Intitulada “Temer, Lula e Justiça em debate”, a matéria de observação e análise publicada hoje (aqui) neste blog e na Folha foi pensada inicialmente como artigo de opinião. Como os cruzamentos do Judiciário com a política nacional são complexos, o texto cresceu e acabou convertido em matéria de fundo. Nela, se tentou interpretar fatos como o julgamento do Habeas Corpus do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Supremo Tribunal Federal (STF) e o cerco da Justiça se apertando sobre o presidente Michel Temer (MDB).
Sobre o atual governo do Brasil, o jornalista Elio Gaspari também analisou a impressionante sucessão dos fatos. E os mais recentes foram as prisões pedidas pela procuradora geral da República, Rachel Dodge, e autorizadas pelo ministro do STF Luís Roberto Barroso. Na operação Skala, vários nomes intimamente ligados a Temer foram presos na última quinta (29). E, tão inesperada quanto a operação, foi a liberação dos presos apenas dois dias depois, na noite de sábado (31).
Em sua coluna publicada hoje em jornais como O Globo e Folha de São Paulo, Elio Gaspari chegou a conclusões semelhantes, e publicadas no mesmo dia, às da matéria da Folha (da Manhã). Esta apostou: “Para muitos analistas, o governo Michel Temer (MDB) morreu na última quinta (29) — véspera de Sexta da Paixão e sem esperança de ressurreição”. Já Gaspari afirmou sobre o presidente: “Com o escândalo de suas relações perigosas e da MP dos Portos na vitrine, seu governo continua, mas acabou”.
Em outro ponto, Gaspari concluiu: “o tempo corre a seu favor (de Temer), pois faltam só seis meses para e eleição”. E matéria que reproduziu da planície goitacá a mesma visão sobre o Palácio do Planalto, fez a ressalva: “O presidente provavelmente não cairá porque estamos a pouco mais de seis meses de eleger seu sucessor. Mas governará como morto-vivo no meio ano que lhe resta”.
Não sem orgulho por andar bem próximo e ao mesmo tempo com quem considero o maior jornalista brasileiro vivo, confira aqui e na transcrição abaixo a íntegra da nota de Elio Gaspari:
O ministro Barroso flechou Temer
Michel Temer está convencido de que, se não tivesse sido bombardeado pelo grampo de Joesley Batista, teria aprovado a reforma da Previdência e o destino de seu governo seria outro. O problema é que foi ele quem abriu a porta do Jaburu para o empresário.
Temer parece ser uma reencarnação do sujeito que estava em Hiroshima, tomou um trem e foi para Nagasaki, sobrevivendo a duas bombas atômicas. Com o escândalo de suas relações perigosas e da MP dos Portos na vitrine, seu governo continua, mas acabou.
O ministro Luís Roberto Barroso teria achado o mapa da Ilha do Tesouro e não haverá “jogada de mestre” capaz de recolocá-lo de pé. Apesar disso, resta a Temer a oportunidade de presidir a campanha eleitoral como o presidente que gostaria de ter sido.
A campanha parece apenas radicalizada, mas está acima de tudo desorientada. O candidato que lidera as pesquisas está mais perto da cadeia do que do Planalto. Sonha-se com um nome que una o centro, mas ninguém sabe o que vem a ser esse centro, além de um disfarce do “mais do mesmo” que produziu as geleias dos plenários do Congresso e do Supremo Tribunal Federal.
Temer não é responsável por essa confusão, mas ajudaria a clarear as águas se fechasse sua agência de marquetagens.
Havendo uma denúncia da procuradora-geral, ela corroerá a imaginação dos çábios do palácio, mas é improvável que essa iniciativa leve à sua deposição. Afinal, não há um vice conspirando contra ele e o tempo corre a seu favor, pois faltam só seis meses para e eleição.