Protestos contra cortes na educação pública da planície goitacá ao Planalto Central

 

 

Passeata pela educação ontem (30) reuniu ontem (30) 2 mil no Boulevard de Campos (Foto: Keven de Oliveira)

 

Contabilidade das ruas

Até às 20h40 de ontem (30), os protestos contra os cortes do governo Jair Bolsonaro (PSL) na educação pública tinham sido registrados em 129 municípios de 25 estados da União, mais o Distrito Federal. O levantamento foi do G1, que apurou adesão maior aos protestos pela educação do dia 15: até o mesmo horário tinham chegado a 156 cidades de todos os 26 estados. Como a contabilidade final daquelas primeiras manifestações chegou a 222 municípios, é possível que os números de ontem cresçam mais. No dia 26, os protestos a favor de Bolsonaro chegaram ao total de 156 cidades em todos os estados.

 

É a economia, estúpido!

Independente dos números, os protestos bolsonaristas surtiram efeito. Acuado pelas repetidas trapalhadas do seu governo, dos seus filhos e astrólogo nas redes sociais, mais as ruas do dia 15, o presidente ganhou fôlego nas ruas do dia 26, mesmo com adesão inferior no número de cidades brasileiras. No dia 28, os presidentes da Câmara, Senado e Supremo Tribunal Federal (STF) aceitaram o convite de Bolsonaro por um pacto pela estabilidade institucional e pelas reformas. Mesmo que sejam conduzidas pelo Congresso no “parlamentarismo branco” instalado no país, serão elas e seu resultado econômico que ditarão o futuro do governo.

 

Em Campos

Campos não foi exceção no movimento das ruas do Brasil. E seus manifestantes pela educação parecem ter aprendido lições importantes. Primeiro, ontem não voltaram a fechar vias públicas, atrapalhando o direito de ir e vir alheio, como tinham feito dia 15 na av. Alberto Lamego, em frente à Uenf. Segundo, após não contabilizarem o primeiro protesto, diferente dos bolsonaristas que anunciaram ter levado 400 campistas às ruas no dia 26, a organização do evento de ontem anunciou uma soma bem superior: 2 mil participantes. E quem viu ao vivo ou pelas imagens do Boulevard não tem motivo para duvidar.

 

Lições

Se a lição foi aprendida na planície goitacá, o mesmo não ocorreu no Planalto Central. Em Brasília, quando a passeata de ontem se encaminhava ao Congresso, houve um princípio de tumulto entre manifestantes e policiais militares, que usaram spray de pimenta e prenderam um homem. Apostar no confronto sempre será perigoso contra um presidente que se elegeu e pretende governar estimulando-o. Dos dois lados, bom lembrar: foi a repressão policial que deu força às Jornadas de Junho de 2013. Como foi o rojão disparado por um manifestante em 2014, ao matar um cinegrafista da Band, que sepultou aquele movimento.

 

Cores e erros

Outra lição que a esquerda brasileira não aprendeu é meramente cromática, mas tem grande relevância. Nos protestos de ontem, voltaram a dominar as bandeiras vermelhas, em contraste ao amarelo e verde das manifestações pelo governo. Quem entrega a bandeira nacional ao oponente, pode entregar junto a nação. Foi o que ocorreu na eleição presidencial de 2018. No segundo turno, quando a batalha já parecia (e estava) decidida, beirou ao ridículo a tentativa da candidatura petista de Fernando Haddad de tentar trocar o vermelho da sua campanha pelo verde, amarelo, azul e branco. Quem não aprende com seus erros, os repete.

 

Aposentadoria

Prefeito de Conceição de Macabu por quatro mandatos, o campista Cláudio Linhares anunciou no último domingo, durante a 28ª edição da Feijoada da Folha, que vai se aposentar da política. Sem partido desde que deixou o MDB, depois dos recentes escândalos da legenda no Estado do Rio de Janeiro, Cláudio apoiou ex-prefeito carioca Eduardo Paes (DEM) para Governo do Estado e o ex-capitão Jair Bolsonaro (PSL) para presidência. Apesar da força da máquina, como na esmagadora maioria dos municípios fluminenses, não conseguiu fazer com que Paes superasse o fenômeno Wilson Witzel (PSC).

