rio de Janeiro e, ainda mais incrédulo, ao governador de então dizer que o problema era social, chegou-se, salvo engano, a construir, ou planejar construir, piscinas nos morros, como solução para os arrastões. Medida duplamente cretina, por acusar os moradores dos morros de terem o comportamento criminoso como cultura e por transferir para a desigualdade social e, portanto, para a sociedade, a responsabilidade pelo comportamento criminoso de alguns indivíduos.

Moreira Franco, Marcelo Alencar e Benedita tiveram atuações tão apagadas que chego a me esquecer que foram governadores. Muito embora, não sei o que foi pior, se a atuação “sem sal” desses ou a catastrófica a ponto de deixar traumas dos demais. De Brizola a Pezão, passando pela greve de fome do Garotinho, que chegou a se nomear secretário de segurança no governo da esposa, o Rio sempre teve o dedo podre para escolhas políticas e, talvez sirva de atenuante, poucas opções além do de sempre.

 

ECO 92, quando líderes mundiais se reuniram no Rio de Janeiro ocupado pelas Forças Armadas brasileiras

 

As atuações das forças armadas sempre se deram para apaziguar o Rio nos períodos de grandes eventos, o primeiro de que me lembro foi a ECO 92, tínhamos uma excursão da escola para a capital, eu estava na então quinta série, tinha apenas 11 anos quando isso aconteceu, mas me lembro com clareza que a segurança era motivo de apreensão. Durante o evento o Rio parecia o paraíso, após, volta tudo a ser como antes. Assim também o fora em todos os demais eventos de grande proporção e repercussão internacional visita do Papa, Copa do Mundo, Olimpíada…

Estatíticas oficiais da expansão das milícias pelo Estado do Rio

O desespero do cidadão fluminense com a escalada de violência é tamanho que quando do surgimento das milícias houve comoção social, as matérias na imprensa noticiavam que militares aposentados ou de folga estavam fazendo o que o Estado não fazia, tinham se unido para expulsar os traficantes das favelas… deu no que deu. Boa parte de nosso legislativo, alguns falam em 38%, tem ligação com grupos criminosos (milicianos). Por falar em deputados, onde eles estavam nos últimos 30 anos? Temos deputados que se reelegem para a Alerj ao longo de boa parte dessas três décadas, são sócios de todos os governos desde lá, são cúmplices das mazelas por que passa o Rio, mas agora posam indignados com dedos apontados ao governador.

Estados vizinhos já temem pelo resultado da intervenção federal, que apesar de necessária, não sana os problemas. Assim como a ação conjunta de Colômbia e Estados Unidos enfraqueceu os cartéis colombianos, mas fortaleceu os mexicanos. A atuação pontual no Rio pode favorecer facções criminosas de outros estados, mesmo dentro do Rio isso já acontece, a atuação policial numa favela a faz ser em seguida tomada por membros de outra quadrilha ou por milicianos.

Quem, como eu, se emocionou com o hasteamento da bandeira do Brasil no topo do Morro do Alemão espera por soluções, mas com a safra de políticos que temos, tenho medo de que a resposta à pergunta do título “E agora, quem poderá nos defender?” seja respondida com “ Eu, o Chapolin Colorado!”

 

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Este post tem 2 comentários

  1. Dalton Freire

    A violência e a criminalidade que assustam tanto as pessoas estão intimamente ligadas à exclusão social. Não são pura e simplesmente um problema de polícia. Estranhei não encontrar no texto acima nenhuma alusão a esse fator. O que nos defenderia dessa violência seria não ter sido condenada toda uma geração de jovens pobres e miseráveis ao limbo da ignorância e do apartheid social, transformando-os em soldados do crime, por inércia do Estado em prover o mínimo de Educação e oportunidade de trabalho digna a eles. Dois fatos são importantes de ressaltar – o boicote ao projeto dos CIEPs e a crise econômica atual, agravada e aprofundada pelo golpe de estado. O primeiro, provocou uma profecia de Darcy Ribeiro, que declarou que faltariam presídios no Brasil, e o segundo, a crise, fez com que os jovens que estavam saindo das hostes do tráfico para trabalhar nas obras do PAC, fizessem o caminho de volta agora. Estão aí, no meu entender, as raízes desse problema no nosso país. Mas, é mas fácil olhar para as folhas, quando começam a cair…

    1. Alexandre Buchaul de Azevedo

      Os CIEPs foram de fato um belo projeto, jamais implantado na totalidade e então abandonado. Causas sociais não podem ser as únicas responsabilizadas pela criminalidade, já dizia Aristóteles que o desejo, mais que a necessidade, dá razão aos desvios. Entretanto, não se pode ignorar o fator exclusão na determinação de políticas públicas. Crescimento econômico capaz de gerar oportunidades, educação que responda as necessidades atuais, a proteção e o reforço dos vínculos familiares e valores que fundaram nossa sociedade devem estar entre as preocupações de todos os “fazedores de política”. Obrigado por comentar!

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