Quase ninguém conhecia o empresário Ericknilson Pessanha de Lemos, de 67 anos. Mas Queijinho era uma instituição. O apelido veio por conta do bar homônimo que ele comandava na rua Álvaro Tâmega, no Parque Tamandaré. Conhecido como “Rei do Quibe”, Queijinho tocou durante anos o bar do Posto Brasa, na avenida Pelinca. Após várias internações recentes, por problemas de diabetes, renais e de um AVC, ele morreu na tarde de hoje na Santa Casa, por complicações de pneumonia. Ainda sem hora marcada, o velório e o enterro ocorrem neste sábado (20) no Caju.
O boteco é uma legítima tradição brasileira. Espaço democrático em que podemos jogar conversa fora, rever velhos amigos e fazer novos, onde até as secessões da bipolaridade política brasileira acabam convertidas em riso com um gole de cerveja gelada. Se Campos não é uma exceção, essa tradição hoje ficou mais pobre sem Queijinho.
Meu pai, o jornalista Aluysio Cardoso Barbosa (1936/2012), nunca foi de frequentar botequim. Ainda assim era cliente assíduo de Queijinho. Uma dos hábitos que cultivava com zelo era passar no bar quase todo início de tarde de sábado, para saborear um quibe, uma esfiha, ou ambos. E Queijinho sempre me confidenciou que tinha o maior orgulho disso.
Tradição que atravessa as gerações, fui caminhando ao seu bar na tarde do último sábado (13), com meu filho Ícaro e seu cachorro, um buldogue francês tigrado chamado Zidane, que adora passear. Pude reencontrar velhos amigos, trocar ideias sobre a situação política do país. Juntos tecemos prognósticos para o Fla x Flu daquele dia, que seria vencido por 3 a 0 pelo time da Gávea, assim como sobre o resultado das urnas do próximo dia 28 e suas consequências.
Tomei duas Originais geladas, meu filho uma Coca, e saboreamos um tenro lagarto assado com batata, antes de uma deliciosa língua de boi ensopada com feijão manteiga. Sobraram até umas provas para Zidane, que, inebriado pelo cheiro que vinha da mesa, nos fitava do chão com os olhos arregalados. Já internado, Queijinho não estava lá fisicamente. Mas nos fitava pomposo da parede do bar, posando de general napoleônico na foto do jornalista Esdras Pereira, em belo trabalho do artista plástico João de Oliveira.
Num ano que já havia levado (aqui) o empresário Roberto Alves da Costa, morto em 9 de abril e proprietário da inesquecível Toca dos Amigos, a boêmia de Campos fica mais órfã sem Queijinho. E menos saborosa sem os seus quitutes. Envelhecer é perder. Nada revela a sensação do tempo passando sobre nós quando ele já não passa mais para quem nos servia de referência.
Onde quer que esteja, meu pai poderá reencontrar um amigo. E retomará sua programação certa das tardes de sábado. Homem de poucos risos, creio que nem o velho Aluysio poderá resistir: