No contexto dos recentes movimentos pró desenvolvimento, lideranças políticas e empresariais da região Norte Fluminense se mobilizam trazendo no contexto da discussão, elementos como união e parceria para atração de grandes empresas para a redenção econômica regional. Realmente as iniciativas são importantes, porém a formatação do problema e as expectativas consideradas precisam ser repensadas. Parece que ainda não nos descolamos da política regional dos anos 1960 e 1970, voltada para reduzir as disparidades regionais nos países em desenvolvimento, fundamentalmente, América Latina e Ásia. Nesse período, a estratégia de atração de empresas para regiões atrasadas se constituía em um dos principais objetivos da política de desenvolvimento regional. O desdobramento dessa política regional, recentemente, tem se concentrado no uso dos recursos naturais.
A crítica ao modelo de atração de grandes empresas como instrumento de desenvolvimento está assentada em experiências frustradas, tais como o Distrito Industrial de Campos e o Fundo de Desenvolvimento de Campos (Fundecam), cujas expectativas eram de que o segmento industrial seria potencializado. Com base no desdobramento através do uso de recursos naturais para o desenvolvimento, o complexo industrial Farol/Barra do Furado e o porto do Açu, depois de uma década, estão longe das expectativas criadas.
Distante dos discursos políticos e de interesse coorporativos, Campos dos Goytacazes como a maior cidade do interior, produtora de petróleo e na trajetória do porto do Açu, só consegue gerar emprego no período sazonal de operação da indústria sucroalcooleira em decadência. Apesar da forte estrutura de serviços públicos com salários importantes (justiça, universidades, bancos, etc.) apresenta uma renda média mensal do trabalho salarial em torno de 2,5 salários mínimos, acentuando uma forte concentração de renda.
Por outro lado, a expectativa de independência dos royalties de petróleo, a partir do fortalecimento da atividade agropecuária, soa como discurso vazio, já que parece existir desconhecimento sobre a real condição desse setor. Campos dos Goytacazes apresenta uma participação relativa ínfima de 4,44% da renda agrícola total do estado, enquanto a região Norte Fluminense representa 18,04% de participação. Na composição da renda pecuária leiteira, o município tem uma participação de 5,19%, enquanto a região representa 13,85% de participação.
Podemos observar claramente a fragilidade individual do principal município do interior na questão agropecuária. Um diagnóstico bem estruturado diria que essas atividades não se viabilizam competitivamente, considerando a organização atual nos moldes microeconômicos. São altos os custos de transação, a escala de produção é insuficiente, existe baixa eficiência operacional e de gestão, os recursos financeiros são escassos e, fundamentalmente, existe carência de informação. Nesse caso, afirmo que a “virada de mesa” exige repensar a organização do setor.
Parece simples, mas é algo altamente complexo. O fundamento está na construção de capital social, aspecto intrínseco a capacidade de atuar coletivamente com base na confiança e reciprocidade. Assim a base micro evolui para uma base mesoeconômica. A unidade produtiva considerada passa a ser o território que integra a produção da unidade individual. Um outro aspecto complementar é a figura da governança que norteia o processo de interação entre o conhecimento, as unidades produtivas e o governo. A combinação exitosa desse modelo tende a resolver problemas já elencados da unidade microeconômica. Esse estágio acentua uma rede de proteção capaz de inserir pequenas regiões periféricas ao sistema capitalista excludente, reduzindo as desigualdades econômicas e sociais. É preciso exercitar esse novo processo, através de projetos piloto.