Wladimir pede desculpas a assistentes sociais e faz ligação de blogueiro com Rafael

 

“Retirar um trecho fora de contexto, na maioria das vezes é com intuito de prejudicar alguém. Foi isso que fez o blogueiro Frederico Monteiro, presidente da juventude do Cidadania (partido do prefeito) e que também é nomeado na prefeitura com salário de cerca de 5 mil reais.

De toda forma, caso algum profissional tenha se sentido pessoalmente atingido, peço desculpas de pronto e afirmo que nunca foi minha intenção.

Fica aqui registrado meu carinho a todos os servidores públicos municipais, nesse caso em específico aos assistentes sociais”.

 

Wladimir Garotinho e Frederico Monteiro (Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

 

Esta foi a nota gerada hoje pelo deputado federal Wladimir Garotinho (PSD), sobre uma declaração sua sobre o trabalho dos assistentes sociais na seleção de um programa social. Gravada em áudio, a fala do parlamentar foi divulgada aqui, pelo blogueiro Frederico Monteiro. E gerou aqui uma nota de repúdio do secretário de Desenvolvimento Humano e Social Marcão Gomes (PR).

A polêmica foi registrada aqui, em matéria da Folha, na qual Wladimir foi procurado, mas ontem preferiu não se pronunciar.

Sobre o fato do Frederico Monteiro, blogueiro hospedado no Folha1, ser membro do Cidadania e do governo Rafael Diniz, talvez coubesse lembrar que o ex-vereador Thiago Ferrugem (PR), do grupo político de Wladimir, escreve há anos como colaborador da Folha da Manhã. É o que se chama democracia. Em nome dela, o blog publica abaixo a resposta de Frederico, citado nominalmente pelo deputado federal:

“Em nenhum momento retirei do contexto o vídeo publicado, inclusive, não vejo problemas em publicá-lo por completo. Tentar distorcer o que é dito não é uma manobra que aprendi, apesar de ter crescido numa cidade onde essa era a prática comum, agora finalmente livre. Infelizmente, Wladimir age como pai, gosta de se vitimizar e atacar. Convido o deputado a manusear o portal da transparência, ferramenta muito evolutiva, a fim de verificar o verdadeiro salário. Aliás, minhas funções eu conquistei e tento mantê-las com muito esforço, não cresci em torno do garotismo”.

 

Atualizado às 18h17, para incluir a manifestação de Frederico Monteiro.

 

À espera de inquérito do MPF, MPE não viu indícios de queima de corpos em Cambaíba

 

 

Bolsonaro mirou na OAB, acertou em Cambaíba e mentiu sobre prisão de preso político (Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr)

 

Cambaíba e o MPF

Concluído no último dia 26 e ainda sob sigilo, o inquérito do Ministério Público Federal (MPF) de Campos sobre a suposta queima de corpos de presos políticos na usina Cambaíba, durante a ditadura militar (1964/85), se tornou bastante aguardado após a polêmica criada pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL). Na segunda (29), ele disse poder contar ao presidente nacional da OAB, Felipe Santa Cruz, como o pai deste, o militante de esquerda Fernando Santa Cruz, “desapareceu no período militar”. Preso no Rio em fevereiro de 1974, ele teria sido torturado e morto em Petrópolis. E seu corpo transportado a Campos, para ser incinerado em Cambaíba.

 

MPE não viu indícios

Esse roteiro entre a Casa da Morte de Petrópolis, centro de tortura e execução de presos políticos na ditadura, à usina de Campos, é narrado pelo ex-delegado do Dops Cláudio Guerra, no livro “Memórias de uma Guerra Suja” (2012). Na página 58, ele faz menção nominal a Fernando Santa Cruz. Assim que o livro saiu, um dos herdeiros de Cambaíba, o empresário Jorge Lyzandro, pediu que o Ministério Público Estadual (MPE) de Campos abrisse investigação. Em 10 de agosto de 2012, o promotor Marcelo Lessa concluiu: “desses supostos assassinatos ou ocultação de cadáver, não há o menor indício sério e idôneo de quem possam ter ocorrido em território campista”.

 

Rede nacional

Ontem, o inspetor de Polícia Civil José Bainha, da família dos proprietários do espólio de Cambaíba, falou com a coluna. Ele lembrou que, enquanto a investigação do MPF de Campos é aguardada por toda a imprensa brasileira em 2019, a feita pelo MPE da comarca em 2012 concluiu que o relato de Cláudio Guerra “parece ser um devaneio irresponsável (…) talvez para se promover e angariar alguns segundos de fama em rede nacional, o que até acabou conseguindo, infelizmente às custas da honra alheia”. Quase sete anos depois, com o caso novamente em rede nacional, ontem Bolsonaro questionou a Comissão da Verdade: “isso aí é balela”.

 

Da família dos proprietários de Cambaíba, José Bainha diz ser impossível a incineração de corpos na usina (Foto Genilson Pessanha – Folha da Manhã)

 

Questionamentos

Para reforçar que “isso é impossível de ter acontecido”, José Bainha disse que os fornos da usina ficavam em frente a uma via pública, diante de um vilarejo com 200 casas. Contou que, no período da moagem, os fornos operavam 24h, com 20 funcionários em cada turno de 12h. E que, no total, a usina tinha 300 funcionários, mais o movimento dos caminhões de cana. “Meu avô (o usineiro Heli Ribeiro Gomes, duas vezes deputado federal e vice-governador biônico do antigo Estado do Rio) era um político importante e conhecido na cidade. Se isso tivesse acontecido, diante de tanta gente, não seria explorado na época?”, questionou o neto.

