Após listar aqui as seleções favoritas na Copa da Rússia — Alemanha, Brasil, Espanha, França e Argentina — o leitor Fernando perguntou aqui: “E não terá nenhuma supresa?”. Sempre há. Há aquelas seleções que decepcionarão e voltarão mais cedo para casa. Campeãs, respectivamente, em 1998, 2006 e 2010, a França, a Itália e a Espanha sequer passaram pela primeira fase nas Copas seguintes, em 2002, 2010 e 2014. Até um bicampeão, como o Brasil em 1958 e 62, também não foi além da fase de grupos na Copa de 1966.
Em contrapartida, sempre há aquelas seleções das quais ninguém espera muito, mas surpreendem positivamente. Embora nunca tenham chegado à final. Foi o caso da Camarões de Roger Milla, que só caiu na prorrogação das quartas de final de 1990, após colocar a Inglaterra na roda de bobo; da Bulgária de Hristo Stoichkov, 4ª colocada em 94; da Croácia de Davor Suker, 3ª em 98; da Turquia de Hakan Sükür, 3ª em 2002; do Portugal de Luís Figo, 4º em 2006; do Uruguai de Diego Forlán, 4º em 2010; e da Costa Rica do goleiro Keylor Navas, que em 2014 derrotou Uruguai e Itália na primeira fase, empatando com a Inglaterra, para só cair nas quartas de final, na disputa de pênatis, após empatar sem gols e no tempo normal e prorrogação contra a Holanda.
Supresas como as listadas nos dois parágrafos acima são impossíveis de se prever. Mas, se tivesse que apostar em seleções com potencial para fazer uma bela campanha, mesmo sem talvez romper o tabu de chegar à final, listaria três:
1) a Bélgica, cuja geração dos meias Eden Hazard e Kevin De Bruyne, respectivamente do Chelsea e do Manchester City, é muito boa — a melhor desde a que encantou o mundo nos anos 1980, com Eric Gerets e Enzo Scifo — e já pegou rodagem após cair nas quartas de final de 2014;
2) Portugal, cuja conquista da Eurocopa de 2016 indica que finalmente se conseguiu montar uma equipe equilibrada para dar suporte ao talento de Cristiano Ronaldo, eleito melhor jogador do mundo cinco vezes pela Fifa, mas ainda sem dizer a que veio em Copas do Mundo;
3) e a Croácia, grande herdeira da clássica escola da ex-Iugoslávia, os “brasileiros do Leste Europeu”, que pega um grupo difícil, com a Argentina de Messi e a sempre temida Nigéria, mas tem em Luka Mocric, meia do Real Madrid, um dos maiores organizadores do futebol mundial.
Muito provavelmente, alguma seleção não listada entre as três opções acima, surpreenderá positivamente. Alguma equipe africana sempre aparece bem. Além da já citada Nigéria, pode ser o Senegal ou o Egito, que deposita suas esperanças no talento do craque Mohamed Salah, astro do Liverpool, mas vem de contusão e é dúvida nesta sexta contra o Uruguai dos perigosos atacantes Luisito Suárez e Edson Cavani, respectivamente do Barcelona e Paris Saint-Germain.
Num grupo teoricamente fácil, talvez a Colômbia possa repetir ou até superar a boa campanha de quatro anos atrás, quando caiu nas quartas de final. Seu grande craque, o meia-esquerda James Rodriguez foi a revelação da Copa de 2014. E marcou o gol mais bonito da competição, na vitória de 2 a 0 sobre o Uruguai. Mas o jogador foi para o Bayer de Munique, após não ter emplacado no Real Madrid.
Em condições normais, o México do veterano zagueiro Rafa Márquez, que vai disputar sua quinta Copa, é conhecido por endurecer contra os grandes. Assim como a velocidade e a aplicação tática da Coreia do Sul — 4ª colocada na Copa que sediou em 2002, junto com o Japão — podem complicar a vida dos favoritos. Mas mexicanos e sul-coreanos cairam no mesmo grupo da poderosa Alemanha, que tem ainda a Suécia, vice-campeã em 1958 e 3ª em 50 e 94.
O futebol é jogado por homens. E, como ressalvou o filósofo espanhol Ortega y Gasset: “o homem é ele e suas circunstâncias”.