 

Vice

Cláudio Linhares foi eleito pela primeira vez em 2000, pelo PSB, quando obteve apenas 85 votos a mais do que o segundo colocado, Ercínio Pinto (PDT). Quatro anos depois foi reeleito com 410 votos à frente de Lídia Mercedes, a Têdi (PT). Em 2008, Cláudio lançou a candidatura do vice Marcos Couto (PMDB), mas foi derrotado por Têdi, que também ganhou de Linhares no confronto direto em 2012. Porém, a petista foi cassada pela Justiça Eleitoral em 2013 e ele assumiu a prefeitura. A população o manteve no cargo em 2016 e agora ele anunciou que vai colocar novamente o vice, desta vez Helinho Guerhard (PR), na disputa do ano que vem.

 

Com Aldir Sales

 

Publicado hoje (31) na Folha da Manhã

 

Clarissa entrega a Bolsonaro projeto para desburocratizar adoção de crianças no país

 

Deputada Clarissa Garotinho entregou hoje seu projeto ao presidente Jair Bolsonaro (Foto: Divulgação)

Durante reunião da Bancada Feminina nesta quinta-feira (30) com o presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), a deputada Clarissa Garotinho (Pros) entregou em mãos ao presidente proposta de criação no âmbito federal do programa “Um Lar para Mim”. O objetivo é estimular no Brasil a adoção de crianças e adolescentes.

“O programa está em efetividade no Estado do Rio de Janeiro e tem como objetivo o incentivo a adoção de crianças acima da faixa etária de 5 anos de idade. No Brasil, existem cinco vezes mais famílias dispostas a adotar do que crianças para serem adotadas. A burocracia emperra também precisamos de um novo olhar para a maiores, que tem chances muito menores de conseguir um novo lar”, afirma a deputada.

A proposta consta do requerimento de indicação 773/19, de autoria de Clarissa, que sugere a criação de um auxílio-adoção para servidores.

De acordo com o programa, famílias que optarem pela adoção de crianças e adolescentes podem receber benefício que varia entre três e cinco salários mínimos, variando de acordo com a faixa etária. O incentivo também seria aplicado para famílias que optarem pela adoção de crianças de 0 a 5 anos com deficiência ou doença grave que exija acompanhamento médico permanente.

De acordo com dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), atualmente cerca de nove mil crianças aguardam por adoção em instituições de acolhimento de todo o País, mas apenas 7,3% dos pretendentes à adoção aceitariam crianças com mais de 5 anos.

 

Da assessoria da deputada

 

Associação de Imprensa Campista divulga programação dos seus 90 anos de fundação

 

Presidente da Associação de Imprensa Campista (AIC), Wellington Cordeiro enviou a programação de celebração dos 90 anos da entidade. Entre os dias 3 e 7 de junho, acontecerá a Semana da Imprensa. Mas os eventos se estenderão até o dia 28 do próximo mês.

Em tempos em que a imprensa virou alvo de ataques dos defensores do governo Jair Bolsonaro (PSL), como foi antes classificada de “golpista” em boa parte dos 13 anos do lulopetismo no poder, é sempre bom refletir sobre o papel do jornalismo no estado democrático de direito. Neste sentido, vale a pena conferir abaixo:

 

(Foto: Divulgação)

Em clima de comemoração pelos 90 anos de fundação, a Associação de Imprensa Campista divulgou nesta semana a programação da 29ª Semana da Imprensa, sob o tema “A Memória da Imprensa Campista”. O evento vai acontecer entre os dias 3 e 7 de junho com variadas atrações, entre bate-papos, exposição, debates e homenagens.

Este é o mais tradicional evento da imprensa campista. Reúne jornalistas, estudantes e demais profissionais do jornalismo em torno de questões relativas à profissão, à memória da cidade e temas de alta relevância para a sociedade.

A Semana da Imprensa é uma iniciativa da Associação de Imprensa Campista, que em junho deste ano vai completar 90 anos de existência e resistência. “Por este motivo, a temática escolhida para este ano é a memória e contará a história do jornalismo campista que se confunde com a própria história da AIC”, diz o presidente da AIC, Wellington Cordeiro.

