Museu Nacional
Talvez nada exemplifique melhor a decadência do Brasil do que incêndio do Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, Zona Norte do Rio, entre domingo e segunda. A perda não se restringiu ao patrimônio arquitetônico da antiga residência da família imperial e palco da primeira Constituinte da República. O acervo histórico, antropológico, paleontológico e linguístico consumido pelas chamas jamais será recuperado. Duzentos anos de trabalhos e pesquisas foram transformados em cinzas. Que, como tudo mais no país, serviram de combustível para “coxinhas” e “mortadelas” arderem suas vaidades na fogueira das redes sociais.
Mudará?
As causas do fogo ainda não foram definidas. Mas é absurdo se culpar uma reitoria “aparelhada” da UFRJ, responsável pela manutenção do Museu, toda composta por filiados do Psol, PCdoB e PCB. O abandono da instituição era a tônica na administração Michel Temer (MDB). Como foi nos 13 anos anteriores em que o PT comandou o país. Ou antes, nos oito anos da gestão tucana de Fernando Henrique Cardoso. E, se não fosse o incêndio, alguém arriscaria a mão ao fogo para garantir que algo mudaria no próximo governo? Mudará, independente de quem for eleito presidente no próximo mês?
O inferno
Em 2004, então secretário estadual de Energia e Indústria Naval, Wagner Victer disse: “O Museu Nacional vai pegar fogo. São fiações expostas, mal conservadas, uma situação de total irresponsabilidade”. A profecia se cumpriu 14 anos depois. Hoje, simbolicamente, Victer é secretário estadual de Educação. A tragédia foi fruto do abandono que se repete em prédios históricos de todo o país, inclusive Campos, como evidencia a Folha Dois desta edição. A responsabilidade não é só do governo, em suas três esferas. É de cada um que assiste passivo para depois querer protestar. O inferno que ardeu no Museu Nacional não são os outros.
Extinção de Luzia
Na semana em que o Brasil comemora seus 196 anos de independência, do prédio que abrigou também a assinatura da proclamação de independência, ficou apenas a fachada. Cerca de 90% do acervo do Museu Nacional foi destruído pelas chamas. Entre os poucos sobreviventes, está o meteoro de Bendegó, maior já encontrado no país. Do que foi perdido, está o crânio de “Luzia”, registro fóssil humano mais antigo da América, datado de 12,5 mil a 13 mil anos atrás. Encontrado em Minas Gerais, pertenceu a uma mulher entre 20 a 24 anos. E foi preservado por 130 séculos, até encontrar sua extinção definitiva entre nós.
Bolsonaro lidera
Na esperança de que algo possa mudar no país, foi divulgada ontem a primeira pesquisa presidencial após o início da propaganda eleitoral gratuita em TV e rádio, e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) impugnar a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Pelo BTG Pactual, o instituto FSB ouviu 2 mil pessoas por telefone, entre os dias 1 e 2 deste mês. Comparando com a consulta anterior FSB/BTG, feita em 25 e 26 de agosto, Jair Bolsonaro (PSL) não só continua liderando, como cresceu. Na estimulada, ainda que dentro da margem de erro de dois pontos para mais ou menos, ele foi de 24% para 26% das intenções de voto.
Ciro, Marina e Alckmin
Na comparação entre as duas pesquisas do mesmo instituto, a grande novidade aconteceu na segunda colocação. Ela passou a ser ocupada por Ciro Gomes (PDT), que pulou de 8% para 12%. Ainda que no empate técnico, o cearense passou Marina Silva (Rede), que caiu de 15% para 11%. Pela margem de erro, Geraldo Alckmin (PSDB) também está no mesmo bolo, mas patinou com pequena queda: foi de 9% para 8%. Substituto de Lula, Fernando Haddad (PT) teve leve crescimento: de 5% para 6%. João Amoêdo (Novo) manteve os mesmos 4%, assim como Álvaro Dias (Pode) repetiu seus 3%.
Mudança para onde?
Algumas tendências carecem de confirmação com entrevista de rua, sem vantagem ao último nome citado, como é inevitável na consulta estimulada ao telefone. Se Ciro tiver mesmo passado Marina, será a primeira vez em dois anos de pesquisas. Por outro lado, se a campanha agressiva de Alckmin contra Bolsonaro for um tiro pela culatra, a preocupação pode ser maior, após a reação do filho do ex-capitão. Deputado federal, Eduardo Bolsonaro (PSL/SP) respondeu ao tucano no Twitter: “Vamos mudar o Brasil, nem que seja na bala”. Se esta for a mudança que o país busca, o fogo que consumiu Luzia pode ainda queimar muito mais gente.
Publicado hoje (04) na Folha da Manhã
Como sempre, vcs da Folha, em particular o SR., não consegue enxergar que existe um tesoura política entre o psdb e o pt entre outros. A culpa é de todos sim , pois todos são comunistas e socialistas.
Lamentável a Imprensa aparelhada.
Caro Marcos Caldeira,
Tesoura política? Debater com quem aparelha o pensamento a cada novo capítulo do “Brasil Paralelo” é um desafio. Se não intelectual, de paciência.
Mas, falando sério, como vencer a imensa rejeição no segundo turno? Na bala, o tiro só sai pela culatra.
Grato pelo chance de rir e falar sério!
Aluysio