Análise dos protestos a favor de Bolsonaro, antes de ficar velha pelas ruas de amanhã

 

No domingo dia 19, publiquei aqui e na Folha da Manhã o artigo “Democracia com megafone”, usando a história antiga, moderna e recente para tentar analisar o Brasil sob governo de Jair Bolsonaro (PSL). Em diálogo com aquele texto, o servidor público federal Edmundo Siqueira escreveu outro, intitulado “Verdade fora da caverna”, publicado aqui, no blog, e na edição do último domingo (26) da Folha. Nele também foram utilizados exemplos do passado na tentativa de entender o instável presente do país.

De lá para cá, naquele mesmo último domingo, se deram as manifestações em apoio ao governo Bolsonaro, registrado em 156 municípios de todos os estados brasileiros. Antes, no dia 15, as manifestações contra os cortes federais na educação pública tinham se espraiado ainda mais, por 222 cidades. Hoje, véspera dos novos protestos pela educação programados para esta quinta (30), Edmundo voltou a escrever sobre o resultado parcial dessa confrontação democrática pelas ruas do país. E publicou sua nova análise aqui, nas redes sociais.

A partir do texto dele, mantive o diálogo aberto na forma de comentário. Sem que ninguém pretenda se assenhorar da razão, seguem abaixo os dois textos, antes de se tornarem velhos com as ruas de amanhã:

 

(Marcos Corrêa – Agência Brasil)

 

Por Edmundo Siqueira

O bolsonarismo marcou um gol. É preciso reconhecer que as manifestações do último domingo foram melhores que o esperado e o governo ganhou fôlego. As palavras impeachment e Bolsonaro estavam sendo utilizadas na mesma frase com muito mais intensidade antes dos movimentos de rua.

Talvez o “pacto” entre os poderes seja fruto desse sucesso, ou não sendo o fiasco esperado. Porém essa reconciliação deve ter vida curta e esteja ligada à reforma da previdência que atende a muitos interesses corporativos, inclusive do próprio congresso. Ao que parece o governo recua sobre o Coaf (assunto tratado nesse pacto, certamente), órgão que foi levado ao ministério da fazenda, saindo do guarda-chuva do Moro, que foi uma das pautas das manifestações que pediam justamente o contrário desse movimento, que agora o governo recua. Mesmo assim, o executivo saiu vencedor.

Mas as ruas deram seu recado e o congresso não quer sair como vilão. Deve destravar a pauta governista para que não seja ele, o congresso, o culpado pelo insucesso econômico crescente. Mas vejo que não esquecerá que foi antagonizado pelo próprio presidente, que inflou a militância. Me parece que a reforma da previdência é uma trégua, uma pausa estratégica no conflito entre os poderes, onde o mais afetado é o país.

O bolsonarismo venceu essa batalha, mas as ruas também deram outro recado: a direita liberal se afasta do bolsonarismo e a direita conservadora, ligada a costumes, enaltece as figuras de Moro e Guedes, vendo que o presidente de baixíssima capacidade intelectual e política é incapaz de atender aos seus anseios. Os pilares foram expostos.

 

 

 

Por Aluysio Abreu Barbosa

As manifestações do dia 26 foram aquém dos protestos do dia15 contra o corte na educação pública. No placar parcial de municípios brasileiros, contabilizado pelo G1, está governo 156 x 222 oposição. Falta a rodada dos novos protestos pela educação desta quinta (30). Mas, sim, o domingo serviu a uma inconteste demonstração de força do governo. Que será sempre refém da lógica: só governo fraco precisa demonstrar força.

Concordo contigo e alguns comentaristas: tudo dependerá da resposta da economia às reformas. À equação só acrescentaria o elemento das investigações do MP/RJ sobre Flávio Bolsonaro e a ligação da família presidencial com as milícias fluminenses. Mas como Lula foi reeleito pelo resultado econômico do seu governo, mesmo após o Mensalão, voltamos à sentença do Jim Carville, ex-marqueteiro de Bill Clinton: “It’s the economy, stupid”.

Quanto à questão do pacto, também concordo se tratar de trégua entre os três poderes. Embora não entenda como o STF possa pactuar nada além do cumprimento da Constituição. Contudo, a não ser que o presidente, seus filhos e astrólogo voltem à carga nas redes sociais, pode durar até a aprovação das reformas da Previdência e tributária. Ambas serão conduzidas pelo “parlamentarismo branco” abertamente instalado no país.

Aprovadas as principais reformas por um Congresso que, sim, “não quer sair como vilão”, quem controla a pauta da Câmara, inclusive pedidos de impeachment, pode se lembrar que foi representado nas passeatas do domingo com o logotipo da Odebrecht e notas de dólar nos bolsos e sapatos, rotulado publicamente como “Nhonho”, “Judas” e “171”. Por muito menos, Eduardo Cunha (MDB) fez o que fez, antes de se tornar residente do Complexo Penal dos Pinhais.

 

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