A Semana da Imprensa termina no dia 7 de junho, mas as comemorações pelas nove décadas de atuação em Campos seguem com atividades nos dias 14 e 28 de junho. Os eventos têm a parceria do Curso de Jornalismo do Unifly e do Instituto Histórico e Geográfico de Campos dos Goytacazes e apoio do Museu Histórico de Campos.

 

 

Programação

 

SEMANA DA IMPRENSA

 

Segunda, 03/06

19h – MESA DE DEBATE: JORNALISMO IMPRESSO

Debatedores: Aloysio Balbi e Matheus Berriel

Mediador: Vitor Menezes

Local: Auditório do Uniflu

 

Terça, 04/06

19h – MESA DE DEBATE: FOTOJORNALISMO

Debatedores: Esdras Pereira e Rafael Peixoto

Mediador: Victor Hugo Berenger

Local: Auditório do Uniflu

 

Quarta, 05/06

19h – MESA DE DEBATE: RADIOJORNALISMO

Debatedores: Souza Neto e Rhyann Souza

Mediador: Júlio César Tinoco

Local: Auditório do Uniflu

 

Quinta, 06/06

19h MESA DE DEBATE: WEBJORNALISMO

Debatedores: Leandro Nunes e Ully Marques

Mediador: Simone Barreto (UNIFLU)

Local: Auditório do Uniflu

 

Sexta, 07/06

19h MESA DE DEBATE: TELEJORNALISMO

Debatedores: Giannino Sossai e Antônio Filho

Mediador: Mozart Dias

Local: Auditório do Uniflu

 

Sexta, 14/06

18h Atividade: BATE-PAPO DE BOTEQUIM

Local: Bar Ao Gato Preto (Rua Barão do Amazonas, 16)

 

Sexta, 28/06

18h – Atividade: EXPOSIÇÃO MEMÓRIA DA IMPRENSA CAMPISTA

Local: Museu Histórico de Campos

19h – Atividade: MESA DE DEBATE: MEMÓRIAS DA IMPRENSA CAMPISTA

Debatedores: Rafaela Machado – historiadora/Arquivo Público e ex-presidentes da AIC

Mediador: Genilson Soares

Homenageado: jornalista e professor Fernando da Silveira

Local: Museu Histórico de Campos

 

Promoção: Instituto Histórico e Geográfico de Campos/Associação de Imprensa Campista

Parceria: Museu Histórico de Campos

 

Além de convite a secretário, oposição quer prefeito na Câmara para falar de servidor

 

Josiane Morumbi, vereadora de oposição, na sessão de hoje da Câmara (Foto: Rodrigo Silveira – Folha da Manhã)

 

O recuo (aqui) do governo Rafael Diniz (PPS) na proposta de 4,18% de aumento salarial aos servidores não gerou apenas o convite para o secretário de Gestão, André Oliveira, comparecer na próxima quinta (06) à sessão extraordinária da Câmara Municipal. Foi o que anunciou hoje (aqui) seu presidente, Fred Machado (PPS). Mas antes do início da tensa sessão de hoje, a vereadora de oposição Josiane Morumbi (PRP) também protocolou um ofício na tentativa de convocar o prefeito para explicar ao Legislativo a retirada da proposta de reajuste ao funcionalismo:

— Atendendo aos servidores, que não estavam satisfeitos com o aumento proposto pelo governo, a oposição já tinha proposto na semana passada a vinda do secretário de Gestão. Mas ontem, com o anúncio de que nem os 4,18% seriam mantidos, não foram só os vereadores de oposição que ficaram surpesos, mas também da situação. Por isso protocolei o requerimento para que o prefeito venha à Câmara explicar seus motivos. O presidente Fred, que respeito muito pela maneira democrática de agir, explicou que não colocaria meu requerimento em votação hoje e anunciou o convite a André Oliveira na quinta. Mas vou insistir na convocação do prefeito. Mesmo que sejamos minoria e percamos no voto, espero que meu requerimento seja apreciado na próxima sessão de quarta (05) — disse Josiane.

