Protestos contra cortes na educação pública da planície goitacá ao Planalto Central
Contabilidade das ruas
Até às 20h40 de ontem (30), os protestos contra os cortes do governo Jair Bolsonaro (PSL) na educação pública tinham sido registrados em 129 municípios de 25 estados da União, mais o Distrito Federal. O levantamento foi do G1, que apurou adesão maior aos protestos pela educação do dia 15: até o mesmo horário tinham chegado a 156 cidades de todos os 26 estados. Como a contabilidade final daquelas primeiras manifestações chegou a 222 municípios, é possível que os números de ontem cresçam mais. No dia 26, os protestos a favor de Bolsonaro chegaram ao total de 156 cidades em todos os estados.
É a economia, estúpido!
Independente dos números, os protestos bolsonaristas surtiram efeito. Acuado pelas repetidas trapalhadas do seu governo, dos seus filhos e astrólogo nas redes sociais, mais as ruas do dia 15, o presidente ganhou fôlego nas ruas do dia 26, mesmo com adesão inferior no número de cidades brasileiras. No dia 28, os presidentes da Câmara, Senado e Supremo Tribunal Federal (STF) aceitaram o convite de Bolsonaro por um pacto pela estabilidade institucional e pelas reformas. Mesmo que sejam conduzidas pelo Congresso no “parlamentarismo branco” instalado no país, serão elas e seu resultado econômico que ditarão o futuro do governo.
Em Campos
Campos não foi exceção no movimento das ruas do Brasil. E seus manifestantes pela educação parecem ter aprendido lições importantes. Primeiro, ontem não voltaram a fechar vias públicas, atrapalhando o direito de ir e vir alheio, como tinham feito dia 15 na av. Alberto Lamego, em frente à Uenf. Segundo, após não contabilizarem o primeiro protesto, diferente dos bolsonaristas que anunciaram ter levado 400 campistas às ruas no dia 26, a organização do evento de ontem anunciou uma soma bem superior: 2 mil participantes. E quem viu ao vivo ou pelas imagens do Boulevard não tem motivo para duvidar.
Lições
Se a lição foi aprendida na planície goitacá, o mesmo não ocorreu no Planalto Central. Em Brasília, quando a passeata de ontem se encaminhava ao Congresso, houve um princípio de tumulto entre manifestantes e policiais militares, que usaram spray de pimenta e prenderam um homem. Apostar no confronto sempre será perigoso contra um presidente que se elegeu e pretende governar estimulando-o. Dos dois lados, bom lembrar: foi a repressão policial que deu força às Jornadas de Junho de 2013. Como foi o rojão disparado por um manifestante em 2014, ao matar um cinegrafista da Band, que sepultou aquele movimento.
Cores e erros
Outra lição que a esquerda brasileira não aprendeu é meramente cromática, mas tem grande relevância. Nos protestos de ontem, voltaram a dominar as bandeiras vermelhas, em contraste ao amarelo e verde das manifestações pelo governo. Quem entrega a bandeira nacional ao oponente, pode entregar junto a nação. Foi o que ocorreu na eleição presidencial de 2018. No segundo turno, quando a batalha já parecia (e estava) decidida, beirou ao ridículo a tentativa da candidatura petista de Fernando Haddad de tentar trocar o vermelho da sua campanha pelo verde, amarelo, azul e branco. Quem não aprende com seus erros, os repete.
Aposentadoria
Prefeito de Conceição de Macabu por quatro mandatos, o campista Cláudio Linhares anunciou no último domingo, durante a 28ª edição da Feijoada da Folha, que vai se aposentar da política. Sem partido desde que deixou o MDB, depois dos recentes escândalos da legenda no Estado do Rio de Janeiro, Cláudio apoiou ex-prefeito carioca Eduardo Paes (DEM) para Governo do Estado e o ex-capitão Jair Bolsonaro (PSL) para presidência. Apesar da força da máquina, como na esmagadora maioria dos municípios fluminenses, não conseguiu fazer com que Paes superasse o fenômeno Wilson Witzel (PSC).
Vice
Cláudio Linhares foi eleito pela primeira vez em 2000, pelo PSB, quando obteve apenas 85 votos a mais do que o segundo colocado, Ercínio Pinto (PDT). Quatro anos depois foi reeleito com 410 votos à frente de Lídia Mercedes, a Têdi (PT). Em 2008, Cláudio lançou a candidatura do vice Marcos Couto (PMDB), mas foi derrotado por Têdi, que também ganhou de Linhares no confronto direto em 2012. Porém, a petista foi cassada pela Justiça Eleitoral em 2013 e ele assumiu a prefeitura. A população o manteve no cargo em 2016 e agora ele anunciou que vai colocar novamente o vice, desta vez Helinho Guerhard (PR), na disputa do ano que vem.
Com Aldir Sales
Publicado hoje (31) na Folha da Manhã