Bolsonaro lidera sem Lula, PT queima navios e Ciro navega à direita

 

 

 

Lula e Bolsonaro lideram

Divulgada ontem, a pesquisa CNT/MDA confirmou duas tendências relevadas nas consultas anteriores: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda é o político mais popular do Brasil, com 32,4% das intenções de voto ao Palácio do Planalto. Mas preso pela Lava Jato e provavelmente fora da eleição pela Lei da Ficha Limpa, sem Lula o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL) lidera a corrida presidencial. Com 18,3%, ele foi seguido fora da margem de erro pela ex-senadora Marina Silva (Rede), com 11,2%; pelo ex-ministro Ciro Gomes (PDT), com 9%; e pelo ex-governador paulistano Gerado Alckmin (PSDB), com 5,3%.

 

Sem Lula, Bolsonaro

Feita entre 9 e 12 de maio, com 2.002 pessoas de 137 cidades brasileiras e margem de erro de 2,2 pontos percentuais para mais ou menos, a pesquisa CNT foi a primeira já sem o nome do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa (PSB), que anunciou no dia 8 sua decisão de não concorrer em outubro. A liderança de Bolsonaro fora da margem já havia sido constatada na consulta anterior, feita pelo instituto Paraná entre 27 de abril e 2 de maio. Nela, a vantagem do presidenciável de extrema direita foi ainda maior: 20,5% das intenções de voto, enquanto Marina ficou com 12% — 8,5 pontos, contra os 7,1 da CNT.

 

Capitão bateu teto?

Apesar da liderança, a série da CNT indica que Bolsonaro já pode ter batido seu teto. Na pesquisa anterior do mesmo instituto, realizada entre 28 de fevereiro e 3 de março, ele liderou entre 20% a 20,9% nos três cenários sem Lula. Mesmo dentro da margem de erro, o ex-capitão do Exército registrou queda de cerca de dois pontos na comparação com a consulta divulgada ontem. O fato é que, pela CNT, ele não cresceu suas intenções de voto nos últimos dois meses. Mesmo com sua prisão neste período, Lula também caiu pouco: dos 33,4% do início de março aos 32,4% de agora.

 

Prisão justa para 51%

Apesar de, dentro da margem de erro, ter mantido seu percentual de intenções de voto nas duas consultas CNT, a última registrou um dado preocupante ao líder petista: sua prisão em 7 de abril, pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, foi justa para 51% da população. Outros 38,6% a consideraram injusta, enquanto 10,4% não souberam ou quiseram responder. Diante de uma pergunta diferente, 49,9% dos entrevistados disseram não acreditar que Lula disputará o pleito presidencial de outubro. Mas 40,8% ainda apostam na possibilidade, enquanto 9,3% não souberam ou quiseram responder.

 

PT queima navios

Desde 6 de fevereiro, ao tomar posse da presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ministro Luiz Fux garantiu que a “Justiça será irredutível na aplicação da Lei da Ficha Limpa”. Foi apenas 12 dias após o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) ter condenado Lula a 12 anos e um mês de prisão, em decisão unânime, no caso do triplex do Guarujá. Preso há cinco semanas, o ex-presidente teria dado a ordem para o PT descartar a aliança com a vice na chapa de Ciro. Ex-porta-voz do governo Lula, André Singer escreveu na Folha de São Paulo do dia último12: “Ciro começou a carreira no PDS (ex-Arena) e militou por muito tempo no PSDB”.

 

Ciro à direita

Descartado pelo PT numa união das esquerdas, Ciro já se declarou favorável à prisão após condenação em segunda instância e agora busca um vice ligado ao centro-direita político e ao grande capital nacional. Após ter sondado o presidente da Coteminas, Josué de Alencar (filho de José de Alencar, falecido ex-vice-presidente de Lula), o presidenciável do PDT agora flerta com Benjamin Steinbruch para compor a sua chapa. Filiado ao PP, ele é banqueiro, presidente do consórcio privado que controla a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e um dos homes mais ricos do país.

 

Esquerda mal

Contradições ideológicas à parte, Ciro pode não estar pragmaticamente equivocado. Apesar de líder na pesquisa CNT, Lula ainda não parece ser capaz de transferir seu imenso capital eleitoral ao petista mais provável para substitui-lo: o ex-prefeito paulistano Fernando Haddad não foi além dos 2,3%. Presidenciáveis mais à esquerda foram ainda pior: a deputada estadual Manuela D’Ávila (PCdoB) cravou 0,9%, enquanto o líder do MTST Guilherme Boulos (Psol) anotou 0,6%. Mas como os indecisos, brancos e nulos chegaram a 45,7%, 2,5 vezes mais que as intenções de voto em Bolsonaro, tudo pode estar ainda em aberto.

 

Publicado hoje (15) na Folha da Manhã

 

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Este post tem um comentário

  1. Pedro

    Inteligente interpretação das pesquisas e dos fatos. Parabéns!!

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