Abaixo, o requerimento protocolado hoje pela vereadora de oposição:

 

 

Apoio de Ceciliano a Rodrigo na Feijoada da Folha reforça 3ª via a prefeito de Campos

 

Apesar do abraço em Gil Vianna, o presidente da Alerj, André Ceciliano, disse na Feijoada da Folha que vai caminhar com Rodrigo Bacellar na eleição a prefeito de Campos em 2020 (Foto Rodrigo Silveira – Folha da Manhã)

 

No último domingo (26), o presidente da Alerj, André Ceciliano (PT), declarou sobre as eleições de 2020 a prefeito da cidade que visitava na Feijoada da Folha: “Tenho uma relação muito boa também com Gil Vianna (PSL), com Wladimir (Garotinho, PSD), mas vou seguir em Campos o Rodrigo Bacellar (SD)”. A matéria foi publicada aqui, ontem (28) no Folha1, em meio a depoimentos de várias outras lideranças políticas reunidas no evento. E no mesmo dia foi repercutida e linkada por Rodrigo nas redes sociais.

Após declarar em 2 de maio (aqui) que “NUNCA me lancei candidato a nada, e desafio qualquer jornalista a me mostrar uma fala minha nesse sentido”, o apoio do presidente do Legislativo fluminense parece ter feito Rodrigo mudar de ideia. Haveria um acordo entre ele, o também deputado estadual Gil Vianna (PSL) e o ex-candidato a prefeito Caio Vianna (PDT), para definir até dezembro qual dos três se lançará a prefeito com apoio dos outros dois. A escolha seria feita por pesquisas de intenção de voto e trabalho para arregimentar legendas e montar nominatas.

O tal acordo, segundo Rodrigo detalhou hoje ao blog, teria sido montado uns 15 dias antes de uma foto dele com Gil e João Peixoto (DC) ser publicada nas redes sociais pelos três deputados, em 2 de abril. Dois dias depois, Gil negou aqui qualquer tratativa sua para 2020 que incluísse Caio, de quem foi candidato a vice-prefeito em 2016. Já sobre João Peixoto, em 27 de maio a coluna Ponto Final anunciou aqui sua aliança com o prefeito Rafael Diniz (PPS), pré-candidato à reeleição.

Mesmo sem João e Gil — que na Feijoada de domingo voltou a afirmar: “Estou muito animado, acho que está na minha hora para ser prefeito” — uma aliança entre Rodrigo e Caio poderia dar força à opção de terceira via na eleição a prefeito de Campos em 2020, para tentar driblar a polarização que se anuncia entre Rafael e Wladimir. Sobretudo com o apoio de Ceciliano ao filho do ex-vereador Marcos Bacellar (PDT). E se o filho do ex-prefeito Arnaldo Vianna (MDB), diferente de 2016, dessa vez conseguir manter o apoio do pai.

 

Análise dos protestos a favor de Bolsonaro, antes de ficar velha pelas ruas de amanhã

 

No domingo dia 19, publiquei aqui e na Folha da Manhã o artigo “Democracia com megafone”, usando a história antiga, moderna e recente para tentar analisar o Brasil sob governo de Jair Bolsonaro (PSL). Em diálogo com aquele texto, o servidor público federal Edmundo Siqueira escreveu outro, intitulado “Verdade fora da caverna”, publicado aqui, no blog, e na edição do último domingo (26) da Folha. Nele também foram utilizados exemplos do passado na tentativa de entender o instável presente do país.

De lá para cá, naquele mesmo último domingo, se deram as manifestações em apoio ao governo Bolsonaro, registrado em 156 municípios de todos os estados brasileiros. Antes, no dia 15, as manifestações contra os cortes federais na educação pública tinham se espraiado ainda mais, por 222 cidades. Hoje, véspera dos novos protestos pela educação programados para esta quinta (30), Edmundo voltou a escrever sobre o resultado parcial dessa confrontação democrática pelas ruas do país. E publicou sua nova análise aqui, nas redes sociais.

A partir do texto dele, mantive o diálogo aberto na forma de comentário. Sem que ninguém pretenda se assenhorar da razão, seguem abaixo os dois textos, antes de se tornarem velhos com as ruas de amanhã:

 

(Marcos Corrêa – Agência Brasil)

 

Por Edmundo Siqueira

O bolsonarismo marcou um gol. É preciso reconhecer que as manifestações do último domingo foram melhores que o esperado e o governo ganhou fôlego. As palavras impeachment e Bolsonaro estavam sendo utilizadas na mesma frase com muito mais intensidade antes dos movimentos de rua.