 

Possibilidades e certeza

A versão de que o corpo de Santa Cruz teria sido incinerado em Cambaíba não é a única. A Comissão da Verdade aponta também a possibilidade dele ter sido sepultado em vala comum, no Cemitério do Perus, em São Paulo. Na dúvida, a certeza é que Bolsonaro mentiu ao dizer em live que o pai do presidente da OAB foi morto pelo próprio grupo, o Ação Popular Marxista-Leninista (APML). O relatório secreto RPB 655 da Aeronáutica atesta que ele foi preso em 22 de fevereiro de 1974. Independente do destino do corpo, foi morto pela ditadura que o presidente nega ter existido. E falta com o decoro ao cargo ao usar isso como arma, enquanto ri, contra um filho.

 

Relatório secreto RPB 655, do Comando Costeiro da Aeronáutica atesta que Fernando Santa Cruz foi preso pela ditadura

 

Orávio quer Chicão

No Folha no Ar da manhã da última segunda, o jornalista, professor e dramaturgo Orávio de Campos Soares lançou uma opção ao vivo no microfone de rádio mais ouvido de Campos. Garotista histórico, para ele seria importante que Wladimir Garotinho (PSD) desse seguimento ao seu mandato na Câmara Federal. Como opção do grupo político na eleição a prefeito de Campos em 2020, Orávio lançou Dr. Chicão. Vice-prefeito das gestões municipais Rosinha (hoje, Patri), ele foi o candidato governista na eleição de 2016, vencida no primeiro turno pelo então opositor e atual prefeito, Rafael Diniz (Cidadania).

 

Chicão quer Wladimir

Ouvido ontem pela coluna, Chicão se disse “lisonjeado” pela lembrança. Mas negou a possibilidade: “Estou completamente mergulhado na medicina”. Entre os pediatras mais conceituados da cidade, tem se dividido entre sua clínica, o atendimento na saúde pública municipal, onde é médico concursado, e Quissamã. Recentemente, ganhou um título de cidadão quissamaense, “pelo trabalho como médico, não como ex-vice-prefeito de Campos”. Primo de Wladimir, Chicão considera o deputado o melhor candidato do grupo: “Vi a entrevista dele no Folha no Ar (no dia 22) e o achei muito amadurecido e embasado”.

 

Publicado hoje (31) na Folha da Manhã

 

Bolsonaro ignora respeito aos mortos e a Constituição para atacar presidente da OAB

 

 

Enquanto cortava o cabelo, Bolsonaro gravou live ontem à tarde para dizer que o pai do presidente da OAB teria sido morto pelo grupo de esquerda que integrava, ao contrário do que concluiu a Comissão da Verdade (Reprodução)

 

Bolsonaro mira OAB e acerta Campos

Em mais uma de suas declarações polêmicas, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) atirou na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e acertou em Campos dos Goytacazes. Mesmo sem querer, a nova celeuma do mandatário da nação envolve a suposta queima de corpos de presos políticos nos fornos da usina Cambaíba, denunciada pelo ex-delegado do extinto Departamento de Ordem Política e Social (Dops) Cláudio Guerra no livro “Memórias de uma Guerra Suja” (2012), escrito por Marcelo Netto e Rogério Medeiros, que gerou inquérito já concluído no Ministério Público de Campos.

 

Quem é quem

Ontem, Bolsonaro indagou a jornalistas: “Por que a OAB impediu que a Polícia Federal entrasse no telefone de um dos caríssimos advogados (do ex-militante do Psol Adélio Bispo, que esfaqueou o então candidato durante ato de campanha em Juiz de Fora, elegendo-o presidente)? Qual a intenção da OAB? Quem é essa OAB?”. E revelou quem é a pessoa do presidente da República, com uma provocação pessoal, de caráter no mínimo duvidoso, contra o presidente nacional da OAB, Felipe Santa Cruz: “Se o presidente da OAB quiser saber como o pai dele desapareceu no período militar, eu conto. Ele não vai querer ouvir a verdade”.

 

Os mortos e a Constituição

O pai de Felipe Santa Cruz foi o militante de esquerda Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira, desaparecido em 23 de fevereiro de 1974, nos anos de chumbo da ditadura militar (1964/1985). Pelo nível rasteiro do ataque, as reações foram imediatas. Em qualquer sociedade, o respeito aos mortos é valor cultivado. Se não pela moral, a OAB lembrou em uma nota de repúdio os limites da Constituição: “Todas as autoridades do País, inclusive o senhor presidente da República, devem obediência à Constituição, que tem entre seus fundamentos a dignidade da pessoa humana, na qual se inclui o direito ao respeito da memória dos mortos”.

 

No STF

Por sua vez, o presidente nacional da OAB classificou Bolsonaro em carta aberta: “O mandatário da República deixa patente seu desconhecimento sobre a diferença entre público e privado, demostrando mais uma vez traços de caráter graves em um governante: a crueldade e a falta de empatia”. É a falta de empatia, a incapacidade de enxergar o outro como semelhante, que configura a psicopatia. Da psiquiatria que explica esfaqueadores e esfaqueados, à Justiça que os julga por seus atos, Santa Cruz disse que vai acionar o Supremo Tribunal Federal (STF) para que o presidente conte o que sabe sobre a morte do seu pai.

 

Passado condena

Preocupado com a forte reação ao seu mais recente episódio de incontinência verbal, Bolsonaro depois recorreu às redes sociais para tentar dourar a pílula amarga: “Isso que aconteceu, não foram os militares que mataram ele, não, tá? É muito fácil culpar os militares por tudo. Isso mudou. Mudou através do livro ‘A Verdade Sufocada’, o depoimento do Brilhante Ustra”. Por homenagear Ustra, único militar condenado pela Justiça por tortura na ditadura militar, em seu voto pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), que a teria torturado, a OAB já tinha representado contra o então deputado federal Jair Bolsonaro.

