“Petistas de sinal trocado”
Não se trata de perseguição da imprensa. Tampouco dos “esquerdistas”, como são chamados todos os que cobram explicações sobre as relações cada vez mais indefensáveis do senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL), filho mais velho do presidente. Mesmo que quem agora cobre, jornalista ou cidadão, antes tenha feito a mesma coisa sobre os escândalos de corrupção nos governos do PT. A lógica dos fatos parece não importar aos bolsonaristas bem definidos como “petistas de sinal trocado” por Janaína Paschoal. Deputada estadual paulista pelo PSL, legenda do clã Bolsonaro, ela foi autora do pedido de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
O foro “porcaria”
Já estava muito difícil se defender das revelações do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Não só sobre as movimentações atípicas de R$ 7 milhões do PM Fabrício Queiroz, quando era assessor de Flávio na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) — incluindo um repasse de R$ 24 mil para a atual primeira dama Michelle Bolsonaro. Ficou ainda pior com a tentativa de buscar foro privilegiado no Supremo Tribunal Federal (STF), antes chamado de “porcaria” em vídeo por Jair e Flávio. E sem razão, já que os fatos se deram quando o primogênito do presidente era deputado estadual, não senador.
Sonegação ou lavagem de dinheiro?
O Coaf também revelaria 48 depósitos em nome de Flávio, no valor de R$ 2 mil cada, entre junho e julho de 2017, totalizando R$ 96 mil. Em entrevista, o senador disse se tratar de parte da quitação de um imóvel, mas não explicou porque isso foi feito em dinheiro vivo. Os motivos podem ser dois: ou o vendedor quis ocultar ganho de capital para driblar o Imposto de Renda, ou não pôde declarar a origem dos valores. No primeiro caso, seria crime de sonegação fiscal. No segundo, de lavagem de dinheiro. Líder do MBL, deputado federal e ícone jovem da direita, Kim Kataguiri declarou sobre o caso: “Não existe defesa plausível para Flávio Bolsonaro”.
Elo com milícias
Não bastasse, ontem foi revelado que Flávio empregou em seu gabinete na Alerj, até novembro do ano passado, a mãe e a esposa do ex-capitão do Bope Adriano Magalhães da Nóbrega, apontado como líder da milícia “Escritório do Crime”. A organização criminosa é suspeita da execução da ex-vereadora carioca Marielle Franco (Psol) e do motorista Anderson Gomes, em 14 de março de 2018. Adriano, que está foragido, já foi homenageado por Flávio na Alerj. E Queiroz, após as primeiras revelações do Coaf, se escondeu por duas semanas na favela do Rio das Pedras, na Zona Oeste do Rio, área dominada pelo Escritório do Crime.
Na Suíça
Enquanto o cerco se apertava sobre seu filho, Jair Bolsonaro ontem fez o discurso de abertura no Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça. Tinha 45 minutos, mas usou apenas oito. E foi bastante criticado pela imprensa internacional. Sua fala chegou a ser classificada como “enorme fiasco” pela jornalista Heather Long, do Washington Post. Mas teve um ponto positivo, ao marcar a prevalência do pragmatismo comercial do ministro da Economia Paulo Guedes sobre os delírios contra o “globalismo” do chanceler Ernesto Araújo. Foi o que o presidente fez ao defender o multilateralismo da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Brasil ou o filho?
Quando voltar ao Brasil, Bolsonaro pode ter que optar entre o que prometeu ao país durante a campanha, ou tentar salvar seu filho. Se a opção for a primeira, ele terá que seguir o conselho do seu ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional. Líder inconteste do núcleo militar da administração federal, o general Augusto Heleno já advertiu o capitão para afastar os seus três filhos do governo. Se a opção for tentar salvar o mais velho, que ninguém duvide: Renan Calheiros (MDB) será novamente presidente do Senado Federal. Em troca, ele tentará fazer por Flávio o que a Câmara Alta da República fez no passado por Aécio Neves (PSDB).
Samurai
Quem cobre o cenário político fica mais atento ao Diário Oficial no início de governo. Afinal, entre as nomeações podem aparecer indicativos de alianças políticas. No entanto, o que chamou atenção da imprensa no DO do Rio de Janeiro ontem não foi nenhuma atribuição para cargo público. O governador Wilson Witzel (PSC) sancionou a lei que estabelece 24 de abril como Dia Estadual do Samurai. O projeto é do deputado Wanderson Nogueira (Psol) e foi aprovado pela Alerj no dia 20 de dezembro. Nada contra samurai nenhum, mas o Estado do Rio tem muitos assuntos mais importantes para discutir.
Com o jornalista Arnaldo Neto
Publicado hoje (23) na Folha da Manhã
SE VOCÊ ACHA QUE ESTÃO FORÇANDO A MÃO, FAÇA O SEGUINTE: FINJA QUE SÃO TODOS PETISTAS…
O gabinete de Flávio contratou a mulher e a mãe do miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega, chefão do “Escritório do Crime”, uma das organizações milicianas que aterrorizam o Rio. Trata-se de um ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope), que preferiu a vida de chefe do crime organizado.
Adriano, também conhecido como Gordinho, foi um dos alvos de operação deflagrada nesta terça-feira pelo Ministério Público do Rio e pela Polícia Civil para prender milicianos suspeitos de grilagem de terras e de envolvimento na morte da vereadora Marielle Franco (PSOL). Nóbrega encontra-se foragido.
Entre os presos, estão o tenente reformado Maurício Silva da Costa; o major da PM Ronald Paulo Alves Pereira; Laerte Silva, de Lima, Manoel de Brito Batista e Benedito Aurélio Ferreira de Carvalho. Ah, sim: a mãe de Nóbrega é uma das depositantes da conta de Fabrício Queiroz, o ex-assessor de Flávio que está enrolado.
Assim, em matéria de vizinhanças perigosas, temos um prato cheio: a mesma conta que recebeu depósito oriundo da mãe de um miliciano abasteceu a conta da primeira-dama, Michelle Bolsonaro.
A mãe e a mãe do miliciano ficaram lotadas no gabinete de Flávio até novembro do ano passado.
A MESMA CONTA QUE RECEBEU DINHEIRO DE MÃE DE MILICIANO ABASTECEU PRIMEIRA-DAMA
Bolsonaro e ministros cancelam entrevista em Davos e culpam comportamento da imprensa
Presidente voltou ao hotel em vez de se dirigir ao local da coletiva; Moro, Guedes e Araújo também não falaram.
https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2019/01/bolsonaro-cancela-entrevista-coletiva-em-davos.shtml
Amarelou. Medo da imprensa ou por que não tem conteúdo para dar entrevistas? Melhor se preparar melhor ou somente dar entrevistas para imprensa chapa branca.
É normal que haja alterações de horário, que um ou outro ministro seja incluído ou excluído na entrevista, mas não sumirem todos.
O mundo está conhecendo Jair Bolsonaro. Constrangedor.
Mas deve ser uma conspiração marxista liderada pelos comunistas que organizam Davos. Volta para casa , Jair, aqui você tem amigos/jornalistas!
É um grupo tão abjeto, que prefiro nem falar o que penso.
Aluysio, parabéns pela sempre lúcida análise!