Como um tango, foi dramático. Mas a vaga argentina às oitavas de final foi conquistada no gol do zagueiro Marcos Rojo, com estilo de atacante, aos 43 do segundo tempo. O placar final repetiu o do primeiro confronto entre Argentina e Nigéria em Copas do Mundo. Em 1994, los hermanos também bateram os africanos por 2 a 1.
Antes do jogo de hoje, o camisa 10 da Nigéria, Obi Mikel, falou sobre seu oposto: “um grande jogador não joga mal três jogos seguidos. E, para mim, Messi é o maior jogador de futebol que já existiu”. Fazia referência às atuações apagadas do 10 argentino no empate de 1 a 1 com a Islândia e na derrota por 3 a 0 contra a Croácia.
Ao entrar em campo com a escalação que os jogadores impuseram ao técnico Jorge Sampaoli, a Argentina impôs seu toque de bola no primeiro tempo. Um dos principais motivos foi a boa atuação do meia Éver Banega. Foi ele que, aos 14 minutos, achou seu camisa 10 em penetração pela direita, num passe de 35 metros. Na corrida entre dois zagueiros nigerianos, Messi matou na coxa esquerda, deu mais um toque com o bico da mesma perna e bateu cruzado de direita.
Diego Maradona, que assistia ao jogo e dava seu show à parte nas tribunas, assinaria a obra. Mas só se, em seu tempo de gênio dos campos, ele tivesse uma perna direita como a do também canhoto Messi. Na dúvida, após o gol, os grandes craques argentinos do passado e do presente demonstraram certeza ao agradecer pela fonte da inspiração, levantando suas mãos e faces em direção ao céu.
No primeiro tempo, Messi ainda colocaria Gonzalo Higuaín na cara do gol, além de bater uma falta com muita categoria. Mas Higauín perdeu a chance e a cobrança de falta, caprichosamente, bateu na trave.
Antes dos times voltarem à segunda etapa, o sempre reservado Messi surpreendeu ao assumir a condição de capitão e puxar sua equipe com palavras de incentivo. Mas logo aos seis minutos, o juiz turco Cüneyt Çakir inventou um pênalti do volante Javier Masquerano. Sem ter nada a ver com isso, o meia africano Victor Moses deslocou o goleiro Franco Armani na cobrança, para empatar.
Após o gol nigeriano, os argentinos sentiram o golpe e cairam muito de rendimento. Passaram a buscar a vitória menos na qualidade técnica ou organização tática, do que na raça personificada pelo rosto ensanguentado de Masquerano.
Com zagueiro virando atacante, Rojo daria à sua apaixonada torcida a vitória e a permanência na Copa da Rússia. Emblematicamente, ao comemorar seu gol, ele levou Messi, apelidado de “Pulga”, agarrado nas costas.
A Argentina agora encara a forte seleção da França nas oitavas, às 11h do próximo sábado (30). Menos pelo que apresentaram hoje, no vexatório 0 a 0 com a Dinamarca, do que pelo potencial técnico dos seus jovens jogadores, os franceses são os favoritos. Mas terão pela frente quem hoje mostrou estar disposto a provar que ainda é o melhor jogador de futebol da Terra.
Após perder o pênalti contra o Irã, colocando Portugal em rota de colisão com o contagiante Uruguai de Luisito Suárez, Cristiano Ronaldo pode colocar de molho a sua barbicha de goat (aqui e aqui) — abreviação de “greatest of all time”: melhor de todos os tempos. Se assistiu ao jogo de hoje, o atacante português pode ter sentido o “Pulga” morder atrás da sua orelha.