 

Cambaíba

Questionada pelo general linha dura Rocha Paiva — que chamou o vereador Carlos Bolsonaro (PSL) de “idiota inútil” e foi chamado pelo pai-presidente de “melancia” (verde por fora, vermelho por dentro) —, a Comissão da Verdade concluiu que Fernando Santa Cruz foi morto pelas forças de repressão da ditadura. Na página 58 do livro “Memórias de uma Guerra Suja”, Cláudio Guerra narra: “Fiz outras viagens entre a Casa da Morte (centro de tortura e execução em Petrópolis) e a usina de Campos (Cambaíba) para levar corpos, que eu identifiquei serem de Fernando Augusto Santa Cruz Oliveira (…) transportei os cadáveres para a incineração”.

 

MPF de Campos

Com o caso vindo novamente à tona, o procurador da República em Campos, Guilherme Virgílio, informou ontem à reportagem da Folha que o inquérito sobre a suposta queima de corpos de presos políticos em Cambaíba foi concluído na semana passada. E que o MPF está trabalhando na finalização do que será apresentado à Justiça. O procurador confirmou que Cláudio Guerra disse no livro e em depoimentos na Comissão da Verdade que o corpo de Fernando Santa Cruz foi incinerado na usina, mas não pôde dar mais detalhes porque o procedimento ainda está sob sigilo. Que, acredita, será levantado ainda esta semana.

 

A lei e a moral

Que os grupos de resistência armada à ditadura militar pretendiam implantar uma ditadura socialista no Brasil, é atestado por todos os documentos destes mesmos grupos. Inclusive a Ação Popular Marxista-Leninista (APML), em que militava o pai do presidente da OAB. Mas se o Brasil vivia uma guerra, até nela há regras. Para isso foram feitas as Convenções de Genebra, na Suíça. Que criminalizaram a tortura e o assassinato de prisioneiros de guerra. Para esses crimes, há o Tribunal Internacional de Justiça em Haia, na Holanda. Antes dele, ou de se usar a morte de um pai para atacar um filho, há ou deveria haver outra coisa: escrúpulo moral.

 

Publicado hoje (30) na Folha da Manhã

 

Rafael e PT rebatem Joilson. Wladimir, Carla, Rodrigo, Gil e Mérida gostam. Caio cala

 

Charge do José Renato publicada hoje (30) na Folha

 

 

No último domingo (28) a Folha publicou (aqui) uma entrevista de duas páginas com o empresário Joilson Barcelos (PP), falando sobre a possibilidade dele se lançar candidato a prefeito de Campos em 2020. E gerou bastante repercussão, sobretudo pelas análises elogiosas e críticas que ele fez de lideranças políticas locais, regionais e nacionais. Citado criticamente, em encontros pessoais narrados por Joilson, o prefeito Rafael Diniz (Cidadania) reagiu com veemência, acusando o entrevistado de faltar com a verdade:

 

Joilson Barcelos (Foto de Antonio Leudo – Folha da Manhã)

 

Prefeito Rafael Diniz

— Joilson começa super-mal sua vida política, faltando com a verdade e elogiando os Garotinho. Só estive em sua casa perto da eleição de 2018, quando ele me convidou para conversar com representantes de instituições e pediu que eu liberasse pessoas do nosso grupo para apoiar Marcelo Mérida (então PSD, de mudança ao PSC). Deixei claro que não poderia fazer isso porque nosso candidato era Marcão. Mas será que ele se esqueceu de todas as audiências que solicitou comigo para tratar de seus empreendimentos, a última delas há três semanas? E convenhamos: quem considera Garotinho um fenômeno precisa mesmo procurar motivos para discordar do que eu tenho feito para reerguer Campos, depois do fenômeno de má administração e corrupção na gestão dos Garotinho. Mas Joilson deve ter seus motivos pessoais. Vou manter foco naquilo que me propus a fazer: reconstruir nossa cidade.

Deputado federal Wladimir Garotinho

Por sua vez, o deputado federal Wladimir Garotinho (PSD) reagiu bem à maneira mais complacente com que foi analisado pelo entrevistado: “tem experiência de pai e mãe com gestões, chegaram a ser governadores”. Ao falar do ex-governador Anthony Garotinho (sem partido), Joilson disse: “esse cara é um fenômeno”. Filho de Garotinho, o pré-candidato a prefeito retribuiu:

— Joilson é um grande empresário de sucesso, um homem que todo campista deve reconhecer o bem que o grupo empresarial dele faz a cidade, na geração de empregos e fluxo de renda. Concordo muito com ele quando diz que ser gestor privado é completamente diferente de ser gestor público, tem muitas pessoas que pensam que é a mesma coisa e pode se usar os mesmos métodos, mas não funciona assim. Sendo ele candidato ou não, é uma pessoa importante no processo.

Prefeita Carla Machado

Quem também gostou da citação elogiosa foi a prefeita sanjoanense Carla Machado, do mesmo PP de Joilson, por quem foi chamada de “uma grande líder”. Ela respondeu:

— Joilson é um grande empreendedor e conhecedor da realidade da região. É natural que seu nome ganhe relevância no debate sobre o desenvolvimento regional. Ele tem uma vivência empresarial que é importante e o fato de ocupar hoje um espaço político é absolutamente legítimo do ponto de vista democrático. Sou muito grata a Joilson pelo reconhecimento ao nosso esforço para organizar a Prefeitura de São João da Barra e avançar nas políticas públicas. Temos conseguido resultados muito bons, mesmo com as dificuldades que herdamos, que não são poucas e até hoje impactam nossa gestão. Também fico feliz com a citação ao amigo Dodozinho (ex-prefeito de SJB e vice-prefeito nos dois primeiros mandatos de Carla).

