Por Aluysio Abreu Barbosa e Arnaldo Neto
“Nosso governo assume um compromisso com a autonomia das universidades estaduais”: Uerj, Uezo e Uenf. É o que garante a candidata do PT a governadora, Marcia Tiburi, que lembrou a condição de professora universitária para endossar sua promessa. A entrevistada também se comprometeu com a recuperação do rio Paraíba do Sul, a retomada da produção nos campos maduros da Bacia de Campos e um projeto próprio: a construção de uma ferrovia ligando a zona metropolitana do Rio de Janeiro ao Porto do Açu. Com a própria candidatura a governadora, tudo está entrelaçado à perspectiva do PT voltar ao governo federal. As perguntas foram enviadas antes da quinta (06), quando o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) sofreu um atentado a faca em Juiz de Fora, e foi divulgada a última pesquisa Datafolha ao Palácio Guanabara.
Folha da Manhã – No debate da Band, dia 16, a senhora fez várias críticas aos políticos, digamos, mais tradicionais com os quais concorre. Isso não é uma reprodução do discurso anti-política que o PT tenta combater?
Márcia Tiburi – Não. Me filiei ao PT e fui convidada pelo presidente Lula e aceitei o desafio de ser candidata ao governo do Estado do Rio de Janeiro. Acredito na política e na democracia como o melhor caminho para melhorar a vida das pessoas, sobretudo a vida daqueles que mais precisam.
Folha – Não só por ter usado a camisa de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a imagem dele num colar, mas pelo que disse no debate da Band, a senhora passou uma impressão mais de militante do que candidata. Em que essa visão está equivocada?
Márcia – Todos somos militantes do PT, do presidente Lula ao militante do núcleo de base.
Folha – A senhora já disse várias vezes que é candidata a governadora por um pedido do ex-presidente Lula. Sua campanha era encarada como uma trincheira de defesa da candidatura dele a presidente, impugnada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Qual é agora o seu objetivo? Como viu a decisão?
Márcia – O presidente Lula é vítima de uma perseguição de um sistema que não aceita um governo popular, que melhore a vida dos mais pobres, como os governos do PT melhoraram. Vamos lutar pelo registro da candidatura do presidente Lula até as últimas instâncias da Justiça. Como tem dito o Fernando Haddad, vice de Lula, temos o compromisso de lealdade com o presidente Lula.
Folha – Como seu palanque poderá ajudar o presidenciável Fernando Haddad (PT) na conquista do eleitor fluminense? Se ele conta com a transferência de votos de Lula para conseguir estar no segundo turno, a senhora também? Como esse processo se dará? Haverá tempo?
Márcia – Lula é o mais querido dos candidatos a presidente. O PT é o mais querido dos partidos políticos brasileiros, com 29% da preferência, mais do que a soma de todos os outros partidos. Caso a Justiça não cumpra os acordos internacionais assinados pelo país na ONU e o presidente Lula tenha sua candidatura impedida, temos a convicção que o PT e seu candidato vão para o segundo turno. As últimas pesquisas já indicam esse resultado.
Folha – A esquerda fluminense veio com quatro candidatos a governador: a senhora, Tarcísio Motta (Psol), Pedro Fernandes (PDT) e Dayse Oliveira (PSTU). Velho pecado da esquerda brasileira, a divisão não deveria ser evitada, sobretudo em meio à onda conservadora no país?
Márcia – A esquerda brasileira ganhou as últimas quatro eleições presidenciais. Tenho certeza de que a esquerda brasileira vai se unir no segundo turno e vamos ganhar novamente as eleições. O 13 vai unificar a esquerda mais uma vez.
Folha – Flávio Bolsonaro (PSL) está bem nas pesquisas a senador. Embora também seja uma eleição majoritária, não há um candidato a governador declaradamente ligado ao pai dele, o presidenciável Jair Bolsonaro. Que concorrente seu se aproximaria mais desse perfil conservador?
Márcia – Há quatro candidatos ao Senado em empate técnico. Vamos reeleger nosso senador Lindbergh Farias. Sobre quem se aproxima do perfil do candidato do PSL, é uma pergunta a ser feita ao próprio.
Folha – Nas três últimas consultas estimuladas, suas intenções de voto ficaram em 2% no Ibope e Datafolha, e 1,7% na Paraná (as perguntas foram enviadas antes da última pesquisa Datafolha, divulgada no dia 6, em que a candidata do PT repetiu 2%). Tarcísio bateu 5% nos dois primeiros e 4,4% no último (na última Datafolha, subiu a 7%). E ele teve bom desempenho tanto no debate da Band, quanto do jornal O Globo, ao qual a senhora não foi convidada, por estar atrás nas pesquisas. O Psol caminha para sair dessa eleição como maior partido de esquerda no Estado do Rio?
Márcia – O Partidos dos Trabalhadores é o partido mais querido do Brasil, inclusive no Rio de Janeiro.
Folha – No debate da Band, a senhora disse que era a única mulher ali candidata, e que não havia nenhum negro. Identificação que Romário Faria (Pode) avocou para si. Além da cota, o que a senhora e ele precisam mostrar para ganhar a confiança do eleitor?
