Para a época em que Cristovão Colombo partiu do Porto de Palos, em 1492, com o objetivo de achar uma rota até as Índias pelo leste, era de conhecimento geral, dentre a população ilustrada, que a Terra era redonda. Apenas os ignorantes e os supersticiosos (pagãos ou religiosos) acreditavam que o mundo se sustentava sobre elefantes parados numa tartaruga gigante.
Forçando no paralelismo, diria que hoje apenas os supersticiosos (pagãos ou religiosos) não acreditam no liberalismo econômico (capitalismo) como a melhor ferramenta de desenvolvimento humano. Aliás, é a filosofia econômica utilizada em quase todos os países e, mal que lhes pese a alguns — de um lado e do outro — é a que o PT também utilizou durante seus 13 anos no governo federal.
O capitalismo pode ser clientelista (América Latina); integrado a um Welfare State eficiente (Europa); anárquico (África); tutelado por uma ditadura (China), ou de estado mínimo (Estados Unidos). Dependendo da subcategoria, proporciona mais ou menos qualidade de vida. No entanto, em qualquer caso, há uma constante: o progresso. Tirando as exceções como os países em guerra civil, ao analisar as estatísticas dos últimos dois séculos, nota-se uma melhora inegável no desenvolvimento humano.
Chama a atenção, no entanto, que sendo o Brasil um país com 35 partidos políticos registrados no TSE, aqueles que abraçam a causa liberal sejam contados com os dedos de uma mão. E desses poucos partidos que se dizem liberais, praticamente todos limitam o liberalismo à questão econômica.
Faça-se a seguinte experiência: pegue um autodenominado ‘liberal brasileiro’, e pergunte a ele o que acha da liberação das drogas, ou do aborto. Aí você comprovará o quanto ele é realmente liberal. Até João Amoedo, candidato a presidente pelo Partido Novo, um dos partidos liberais com a proposta mais original que tenha surgido nos últimos tempos, é contra.
Um verdadeiro liberal, entendo eu, deveria ser uma pessoa que não apenas simpatize com a noção essencial de que não existe impulso maior para o progresso humano do que a ambição particular, num contexto onde o estado (sim, ele precisa existir) garante as condições básicas de justiça, competitividade, segurança e assistência social. Até aqui temos um conservador. Para ser liberal mesmo tem que abraçar a ideia de respeito ao próximo. E quando digo respeito digo também indiferença. Indiferença para o que pensa, para o que incorpora ao seu corpo, para o que veste e para as pessoas que elege levar à cama. Afinal, um moralista não é outra pessoa que alguém que se importa demais com a vida dos outros.
Se entendemos que o estado intromete demais no nosso bolso, para fazer mal aquilo que acha certo para nós, porque não haveríamos de pensar igual para outros aspectos da existência?
Ainda aguardo um verdadeiro liberal que me represente.