Deputado estadual Rodrigo Bacellar

Considerado pelo empresário como político de “uma experiência muito boa de articulação”, o deputado estadual Rodrigo Bacellar (SD) também devolveu a avaliação generosa. Mas foi mais econômico nas palavras que os demais:

— Não podia esperar nada diferente de um homem educado como o Joilson, grande empresário e empreendedor que não pode ser desprezado e muito menos subestimado no tabuleiro político para 2020.

Pré-candidato a prefeito Caio Vianna

Mais econômico ainda foi o pré-candidato a prefeito do PDT, Caio Vianna. Depois de ter sua falta de experiência criticada pelo empresário — “ele não tem visão nenhuma de gestão pública, conhecimento, de experiência de gestão de nada” —, o filho do ex-prefeito Arnaldo Vianna (MDB) se limitou a dizer: “Prefiro não comentar”.

Deputado estadual Gil Vianna

Vice na chapa de Caio na eleição a prefeito de 2016, o hoje deputado estadual e pré-candidato a prefeito Gil Vianna (PSL) preferiu analisar o lado bom das palavras de Joilson, que o chamou de “um cara bacana”, embora tenha questionado: “mas não sei se tem uma visão dessa gestão, do que é uma gestão de poder público, e digo Campos, especialmente, com R$ 2 bi de orçamento”. Gil respondeu:

— Joilson é um grande empreendedor do município, um visionário. Mas a política requer uma outra visão. A gente, que anda na rua fazendo política, sabe disso. Agradeço por ele ter se referido a mim como “um cara bacana”. Também acho ele um cara bacana, com origem de família humilde, mas de gente de caráter, como a minha. E eu acho que tem que ser por aí mesmo. Como sempre digo, em Campos você tem a política dividida entre famílias: os Garotinho, os Vianna, os Bacellar, os Diniz. Nesse ponto, eu e Joilson nos parecemos. Tivemos valores das nossas famílias e com eles fizemos nossos caminhos por conta própria. Se ele vier a prefeito em 2020, será mais uma opção ao eleitor. Uma opção que não foi testada na disputa majoritária, como são Rafael, prefeito e candidato natural à reeleição, e Caio, que disputou em 2016. Joilson, eu, Wladimir, Rodrigo e Mérida nunca fomos testados em eleição majoritária.

Pré-candidato a prefeito Marcelo Mérida

Considerado parceiro de Joilson no grupo empresarial local que aspira representação política, Marcelo Mérida está com um pé no PSC, pelo qual também pode ser pré-candidato a prefeito de Campos. Ainda que seja o partido do governador Wilson Witzel, a quem o entrevistado de domingo se referiu como “outro que caiu de paraquedas”. Elogiado, apesar disso, como “um líder da sua categoria”, Mérida devolveu:

— Nós temos uma visão clara e um compromisso com o desenvolvimento, geração de emprego e um entendimento que é preciso discutir Campos e não nomes. Acredito que estamos desbravando caminhos para inserir o modelo de gestão na política. Em tese concordo com seu posicionamento quando cita o laboratório que realizamos em 2018 (quando Mérida concorreu a deputado federal e ficou atrás de Wladimir, Marcão Gomes e Caio) na minha visão vitorioso pelo olhar da experiência adquirida.

Presidente da CDL/Campos, Orlando Portugal

Outro integrante do grupo empresarial de Joilson e Mérida, o presidente da CDL/Campos, Orlando Portugal foi também citado na entrevista, por conta da polêmica criada com o secretário de Governo de Rafael, jornalista Alexandre Bastos. Este acusou que algumas cobranças públicas da CDL a Prefeitura se deviam ao fato de Orlando, como Mérida, ter sido secretário do governo Rosinha Garotinho (hoje, Patri). Defendido por Barcelos, Portugal foi recíproco:

— Como presidente da CDL, atendo os anseios e necessidades de nossos associados, as demandas do setor produtivo chegam diariamente. As cobranças ao governo municipal quanto as melhorias no tocante ao transporte público e as pessoas que vivem em vulnerabilidade social em nossa cidade, são antigas, desde mandatos anteriores da CDL. Estamos vivendo momento crítico em relação a esses dois pontos. Não há por parte do presidente e sua diretoria qualquer movimento político em relação a esses fatos, embora tenha participado do governo anterior, consigo não misturar as estações. Tenho um grande respeito pelo amigo e empresário Joilson. E tenho nele um exemplo de esforço, dedicação e, acima de tudo, garra para desenvolver os seus negócios empresariais.

Pré-candidato a prefeito José Maria Rangel

Como Rafael, quem devolveu as críticas de Joilson na mesma moeda foram representantes do PT de Campos, cujo líder preso, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi chamado de “corrupto” e “safado” pelo empresário. Ele também questionou a perda do dedo de Lula no trabalho como metalúrgico, afirmando que teria sido proposital. Outro candidato de Campos a deputado federal em 2018 e cogitado como pré-candidato em 2020 pelo partido, o petroleiro José Maria Rangel bateu duro no entrevistado:

— A fala dele sobre Lula e sobre os trabalhadores é preconceituosa, bem ao estilo de muitos empresários. Está filiado ao PP, partido com mais envolvidos na Lava Jato. Contraditório, né? Elogia Bolsonaro, por ter sido deputado por 30 anos e sequer sabe que ele apresentou projetos de lei que não enchem uma mão, nenhum para segurança pública. Elogia Moro, que pelas revelações do Intercept está revelando ser um corrupto e chefe de uma organização criminosa junto com Dallagnol. Ninguém é obrigado a gostar de Lula, mas é inegável que nos oito anos de governo dele todos os números da economia cresceram, muito provavelmente foi neste período que o grupo Super Bom (do qual Joilson é proprietário) cresceu. E, por fim, cita Deus como um vingador. Francamente.