Talvez o “pacto” entre os poderes seja fruto desse sucesso, ou não sendo o fiasco esperado. Porém essa reconciliação deve ter vida curta e esteja ligada à reforma da previdência que atende a muitos interesses corporativos, inclusive do próprio congresso. Ao que parece o governo recua sobre o Coaf (assunto tratado nesse pacto, certamente), órgão que foi levado ao ministério da fazenda, saindo do guarda-chuva do Moro, que foi uma das pautas das manifestações que pediam justamente o contrário desse movimento, que agora o governo recua. Mesmo assim, o executivo saiu vencedor.

Mas as ruas deram seu recado e o congresso não quer sair como vilão. Deve destravar a pauta governista para que não seja ele, o congresso, o culpado pelo insucesso econômico crescente. Mas vejo que não esquecerá que foi antagonizado pelo próprio presidente, que inflou a militância. Me parece que a reforma da previdência é uma trégua, uma pausa estratégica no conflito entre os poderes, onde o mais afetado é o país.

O bolsonarismo venceu essa batalha, mas as ruas também deram outro recado: a direita liberal se afasta do bolsonarismo e a direita conservadora, ligada a costumes, enaltece as figuras de Moro e Guedes, vendo que o presidente de baixíssima capacidade intelectual e política é incapaz de atender aos seus anseios. Os pilares foram expostos.

 

 

 

Por Aluysio Abreu Barbosa

As manifestações do dia 26 foram aquém dos protestos do dia15 contra o corte na educação pública. No placar parcial de municípios brasileiros, contabilizado pelo G1, está governo 156 x 222 oposição. Falta a rodada dos novos protestos pela educação desta quinta (30). Mas, sim, o domingo serviu a uma inconteste demonstração de força do governo. Que será sempre refém da lógica: só governo fraco precisa demonstrar força.

Concordo contigo e alguns comentaristas: tudo dependerá da resposta da economia às reformas. À equação só acrescentaria o elemento das investigações do MP/RJ sobre Flávio Bolsonaro e a ligação da família presidencial com as milícias fluminenses. Mas como Lula foi reeleito pelo resultado econômico do seu governo, mesmo após o Mensalão, voltamos à sentença do Jim Carville, ex-marqueteiro de Bill Clinton: “It’s the economy, stupid”.

Quanto à questão do pacto, também concordo se tratar de trégua entre os três poderes. Embora não entenda como o STF possa pactuar nada além do cumprimento da Constituição. Contudo, a não ser que o presidente, seus filhos e astrólogo voltem à carga nas redes sociais, pode durar até a aprovação das reformas da Previdência e tributária. Ambas serão conduzidas pelo “parlamentarismo branco” abertamente instalado no país.

Aprovadas as principais reformas por um Congresso que, sim, “não quer sair como vilão”, quem controla a pauta da Câmara, inclusive pedidos de impeachment, pode se lembrar que foi representado nas passeatas do domingo com o logotipo da Odebrecht e notas de dólar nos bolsos e sapatos, rotulado publicamente como “Nhonho”, “Judas” e “171”. Por muito menos, Eduardo Cunha (MDB) fez o que fez, antes de se tornar residente do Complexo Penal dos Pinhais.

 

Caminho tomado por quem desconhece a história ou se julga habilitado a desafiá-la

 

 

Carlos Andreazza, jornalista

O plebsicito permanente

Por Carlos Andreazza

 

Não importa o volume das manifestações governistas de domingo. Avalio que foram de porte razoável e de caráter nacional tanto quanto expressivas de uma mentalidade autoritária, resumida no ataque direto ao Parlamento — motor original dos atos e ímpeto antidemocrático cujo propósito, apesar da competente campanha que tentou limpar a barra pesada das convocações, não se conseguiu disfarçar: o de esmagar o Legislativo sob a convicção de que o Congresso, o inimigo, sindicato do crime, seja poder menor destinado a mero despachante dos desejos do governante popular, um imperador eleito, um guerreiro de todos os lados acossado pelo monstro chamado establishment.

