“Afirmativamente, que confessa ter participado do sequestro das duas vítimas, Cristiano Tinoco e Thais Dinelli, mas nega que tenha planejado o crime, apenas executou a ordem de outros elementos (…)
Junio dos Santos Costa, conhecido como Junio, que planejou o crime com José Maurício Santos Ferreira Júnior, conhecido como Zé Maurício (…)
Que o declarante durante esses quatro meses, ia à casa de Cristiano Tinoco, onde ficava esperando o mesmo sair e o seguia, para ver os locais que ia (…) Que o declarante informa que Zé Maurício ligou certa vez e disse ‘Junio lhe passou todas as instruções? Quando você pode agir?’ (…)
Que todas as instruções eram repassadas por Junio, que recebia as ordens de Zé Maurício; Que Zé Maurício passou para Junio que repassou ao declarante que o sequestro de Cristiano deveria ocorrer em um momento oportuno e que iria avisar quando fazer, mas que ainda não havia data prevista, Que um dia Junio ligou para o declarante, informando que estaria embarcado no dia do sequestro, mas que Zé Maurício já teria dado ‘sinal verde’ para cometerem o crime (…)
Que Cristiano perguntou se a quantia de R$ 200.000,00 estaria bom para eles; Que Cristiano pediu que decidissem rápido, pois sua esposa e filhos estariam para chegar; Que disseram para Cristiano que poderia ser o valor, e que de imediato Cristiano ligou para um amigo, que o declarante não sabe quem é, e Cristiano pediu a quantia de R$ 192.000,00 emprestada; Que após desligar, cerca de vinte minutos depois, o amigo de Cristiano chegou com um pacote e, quando iam saindo, a esposa de Cristiano entrou na casa e os flagrou, sem esboçar nenhuma reação (…)
Que o declarante esclarece que Zé Maurício não participou no dia do crime, mas foi o mentor do sequestro; Que o declarante esclarece que tinha mais contato com Junio, pois trabalharam juntos em uma boate de Campos, e que os demais conheceu durante a articulação do sequestro (…) Que o declarante afirma que quem idealizou o sequestro de Cristiano Tinoco e Thais Dinelli foi José Maurício Santos Ferreira Júnior, o qual reconhece por fotos neste ato.”
Esses são trechos de depoimento de Marven Chagas Batista, dado em 17 de janeiro, na Delegacia de Homicídios de Feira de Santana, na Bahia. Ele foi preso lá pelo sequestro do empreiteiro Cristiano Tinoco, praticado em Campos, em 3 de dezembro. Cristiano foi pego na rua, feito refém e conduzido à sua casa por Marven, Carlos José Gonçalves do Espírito Santo, o “Cacá”, e André Ângelo Monteiro, o “Cabeça”. Sem dinheiro em casa, o empresário negociou sua libertação e da esposa com os bandidos por R$ 192 mil, levados por um amigo.
Também empreiteiro e amigo pessoal de Cristiano, José Maurício dos Santos Ferreira Júnior, o Zé Maurício, foi apontado por Marven como autor intelectual do crime. Ele foi preso hoje (aqui), em sua residência, no condomínio de luxo Sonho Dourado, atrás do Shopping Estrada. Zé Maurício confessou sua participação no sequestro em depoimento na 134ª DP. Mas disse que “incialmente receberia uma parte do proveito obtido com o crime, mas posteriormente avisou a Junio que não queria mais nada do que fosse obtido”.
Também preso hoje, Junio dos Santos Costa ajudou Zé Maurício a planejar o sequestro. Junio e Marven se conheciam por terem atuado juntos como seguranças da boate Vip Night, em Guarus. Seu proprietário, Jean Carlos Caetano Guimarães foi assassinado a tiros (aqui) no último dia 9. Em depoimento à Polícia Civil, Junio admitiu sua participação no sequestro de Cristiano e apontou Zé Maurício como mentor do crime: “por volta do mês de julho, do ano de 2018, foi procurado por José Maurício para planejarem e o declarante executar um roubo a um empresário chamado Cristiano Tinoco”.
Pelos depoimentos, fica claro que Junio serviu como elo de ligação entre Zé Maurício e Marven. Este executou o sequestro junto com Cacá e Cabeça, que só entraram na ação perto da sua realização. Junio também desmentiu que Zé Maurício tenha desistido de receber sua parte do resgate pago por Cristiano Tinoco: “Marven havia fugido com o dinheiro do resgate; que o declarante passou essa versão a José Maurício, que se revoltou com o desfecho”. Junio foi em parte confirmado pelo depoimento do próprio Zé Maurício: “Júnio contou que Marven, após o assalto, teria fugido com todo o dinheiro, dando ‘banho’ em todo mundo”.
Delegado responsável pela investigação do caso pela 134ª DP, mesmo já tendo assumido a titularidade da 146ª DP de Guarus, Pedro Emílio Braga considerou o caso resolvido com as três prisões de hoje. Além de Zé Maurício e Junio, Cabeça também foi preso na operação Avaritia (cobiça em latim). Cacá havia sido preso em 3 de janeiro, enquanto Junio foi capturado na Bahia, 14 dias depois. Com os cinco presos, Pedro Emílio esclareceu:
— Foram 45 dias de investigação, inclusive com escutas telefônicas, e, com as prisões de hoje, o crime foi elucidado, com todas as autorias identificadas e esclarecida a participação de cada um, com todas as condutas individualizadas. O mentor intelectual é uma pessoa de relação muito próxima, amigo das vítimas, que frequenta o mesmo círculo e, bem por isso, tinha acesso à rotina, ao modo de vida, aos bens que possuíam; informações que foram repassadas aos executores do crime e possibilitaram o sequestro e que o empresário e a esposa fossem feitos reféns até o pagamento de R$ 192 mil, a título de resgate.
Apontado por dois companheiros na ação criminosa como seu mentor, Zé Maurício teve a atenção policial incialmente atraída sobre si por um detalhe. Uma pergunta feita por ele sobre um relógio Rolex de Cristiano, no convívio de ambos como amigos, foi depois repetida por um dos bandidos durante o sequestro. As suspeitas sobre o empresário foram confirmadas pela investigação. E reforçadas hoje com sua prisão e confissão.
Leia a cobertura completa, com os depoimentos de Zé Maurício, Junio e Marven na edição desta sexta (25) da Folha da Manhã