Membro da Juventude do PT Gilberto Gomes

No blog de Frederico Monteiro, hospedado no Folha 1, outro petista reagiu ontem com força às palavras duras de Joilson sobre Lula. Estudante da Uenf e membro da Juventude do PT, Gilberto Gomes questionou:

—  O que mais me preocupa é como um empregador tão importante para nossa cidade pode pensar que um trabalhador seria capaz de se automutilar por folga ou indenização. Será que esta é a postura que Joilson assume quando um de seus funcionários sofre um acidente de trabalho? Joilson deveria tomar cuidado com as verdades que revela nas entrelinhas, uma vez que já existem denúncias de ex-empregados de sua rede pelo não cumprimento de obrigações trabalhistas. E ao ser questionado sobre como enxergava a figura de Anthony Garotinho, que nos jogou para um buraco sem precedentes, Joilson apenas respondeu: “Rapaz, eu acho esse cara um fenômeno”. Joilson ataca Lula, responsável pelos maiores avanços sociais do Brasil, e abraça Garotinho, que afundou Campos. Mais do que nunca, se encaixa aqui que: quando Joilson me fala sobre Lula, sei mais de Joilson que de Lula.

 

Página 2 da edição de hoje (30) da Folha

 

Publicado hoje (30) na Folha da Manhã

 

Em outra polêmica, Bolsonaro mira na OAB e acerta em antiga usina de Campos

 

Presidente nacional da OAB, Felipe Santa Cruz, e seu pai, que teria sido morto pela ditadura militar e tido o corpo queimado na usina Cambaíba (Montagem)

 

“Memórias de uma Guerra Suja”, livro de Marcelo Netto e Rogperio Medeiros sobre as revelações do ex-delegado do Dops Cláudio Guerra

Hoje o presidente Jair Bolsonaro (PSL) deu mais uma das suas polêmicas declarações. Sobre um dos seus assuntos preferidos: a nossa última ditadura militar (1964/1985). Só que desta vez envolveu Campos dos Goytacazes, mesmo sem querer, na nova celeuma. O caso envolve a suposta queima de corpos de presos políticos nos fornos da usina Cambaíba, denunciada pelo ex-delegado do extinto Departamento de Ordem Política e Social (Dops) Cláudio Guerra no livro “Memórias de uma Guerra Suja” (2012), e em seu depoimento na Comissão da Verdade.

Hoje de manhã, falando a jornalistas, Bolsonaro se mostrou descontente com a atuação da Ordem os Advogados do Brasil (OAB) nas investigações sobre o caso de Adélio Bispo. Como é notório, o ex-militante do Psol lhe deu uma facada durante a campanha presidencial de 2018, em Juiz de Fora (MG), considerada fundamental para sua vitória nas urnas:

— Por que a OAB impediu que a Polícia Federal entrasse no telefone de um dos caríssimos advogados (do Adélio)? Qual a intenção da OAB? Quem é essa OAB? — questionou o presidente.

Logo depois, como é do seu estilo, Bolsonaro partiu para o ataque pessoal contra o próprio presidente nacional da OAB, Felipe Santa Cruz, que teve o pai Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira, militante de esquerda desaparecido em 1974, nos anos de chumbo da ditadura:

—  Um dia se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, eu conto para ele. Ele não vai querer ouvir a verdade. Eu conto para ele. Não é minha versão. É que a minha vivência me fez chegar às conclusões naquele momento. O pai dele integrou a Ação Popular, o grupo mais sanguinário e violento da guerrilha lá de Pernambuco, e veio a desaparecer no Rio de Janeiro.

 

 

A declaração gerou nota de repúdio da OAB, que lembrou os limites da Constituição ultrapassados pelo presidente: “Todas as autoridades do País, inclusive o Senhor Presidente da República, devem obediência à Constituição Federal, que instituiu nosso país como Estado Democrático de Direito e tem entre seus fundamentos a dignidade da pessoa humana, na qual se inclui o direito ao respeito da memória dos mortos”.

Jurema Werneck, da Anistia Internacional

Em carta aberta a Bolsonaro, Felipe Santa Cruz disse: “O mandatário da República deixa patente seu desconhecimento sobre a diferença entre público e privado, demostrando mais uma vez traços de caráter graves em um governante: a crueldade e a falta de empatia”. Diretora da Anistia Internacional, Jurema Werneck ressaltou que “é terrível que o filho de um desaparecido pelo regime militar tenha que ouvir do presidente do Brasil, que deveria ser o defensor máximo do respeito e da justiça no país, declarações tão duras”.

Após a reação, Bolsonaro voltou a se manifestar sobre o assunto nas redes sociais, atribuindo a morte de Fernando Santa Cruz aos próprios movimentos de oposição à ditadura:

— Tinha o Santa Cruz, que era jovem, veio para o Rio de Janeiro. De onde eu obtive as informações? Com quem eu conversei na época, ora bolas. Conversava com muita gente. […]. E o pessoal da AP (Ação Popular) do Rio de Janeiro ficou, primeiro, ficaram estupefatos, ‘como é que pode esse cara vir do Recife se encontrar conosco aqui?’. O contato não seria com ele, seria com a cúpula da Ação Popular de Recife. E eles resolveram sumir com o pai do Santa Cruz (…) Isso que aconteceu, não foram os militares que mataram ele, não, tá? É muito fácil culpar os militares por tudo o que acontece. Isso mudou. Mudou através do livro “A Verdade Sufocada”, o depoimento do Brilhante Ustra.

