Igor Franco — As eleições e o ocaso da moderação política

 

(Foto: Uriel Punk)

 

Conforme as últimas pesquisas eleitorais mostram, um cenário de segundo turno entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad parece cada vez mais provável. A ascensão do petista sobre a montanha de votos do presidiário Lula foi fulminante, lançando o então segundo colocado e pretenso herdeiro dos eleitores órfãos, Ciro Gomes, para próximo da faixa de um dígito de intenções. Por outro lado, Bolsonaro mantém sua resiliência aos múltiplos ataques desferidos com mais força por Alckmin, mas também à antipatia severa da esmagadora maioria da imprensa e classe artística. O candidato pelo PSL chegou a subir acima da margem de erro segundo alguns levantamentos divulgados na semana passada, desidratando ainda mais o tucano. Num cenário dos sonhos para os dois líderes, mas de pesadelo para o grosso da classe política, diversas reações brotaram no debate público.

Numa tentativa de produzir consenso nas candidaturas verdadeiramente centristas (Alckmin, Marina, Dias e Meirelles), o ex-presidente FHC escreveu uma carta clamando por algum tipo de entendimento que resultasse numa união ao redor de um nome. Por óbvio, todos toparam, mas, claro, desde que o nome escolhido fosse o seu.

A iniciativa de FHC é apenas mais uma releitura errada do processo que está em curso na política brasileira há alguns anos: os eleitores não estão divididos entre duas visões antagônicas de mundo por falta de alternativa, mas, justamente, porque as alternativas apresentadas falharam miseravelmente em tomar posição enquanto a divisão era promovida a cada tema sensível para a política brasileira nos últimos 15 anos.

O PSDB do ex-presidente, por exemplo, passado cada processo eleitoral a partir de 2002, foi incapaz de estabelecer-se como uma oposição combativa no Congresso e muito menos programática quanto a uma alternativa ao projeto petista de poder e gestão do Estado. A patética cena de 2006 do próprio Geraldo Alckmin (ou “Alkmin”, como escreveria FHC) vestindo uma jaqueta estampada de logomarcas de estatais, a alcunha de “Zé Serra” para um candidato que tentava se passar por popular em 2010 e mesmo os votos tucanos a favor do caos nas contas públicas já na fase terminal da gestão Dilma conseguiram a proeza de desagradar sua base eleitoral e, claro, seus opositores. Não menos importante, a completa ausência do partido no debate sobre costumes que de quando em vez surge no noticiário explica em grande parte a ascensão de um Bolsonaro. Nesse aspecto, talvez os tucanos voem para refugiar-se no mesmo esconderijo onde Marina Silva se abriga a cada intervalo entre as eleições presidenciais.

Dada a total falta de perspectiva, Ciro Gomes chegou a ganhar uma capa na revista Época como uma possível terceira via. Às favas com o fato de o pedetista ter pedido a prisão de um jornalista que acabara de entrevista-lo no último fim de semana – não sem antes chama-lo de “filho da p…”. O xingamento preferido de Ciro ainda foi direcionado a Bolsonaro, que ainda mereceu a alcunha de “nazista”. O pedetista ainda teve tempo de se comparar a Churchill antes de disparar que os sulistas também seriam simpáticos às ideias de Hitler e que o uso de fuzis por jovens traficantes estaria relacionado a algum complexo quanto ao tamanho de seus órgãos sexuais.

Se a alternativa moderada a Bolsonaro e Haddad é Ciro, definitivamente, cada país tem o Churchill que merece.

 

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