O tamanho e a representatividade dos protestos, porém, sempre independerão dos fatos, matéria que são para guerra de versões. Como escrevi: não importa. O que interessa tampouco deriva do sucesso populacional das manifestações e da qualidade de suas pautas — e pode ser resumido numa pergunta: em que os atos contribuem para a agenda de um governo que se vende como reformista e que, para ter êxito na empreitada, necessitará de mínima estabilidade? Mais precisamente: qual a aposta contida em dar vazão — com estímulo oficial desde o Planalto, inclusive do presidente — a uma estratégia de intimidação contra um Poder da República do qual o Executivo precisará?

Nesta altura, só uma questão resta — dado que o erro político está cometido: o quanto tamanha burrice atrapalhará. Como recado ao ingênuo que espera alguma perspectiva de equilíbrio para se planejar, a estupidez patriota é clara: o governo, dirigido pela força reacionária bolsonarista,escolheu a campanha permanente e não perderá chance de plantar polarizações. É caminho tomado por quem desconhece a história ou se julga habilitado a desafiá-la: um governo que se move sob linguagem de oposição, ainda aos cinco meses, apostando em apoio popular constante, é um que cansa e se cansa.

O bolsonarismo investe na fundação de uma cultura plebiscitária como mecanismo para esvaziar-desqualificar o Congresso e anabolizar um canal de comunicação direta entre líder carismático e povo. É fetiche totalitário antigo e que tem exemplo recente na Venezuela — um país de instituições devastadas pela imposição populista dos governantes e que expõe sua paralisia em disputas tribais sobre quem reúne mais esfomeados na rua.

Não acredito, por óbvio, na viabilidade desse norte plebiscitário: porque o Brasilnão é a Venezuela e tem a faca afiada (e prática) de um mercado que compra (pagou caro por Bolsonaro) tão rápido quanto vende (barato) se diante de uma alternativa de negócio; porque a população, saturada de discurso político-eleitoral, elegeu Bolsonaro, um forte, para resolver o problema, e não para se apregoar vítima e pedir socorro; porque o povo não tarda a perceber que essa batalha partidária nas ruas equivale a país travado (um que não gera empregos); e porque não há quem, não sendo fanático ou estando a serviço, cegue-se longamente em fumaça que pretenda camuflar incompetência.

O governo Bolsonaro tem natureza — a imprevisibilidade — avessa ao princípio básico do que seja governar, o que é agravado pela alarmante incapacidade de gestão. E o investimento permanente em conflitos, essa verdadeira forja de crises institucionais que anima o bolsonarismo, apenas radicalizará o que é óbvia constatação: a de que um programa de reformas liberais, como o de Paulo Guedes, não tem meios de prosperar, senão modestamente, num ambiente de instabilidade como regra.

A reforma da Previdência já passou, será aprovada, e será razoável, independentemente de governo — e essa também é mensagem captada por quem gira a roda do dinheiro. Mas: e depois? Qual a força política — para concretizar a retórica reformista estrutural — de um governo que veste a antipolítica, que se pensa eleito para ser uma nova etapa da Lava-Jato e que considera a formação de base de apoio parlamentar uma atividade criminosa, o que significa informar ao mundo que fará “articulação” (com quem considera bandido) caso acaso, projeto a projeto, multiplicando confrontos como os vistos até agora? Não é sustentável.

O mercado financeiro, fiador de Bolsonaro como alguém domável pela razão produtiva, já mediu e pôs preço na limitação incontornável do presidente, e está ávido por embarcar na engenharia que se projeta para minimizar o prejuízo e tocar a canoa da administração de danos até 2022: o parlamentarismo informal que parece unir “governo Guedes” e o poder moderador em que consiste o Congresso, uma costura que se dedicaria a um pacote enxuto de reformas econômicas e que ceifaria — ceifará — a agenda de costumes que dá identidade ao bolsonarismo.

 

Publicado hoje (aqui) em O Globo

 

Prisão domiciliar de Feijó e consequências dos protestos em defesa do governo Bolsonaro

 

 

Feijó em prisão domiciliar

Natural de Santa Maria Madalena, Paulo Feijó foi vereador e presidente da Câmara de Campos, antes de se eleger cinco vezes deputado federal. E teve em Brasília a atuação que mais retorno deu em emendas parlamentares aos municípios da região, desde a morte do ex-deputado federal Alair Ferreira, em 1987. Ontem, foi anunciado que Feijó teve sua condenação de 12 anos e meio de prisão convertida em prisão domiciliar, por conta de um câncer. Ele foi sentenciado em 2017 pelo Supremo Tribunal Federal (STF), pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, no caso conhecido como “máfia dos sanguessugas”, revelado em 2006.