Diferente da versão de Bolsonaro e do falecido coronel Carlos Brilhante Ustra, único militar a serviço da ditadura condenado por tortura e morte de presos políticos no Brasil, o ex-delegado do Dops Cláudio Guerra conta na página 58 do livro “Memórias de uma Guerra Suja”:

 

Cláudio Guerra, ex-delegado do Dops convertido em pastor evangélico

 

Página 58 do livro “Memórias de uma Guerra Suja” (Foto: Vitor Menezes)

— Fiz outras viagens entre a Casa da Morte e a usina de Campos (Cambaíba) para levar corpos, que eu identifiquei, pelo livro, serem de Fernando Augusto Santa Cruz Oliveira, Eduardo Coleia Filho, José Roman e Luiz Ignácio Maranhão Filho. Mais uma vez não torturei, não matei. Somente transportei os cadáveres para a incineração. Perdigão e Vieira passaram a contar com a usina de Campos como um braço operacional das execuções, uma alternativa para eliminar os vestígios dos mortos pelo regime.

Com base no testemunho de Cláudio Guerra e outros, a Comissão Nacional da Verdade concluiu que Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira foi “preso e morto por agentes do Estado brasileiro”. A partir das revelações do livro, o Ministério Público Federal de Campos abriu uma investigação sobre a suposta queima de corpos de presos políticos durante a ditadura na usina Cambaíba.

Procurador da República da comarca, Guilherme Virgílio assumiu as investigações após a transferência de Eduardo Santos Oliveira para o Rio de Janeiro. Ele informou hoje que o inquérito foi concluído na semana passada e que o MPF está trabalhando na finalização e no que será apresentado à Justiça. O procurador confirmou que Cláudio Guerra disse no livro e em depoimentos na Comissão da Verdade que o corpo de Fernando Santa Cruz foi incinerado em Cambaíba, mas não pôde dar mais detalhes porque o procedimento ainda está sob sigilo. No entanto, disse acreditar que o sigilo será levantado ainda nesta semana. Assim que o sigilo cair, ele vai encaminhar todas as peças da investigação.

Vitor Menezes, diretor do documentário “Forró em Cambaíba”

Diretor do documentário “Forró em Cambaíba” (2013), que trata das denúncias de Cláudio Guerra e a ocupação da terras da usina pelo MST, o jornalista campista Vitor Menezes disse hoje sobre o caso, que voltou à tona com a nova polêmica de Bolsonaro:

— Se o presidente disse estar informado sobre as circunstâncias da morte do militante Fernando Santa Cruz, tem a obrigação moral de revelar para a família e para a sociedade o que ocorreu. No caso específico de Cambaíba, contribuiria também para elucidar o suposto uso do local para queima de corpos de presos políticos. Seria o modo honrado de lidar com a história, especialmente em se tratando de crime praticado pelo Estado e sendo Bolsonaro, agora, seu mais importante representante.

Cristiano Miller, presidente da OAB/Campos

Presidente da OAB/Campos, Cristiano Miller também comentou as declarações do presidente da República sobre o pai do presidente nacional da OAB:

— Esses ataques, em verdade, atingem à advocacia como um todo. Independente da escolha político-partidária de cada um. E todos nós somos livres, óbvio, para tê-las. As ofensas da forma como estão sendo feitas são inaceitáveis e não podem contar com o nosso apoio.

Jornalista Erick Bretas

Um dos primeiros a fazer o elo (aqui) das declarações de Bolsonaro com a antiga usina de Campos foi o jornalista niteroiense Erick Bretas, influenciador virtual que trabalha radicado nos EUA, na área de tecnologia da Globo:

— Bolsonaro cruzou, mais uma vez, a fronteira da simples estupidez e da deselegância e entrou num território muito delicado ao falar hoje cedo de Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira, pai do presidente da OAB, desaparecido em 23 de fevereiro de 1974, no Rio de Janeiro (…) É ocioso continuar deitando falação sobre as grosserias e impropriedades ditas pelo presidente da República. Mas é importante apontar as consequências dessas falas, inclusive legais. As prerrogativas de presidente não significam inimputabilidade. Mais cedo ou mais tarde Bolsonaro terá que prestar contas pelo que diz.

 

Colaborou o jornalista Aldir Sales

 

Rafael: Joilson estreia na política super-mal, falta com a verdade e elogia os Garotinho

 

Na entrevista sobre a possibilidade de se lançar candidato a prefeito de Campos em 2020, publicada (aqui) na Folha do último domingo (28), o empresário Joilson Barcelos também analisou alguns quadros políticos locais, regionais e nacionais. Se foi complacente com alguns, como o ex-governador Anthony (sem partido) e o deputado Wladimir Garotinho (PSD), foi contundente na crítica a outros. Foram os casos, por exemplo, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do prefeito de Campos, Rafael Diniz (Cidadania).

Sobre o que Joilson disse de Lula, a quem chamou de “corrupto” e “safado”, a resposta veio forte e rápida, pelo universitário Gilberto Gomes, do DCE da Uenf e membro da Juventude do PT. O blogueiro da Folha Frederico Monteiro a divulgou aqui.

Rafael também de manifestou. E enviou sua análise ao blog. Nela, desmentiu e questionou algumas das informações dadas pelo empresário na entrevista. Confira abaixo a resposta do prefeito:

 

Rafael Diniz e Joilson Barcelos (Fotos: Folha da Manhã – Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Joilson Barcelos começa sua tentativa de vida pública super-mal: faltando com a verdade e elogiando os Garotinhos. Nunca estive na casa dele na época da minha candidatura, tampouco logo depois que ganhei a eleição. Quando estive, foi em 2018, quando ele me convidou para conversarmos com representantes de instituições, como CDL, Acic, Firjan, Fundenor. E me pediu que eu liberasse algumas pessoas do nosso grupo para apoiar Marcelo Mérida (então PSD, de mudança ao PSC), que também estava presente. Conversamos sobre temas variados, assim como deixei claro que não poderia ajudar Mérida, uma vez que nosso candidato a deputado federal era Marcão.

Mas será que ele se esqueceu que todas as outras vezes que solicitou audiência comigo foi para tratar apenas de seus empreendimentos? Como a última, que aconteceu há três semanas?

