Bolsonaro e Witzel: sinal amarelo
Segundo as pesquisas Ibope divulgadas ontem, o cenário já foi mais favorável a Jair Bolsonaro (PSL) e, sobretudo, a Wilson Witzel (PSC). Mas os dois ainda continuam favoritos às disputas dos Palácios do Planalto e Guanabara. Bolsonaro tem 57% dos votos válidos, contra 43% de Fernando Haddad (PT). O ex-capitão do Exército oscilou negativamente dois pontos e o petista cresceu dois. Já diferença entre Witzel e Eduardo Paes (DEM) diminui significativamente. O ex-juiz federal perdeu quatro pontos e agora tem 56% dos votos válidos. Por sua vez, Paes cresceu outros quatro e agora tem 44%.
Ex-juiz sangra
Sejam os 14 pontos de Bolsonaro sobre Haddad, ou os 12 entre Witzel e Paes, são diferenças muito difíceis de serem tiradas. Sobretudo quando lembrado que, a partir de hoje, são só quatro dias até a eleição do próximo domingo (28). Mas enquanto os dois presidenciáveis ficaram apenas nas oscilações dentro da margem de erro, Paes foi muito além dela para diminuir em oito pontos os 20 que antes o separavam do ex-juiz federal. Solenemente ignorado pelo eleitorado fluminense até surpreender e atropelar nos últimos dias antes do primeiro turno, Witzel parece perder votos a cada dia que se torna mais conhecido.
Fator evangélico no RJ
O ex-juiz federal é candidato a governador pelo PSC, partido presidido nacionalmente pelo Pastor Everaldo, derrotado ao Senado em 7 de outubro. A coluna teve acesso a informações de que, nos últimos dias antes do primeiro turno, várias lideranças evangélicas fluminenses estariam na dúvida entre apoiar Witzel ou Indio da Costa (PSD). Ao fecharem pelo primeiro, dispararam mensagens de apoio no WhatsApp. Ontem, a revista Veja revelou a campanha de Witzel recebeu doação de R$ 20 mil do empresário Roberto Nishimura. Ele é dono da empresa Sinape, que tem contrato com a Prefeitura do Rio, comandada por Marcelo Crivella (PRB).
Paes vivo e susto em Bolsonaro
Se tem poucos dias para explorar as contradições de Witzel, o Ibope mostrou que Paes ainda está vivo. Já a leve queda de Bolsonaro parece ser um susto dado pelo eleitor a quem já se considera com a mão na faixa presidencial. E que, por isto, têm cometido excessos. No domingo, em manifestação de apoio na av. Paulista, um vídeo do capitão foi transmitido ao vivo em telão. Nele fez várias ameaças preocupantes à democracia: “(…) a faxina agora será muito mais ampla (…) Ou vão para fora, ou vão para a cadeia. Esses marginais vermelhos serão varridos da nossa pátria (…) Será uma limpeza nunca visto (sic) na história do Brasil”.
Fogo amigo
No mesmo domingo, circulou pelas redes sociais um vídeo gravado em julho por Eduardo Bolsonaro (PSL/SP), eleito em 7 de outubro deputado federal mais votado do Brasil. Nele, ameaçou: “Se quiser fechar o STF, você não manda nem um jipe, cara, você manda um soldado e um cabo (…) O que que é o STF, cara? (…) Se você prender um ministro do STF, você acha que vai ter uma manifestação popular?”. Na segunda (22), no Jornal Nacional, Jair se desculpou pelo filho: “ele reconheceu o seu erro, pediu desculpas. Eu também, em nome dele, peço desculpas ao Poder Judiciário”.
Fogo cruzado
No mesmo dia 22, circulou um vídeo do obscuro coronel da reserva do Exército Carlos Alves de Lima. Ele chamou a presidente do TSE, ministra Rosa Weber, de “salafrária” e “corrupta”, por ela ter aceito investigar a denúncia do PT pela produção de fake news a favor de Bolsonaro e contra Haddad. É o tom que vem subindo dos dois lados, desde o primeiro turno, quando o ex-ministro José Dirceu declarou: “é preciso tirar todos os poderes do Supremo”. Advogado de Lula e deputado federal com reeleição rejeitada nas urnas, o petista Wadih Damous já tinha pregado no Facebook há cerca de quatro meses: “Tem de fechar o Supremo Tribunal Federal”.
Personagem patético
Depois que seu vídeo sobre o Supremo viralizou nas redes sociais, Eduardo Bolsonaro também usou o Facebook para tentar se retratar: “Se alguém defender que o STF precisa ser fechado, de fato essa pessoa precisa de um psiquiatra”. Pelo que foi regurgitado nos vídeos gravados pelo coronel bolsonarista, com ofensas e ameaças contra várias autoridades e instituições do país, parece mesmo ser o caso. Repreendido em nota oficial do Exército, ele será investigado pelo Ministério Público Militar, assim como pela Polícia Federal. Decano do STF, o ministro Celso de Mello se referiu ao militar como “personagem patético”.
Publicado hoje (24) na Folha da Manhã