 

Livres, leves e soltos

No estado democrático de direito não se discute decisão judicial, sobretudo julgada em última instância. Feijó cumprirá a pena na sua casa, em Campos. Usará tornozeleira eletrônica e só poderá sair para tratar da saúde. No país em que o ex-presidente Lula está preso há mais de um ano, condenado pelos mesmos crimes de Feijó, e que o ex-presidente Michel Temer já foi preso duas vezes, antes mesmo de ser condenado, o que muitos questionam são os aparentes dois pesos e duas medidas. Estão aí o ex-governador Anthony Garotinho, o deputado federal Aécio Neves e o senador Renan Calheiros, livres, leves e soltos, para suscitar as dúvidas.

 

Brasil de Bolsonaro (I)

Desde domingo (26), o principal assunto do país foram os protestos daquele dia em defesa do governo Jair Bolsonaro (PSL). Campos não foi exceção, com manifestantes saindo da Igreja Nossa Senhora do Rosário até a praça São Salvador. Segundo os organizadores, foram 400 pessoas. No dia 15 a cidade tinha registrado outro protesto, contra os cortes do governo federal na educação pública, que também se deu em todo o país. Mas, além de terem errado ao fecharem a av. Alberto Lamego em frente à Uenf, os organizadores da manifestação de oposição falharam ao não contabilizar quantos pessoas as integraram em Campos.

 

Brasil de Bolsonaro (II)

Na conta nacional, as manifestações a favor do governo perderam: foram registradas em 156 cidades, contra as 222 contra o corte na educação. Mas, embora criticados dentro da própria direita brasileira, os protestos de domingo estiveram longe de ser um fracasso. Após suas primeiras convocações nas redes sociais terem sido feitas com ameaças de invasão do Congresso e do STF, a pauta foi corrigida para a defesa da reforma da Previdência do ministro da Economia Paulo Guedes e do projeto anticrime e anticorrupção do ministro da Justiça Sérgio Moro. Ambas foram democraticamente encaminhadas pelo governo à Câmara Federal.

 

Brasil de Bolsonaro (III)

Embora uma minoria tenha insistido no domingo em propor o fechamento do Congresso e do STF, o que é antidemocrático e inconstitucional, o fato de uma reforma da Previdência ter conquistado tanto apoio popular nas ruas, é fato inédito na história do Brasil. E raro em todo o mundo, já que sempre é feita sobre a perda de direitos. Outra novidade foi a troca dos alvos dos bolsonaristas. Nas ruas de domingo, Lula e o PT foram substituídos pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), e o Centrão, que reúne cinco partidos e cerca de 170 deputados. Após os protestos, Bolsonaro chegou a dizer que o Centrão virou “palavrão”.

 

Brasil de Bolsonaro (IV)

As manifestações de domingo conseguiram êxito em adesão popular, quando todas as pesquisas indicam que o governo perde popularidade como nenhum outro na história da redemocratização do país. Mas podem gerar um efeito reverso, ainda que retardado. O puxão de orelhas das ruas pode fazer com que a Câmara apresse a votação da reforma da Previdência. Mas, como já planejava, deve continuar a fazê-lo aos seus moldes, não do governo, engatando na sequência a sua própria proposta de reforma tributária, no que já vem sendo chamado da instalação de um “parlamentarismo branco” no Brasil.

 

Brasil de Bolsonaro (V)

Após as reformas da Previdência e tributária, tudo vai depender da resposta da economia. E de questões como as investigações dos fortes indícios de lavagem de dinheiro, fraude fiscal e “rachadinha” pelo senador Flávio Bolsonaro (PSL). Bem como da ligação da família presidencial com as milícias fluminenses. Em apenas cinco meses, o tempo parece acuar o presidente, que recorreu às ruas para ganhar fôlego. Mas nada indica que afetará quem controla a pauta e 170 votos da Câmara. No passado, três presidentes tentaram governar sobre o Congresso: Jânio Quadros renunciou, Fernando Collor e Dilma Rousseff sofreram impeachment.

 

Publicado hoje (29) na Folha da Manhã