E, convenhamos, quem considera Garotinho um fenômeno realmente precisa procurar motivos para discordar de ações que fazemos para reerguer nossa cidade, diante dos fenômenos de má administração e corrupção implantados na gestão dos Garotinhos à frente do Estado e do município. Mas ele deve ter seus motivos pessoais para achar Garotinho um fenômeno.

De todo modo, o importante é mantermos o foco naquilo para o qual sempre estivemos preparados e dispostos a fazer: reconstruir a cidade, ajustando as contas e preparando o município para além dos royalties, através de uma gestão técnica e responsável.

 

Confira na edição da Folha desta terça (30) a repercussão completa dos outros citados por Joilson na entrevista: a prefeita sanjoanense Carla Machado (PP), Wladimir, os deputados estaduais Gil Vianna (PSL) e Rodrigo Bacellar (SD), os também pré-candidatos a prefeito José Maria Rangel (PT), Caio Vianna (PDT) e Marcelo Mérida, além do presidente da CDL/Campos, Orlando Portugal.

 

Outsider a prefeito de Campos em 2020 não nega, nem admite, e analisa quadro político

 

Por Aldir Sales e Aluysio Abreu Barbosa

 

Em todas as simulações a prefeito de Campos em 2020, a opção de outsider é quase sempre a mesma: o empresário do ramo de supermercados Joilson Barcelos. Nesta entrevista à Folha, ele não nega, nem confirma a possibilidade. Seu grupo lojista ganhou nesta semana outro potencial prefeitável: Marcelo Mérida, companheiro de Joilson, vai migrar ao PSC do governador Wilson Witzel. A não eleição de Mérida a deputado federal em 2018 foi um “sinal amarelo”, admitiu Barcelos, na tentativa do empresariado local ter representação política. Ele diz não ver diferença entre consumidor e cidadão. Foi crítico ao prefeito Rafael Diniz (PPS), assim como a Caio Vianna (PDT) e a Witzel. E ainda mais duro com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Mas elogiou a prefeita sanjoanense Carla Machado (PP), o deputado estadual Rodrigo Bacellar (SD) e o ministro da Justiça Sérgio Moro. Sobre os Garotinho, que alguns enxergam por trás das ações da CDL/Campos, Joilson ficou em cima do muro, entre o “positivo” e o “negativo”.

 

(Foto: Antonio Leudo – Folha da Manhã)

 

 

Folha da Manhã – Você é pré-candidato a prefeito de Campos?

Joilson Barcelos – Vou responder o que falo para todo mundo que me pergunta isso. Nessa semana eu tive um momento lá na obra (do novo Shopping Guarus) que um grupo de pedreiros e ajudantes vieram me fazer essa mesma pergunta. E eu respondi para eles o seguinte: eu sou empresário, não sou político, mas o caminhar da coisa que vai decidir depois. Não te direi que serei candidato, mas também não sei se não vou. Vamos ver como vai ser lá para frente.

 

Folha – Você tem vontade de ser prefeito de Campos?

Joilson – Vou dizer o que falei com minha família. Eles também me apertaram sobre isso. Nós sempre temos sonhos e vou contar um dos sonhos que tive quando era muito jovem. Sempre pautei minha vida para chegar a esse momento, que fosse reconhecido. Eu muito jovem, aos 17 anos, sempre me incomodei muito com a questão da desigualdade, também com a pessoa que tem poder e usa o poder pelo poder. E lá atrás meu sonho era ser prefeito de São João da Barra, porque eu sou de lá. Eu tinha uma visão que teria de ser apoiado por Genecy Mendonça (o Dodozinho, ex-prefeito de SJB), que era um grande líder na região. Desse momento que eu pautei minha vida, que eu fosse reconhecido. E o que eu falei com minha família é que é um sonho. Mas o sonho tem que ser com responsabilidade para não virar pesadelo. Hoje eu tenho um momento muito importante na minha empresa. Não posso ser irresponsável de largar a minha empresa no momento em que ela está hoje e concorrer a um cargo político, que é um sonho. Ser prefeito de uma cidade como Campos, acho que o cara que não tiver esse sonho de ser, ele não está sonhando com um dia melhor, uma vida melhor. Sou uma pessoa muito grata pela sociedade, que hoje reconhece que eu possa ser prefeito, que possa ter uma liderança diante de uma cidade como Campos, com 500 mil habitantes. Fico muito grato e me sinto à vontade para dizer que isso é muito satisfatório em saber. Mas eu não sei se vou conseguir ser ou não, pela minha responsabilidade.

 

Folha – Você é um homem prático, de negócios e falou em São João da Barra. Você está hoje filiado ao PP, que é o partido da prefeita sanjoanense Carla Machado. Sua pré-candidatira seria pelo PP

Joilson – Você está falando comigo como se eu fosse um pré-candidato.

 

Folha – Quando você vai fazer seus empreendimentos comerciais, tem todo o trabalho de projeto e pesquisa antes. Como político, não?

Joilson – Isso. Do mesmo modelo, eu faço todas as coisas da minha vida. Também tenho a certeza e sei que cavalo selado não passa duas vezes. Hoje pode ser a oportunidade de eu realizar um sonho. E aí eu volto a outra pergunta. Você está se preparando para isso? Não estou. Sou filiado ao PP por causa de um momento. Existia alguma coisa que precisaria decidir e o Papinha (ex-vereador) me chamou para me filiar ao partido. Mas se você me perguntar: Joilson, você se filiou ao PP para quê? Não teve nenhum objetivo a longo prazo.

 

Folha – Quando se filiou?

Joilson – Foi na eleição de 2016. Mas não me filiei para dizer que quero ser candidato. Houve alguma especulação naquela época, de que eu poderia ser vice de fulano, de beltrano, de cicrano. Mas não houve nada como está tendo agora. Sou filiado ao PP, mas não porque tinha algum compromisso, algum projeto.

