Já faz uma semana desde a eleição de Bolsonaro e ainda é possível encontrar manifestações de incredulidade quanto ao resultado das urnas em meio ao tsunami de lágrimas derramadas por aqueles que se acostumaram a estar do lado vencedor da disputa há quase duas décadas. Assim como o desfecho inevitável de uma doença terminal, a concretização do ato é sempre impactante, por mais que o roteiro do fim esteja escrito e seja sabido de antemão.
Muito se tem dito a respeito da capacidade de Bolsonaro se comunicar diretamente à população através das redes. O antipetismo teve seu peso. É impossível não mencionar, é claro, a corrupção avassaladora que tomou de assalto os cofres públicos de modo acintoso nas últimas décadas. Os detratores acusam uma onda conservadora que, subitamente, transformou em reacionários fascistas. Porém, alguns dos grandes artífices da vitória do deputado têm passado ao largo da discussão: são os especialistas bolsominions.
Eles são cabos eleitorais involuntários. Na verdade, eles adorariam ver pelas costas o capitão. Mas, assim como os entusiastas que passavam o dia encaminhando manchetes e imagens de Bolsonaro pelo WhatsApp, eles garantiam milhões de votos ao direitista a cada vez que suas ideias eram colocadas em prática ou suas palavras eram ecoadas na imprensa majoritariamente anti-Bolsonaro. Mesmo depois das eleições, esses minions reforçam a popularidade do presidente eleito e garantem uma excelente base de apoio para o início de governo.
Na última semana, por exemplo, a política bolsominion de progressão de regime de criminosos condenados está a um passo de permitir a Alexandre Nardoni sair da prisão durante o dia. Após ser condenado pelo assassinato de sua própria filha há dez anos, o homicida teve seu comportamento classificado como “ótimo”. Sua esposa à época do ocorrido já está em semi-aberto há mais de um ano. Assim como ocorreu com a também famosa Suzane von Richtofen, talvez fosse o caso de aguardar o próximo Dia dos Pais para que a soltura seja ainda mais ultrajante à sociedade brasileira.
Também nos últimos dias, tivemos a notícia de que os transexuais Thammy Miranda e Pablo Vittar concorrem, respectivamente, ao posto de homem e mulher mais sexies do ano numa eleição conduzida pela revista bolsominion IstoÉ. No país de Rodrigo Hilbert e Paolla Oliveira é realmente impressionante que alguém pense haver necessidade para que esses postos sejam preenchidos. Aliás, no país de Machado de Assis, Nelson Rodrigues, Drummond, Veríssimos, Ramos e Rosa, a banca organizadora do ENEM achou por bem apresentar aos alunos uma questão envolvendo um “dicionário travesti”.
Os especialistas bolsominions estão entocados em redações, em organizações não-governamentais que não vivem sem a simbiose com o governo, na academia e em diversos outros segmentos da sociedade. Uma característica aglutinante do grupo é que, em nome de uma pretensa superioridade ideológica ou intelectual, toda solução que atente contra o senso comum é imediatamente adotada.
Num momento de autocrítica quanto à efetividade de sua estratégia, a opção pelo enfrentamento é ainda mais latente. Forjados no enfrentamento das “superestruturas” burguesas e reacionárias que supostamente dominam o país, cada lacre importa mais que a coerência e eficácia das ações.
O capitão agradece!