Márcia – Vamos trazer para o Rio de Janeiro o jeito petista de governar, que foi aprovado pela maioria dos brasileiros nas últimas quatro eleições presidenciais. Junto com o presidente Lula, vamos trazer de volta os investimentos da Petrobras para o Rio de Janeiro, gerando empregos e beneficiando especialmente a região Norte Fluminense. Uma atenção especial vai ser dada ao complexo do Porto de Açu, que tem o potencial de se transformar num polo de desenvolvimento da região. Vamos resgatar a indústria naval e retomar os programas sociais interrompidos por Pezão, apoiado por Eduardo Paes. Criaremos o programa Mais Médicos estadual e reabriremos a rede de Farmácias Populares. Serão criados dois programas de transferência de renda, o Mais Família, complemento do Bolsa Família, e o Segunda Chance, programa de bolsas para incentivar os jovens a permanecerem no ensino médio, e trazer de volta os 380 mil fora das escolas. A bolsa será entregue prioritariamente à mãe e o estudante vai contar ainda com uma tutoria.
Folha – Sob intervenção militar do governo federal, a Segurança é hoje um dos principais problemas do Estado. As execuções da vereadora Marielle Franco (Psol) e do motorista Anderson Gomes estão ainda hoje impunes. Ironicamente, o problema é uma das principais bandeiras de um presidenciável como Bolsonaro. Há solução? Como?
Márcia – Não há ironia na tragédia que o Rio de Janeiro vive hoje. Tem gente morrendo de todo lado. A intervenção foi uma jogada eleitoral que não tinha como dar certo e não deu. Só com inteligência e planejamento vamos conseguir prender quem mais lucra com a criminalidade e a violência.
Folha – Além da violência, o Estado do Rio vive também um quadro de insolvência financeira. O que pensa sobre o regime de recuperação fiscal firmado entre os governos Michel Temer e Luiz Fernando Pezão, ambos do MDB. Propõe algo diferente?
Márcia – Com o PT na presidência, vamos ter um parceiro que vai facilitar a saída da crise. Vamos negociar com a União um novo acordo. Vamos propor um encontro de contas entre o estado do RJ e a União. Só da Lei Kandir, a União deve bilhões ao Rio de Janeiro. A União tem o dever de ajudar o Rio de Janeiro a sair dessa encruzilhada provocada pelas políticas recessivas de Temer, pelos ataques dos privatistas à Petrobras. Vamos equipar a receita estadual e combater a sonegação. Junto com a bancada do Rio de Janeiro no Congresso Nacional, vamos propor uma reforma tributária que vai permitir aumentar a arrecadação sem onerar os mais pobres.
Folha – A face mais cruel da falência financeira do Estado se dá sobre os servidores ativos e inativos. Qual o seu compromisso em honrar mensalmente esses vencimentos?
Márcia – Vamos negociar com a União um novo acordo que vai permitir uma folga maior no nosso orçamento, e garantiremos o pagamento dos vencimentos dos servidores.
Folha – Outra face do caos financeiro se dá sobre o abandono da Uenf e do Colégio Agrícola Antônio Sarlo. No debate da Band, quando perguntados sobre a Uerj, apenas Garotinho, Paes e Tarcísio lembraram que a Uenf também existe. A senhora, não. Por quê?
Márcia – Nosso programa de governo defende o respeito ao pagamento do duodécimo para todas as universidades estaduais, Uerj, Uenf e Uezo. Vamos reverter o processo de desmonte e precarização dos governos anteriores, garantir as condições adequadas, prover recursos humanos, equipamentos para o funcionamento de ambientes de pesquisa e desenvolvimento tecnológico. Sou professora universitária e nosso governo assume um compromisso com a autonomia das universidades estaduais.
Folha – Quais são seus planos para Porto do Açu na questão do desenvolvimento específico do Norte Fluminense?
Márcia – O Porto de Açu é um dos polos de desenvolvimento do nosso Estado. Vou articular junto ao governo federal a construção de uma ferrovia ligando a região metropolitana do Rio de Janeiro ao Porto de Açu.
Folha – Com sua foz em Atafona assoreada, o rio Paraíba do Sul sofre em período de estiagem. Há registro de língua salina já no distrito de Barcelos. Há vida para Campos, São João da Barra e São Francisco de Itabapoana sem o rio que os formou? Como recuperá-lo?
Márcia – O rio Paraíba do Sul é o rio da integração do Estado do Rio de Janeiro. É do rio Paraíba que vem a água potável da região metropolitana do Estado. Salvar o rio Paraíba é uma prioridade do nosso programa de meio ambiente. O rio está assoreado na foz e poluído em todo seu curso. Vamos reflorestar as margens do rio, investir em saneamento em parceria com os municípios da bacia do rio Paraíba do Sul e proteger as praias e a pesca no entorno da foz, em Atafona. Vamos reforçar o papel dos comitês de bacia hidrográfico, envolvendo e capacitando os comitês municipais de meio ambiente.
Folha – O que Campos, Norte e Noroeste Fluminense devem esperar de Márcia Tiburi governadora?
Márcia – Com o PT na presidência, a Petrobras vai voltar a investir no nosso Estado. Vamos brigar pelo aumento do conteúdo nacional. Há um imenso potencial nos campos maduros da Bacia de Campos. Com isso empregos e renda serão criados na região de Macaé e Campos. Nosso governo vai apostar na criação de novas centralidades no nosso Estado, como a região de Campos, Macaé e do Porto de Açu, entorno de Itaperuna. A Uenf terá um papel estratégico na promoção do desenvolvimento local, apoiando as vocações e potencialidades da região.
Publicado hoje (09) na Folha da Manhã
Papo de militante! Em quase todas as respostas não faltou o “com o PT na presidência vamos fazer isso”. Não consegue ser independente não!?!? Afinal, é o governo federal que depende da produtividade dos estados e não o contrário!