 

Folha – Você está com um novo empreendimento que até cinema vai ter, O Shopping Guarus.

Joilson – São três salas de cinema. Nós fechamos com a Casa & Vídeo, com a academia, que é do Flamengo…

 

Folha – Quanto de área construída?

Joilson – De área construída, cerca de 14 mil m².

 

Folha – Quantas pessoas empregadas?

Joilson – Hoje temos 600 pessoas. E depois da obra finalizada calculo que de 500 a 600 pessoas. Já geramos mais de 1.500 empregos, ao todo, entre indiretos e diretos.

 

Folha – Todo empresário trabalha com metas. Entre o novo empreendimento e o sonho de ser prefeito de Campos, qual viria primeiro na escala de prioridades?

Joilson – Eu tenho que colocar a minha empresa. Se hoje eu sou o que sou, é pela minha empresa. Acredito naquilo que eu vejo.

 

Folha – E a inauguração do Shopping Guarus vai ser quando?

Joilson – Inauguramos nossa loja do SuperBom no dia 15 de agosto e no dia 10 de outubro vamos inaugurar o shopping. Abrimos o shopping na parte da manhã e à noite fazemos uma comemoração com show de Daniel.

 

Folha – Então daria tempo, pelo calendário eleitoral, para cumprir uma meta e partir para outra.

Joilson – Tem todo um cronograma que vai ser analisado. Tenho que ter tudo isso bem posicionado. Tenho hoje um contrato de sócio que determina que eu tenha que me afastar totalmente se eu for candidato a qualquer cargo político. Tem todo um passo a passo de que, se vier a acontecer, tenho que me preparar bem antes. O prazo que você está falando, para uma possível candidatura, eu teria que me preparar muito antes. E eu também não vou entrar “de bucha”, não. Se eu perceber que não tenho capacidade e estrutura para tocar uma candidatura, eu também não vou. Já falei até com minha família, terminando a obra, vou fazer alguns cursos de gestão pública.

 

Folha – Qual a sua formação?

Joilson – Minha formação é muito mais do tempo de trabalho do que acadêmica. Estudei até a sétima série, depois fiz um supletivo e terminei o Ensino Médio.

 

Folha – O Brasil de hoje mudou muito na política. Tem Jair Bolsonaro (PSL) presidente, Wilson Witzel (PSC) governador e um perfil parecido com o seu, que é o de Romeu Zema (Novo), governador de Minas Gerais. De um tempo para cá, essa coisa do gestor entrou na moda. Acha que pegar pessoas que venceram na iniciativa privada para o poder público está correta? Você se vê nesse perfil?

Joilson – Vou falar por mim. Tocar uma empresa é um negócio totalmente diferente de fazer gestão de dinheiro público. Eu produzo resultado e dali faço meu grau de investimento. No poder público é diferente. Vou fazer gestão de um dinheiro que vem para mim carimbado ou vem pela arrecadação própria e preciso fazer uma gestão para a sociedade. É diferente. Para criar um ambiente bom para a sociedade. Eu acho que os prefeitos deveriam ter um plano bem alinhado com o orçamento. E o orçamento precisa ser muito bem alinhado com as necessidades da população. Você tem que planejar muito para fazer algo bem feito. A nossa gestão é com pouco dinheiro, nós, como empresários, temos que exercitar o ganhar e não perder para que faça um investimento muito bem feito para ter um resultado. Se o poder público coloca R$ 100 mil de investimento no mercado, isso se multiplica dez vezes, porque ele circula e faz a roda girar. Mas não é muito fácil se não tiver um controle e gestão bem alinhada. Aí vem os problemas que vivemos no Brasil.

 

Folha – Você se encaixa nesse perfil de gestor da iniciativa privada, como Zema, que poderia fazer a transição ao poder público?

Joilson – Aí que está o problema. Gestão pública depende muito da política. Preciso avançar como político ou preciso avançar como gestor? As coisas devem andar juntas. Não adianta eu falar que vou fazer uma gestão com o dinheiro público da mesma maneira que faço na minha empresa. Isso vai dar errado. O modelo de enxergar esse resultado que você vai precisar para desenvolver a Saúde, a Educação, a segurança, a habitação, que acho que as responsabilidades do poder público são essas. São os quatro pilares, é o que importa para a população. Se ele não fizer com política, não consegue fazer gestão.

 

Folha – Você está com que idade hoje?

Joilson – Com 55.

 

Folha – Hoje, os principais nomes postos para disputar a eleição a prefeito de Campos estão na faixa dos 30 anos. É o caso de Rafael Diniz (Cidadania), Wladimir Garotinho (PSD), Caio Vianna (PDT), Rodrigo Bacellar (SD). Só Gil Vianna (PSL), é um pouco mais velho. Você é o que se chama na política de Campos de “cabeça branca”. Com a experiência de 55 anos, traz quais vantagens e desvantagens num eventual confronto com essa garotada?

Joilson – Eles têm idade para ser meus filhos. Tenho um filho de 25 anos e uma filha de 29. Tem sobrinho meu que está com 30 anos. Mas eu sempre fui um cara que gosta de inovação. Meus negócios progrediram por causa disso. A questão de ter cabeça branca ou cabelo preto…

 

Folha – Wladimir é louro.

Joilson – Acompanho muito as tendências. Sou um cara que não sai muito fora da linha das tendências, senão eu perco meu cliente. Preciso entender meu cliente e entregar o que ele quer. Então eu acabo entendo um pouco a cabeça dessa galera.

 

Folha – Mas que vantagem você traria, sendo mais experiente? E quais desvantagens?

Joilson – A vantagem é que penso como eles, como jovens, e tenho uma experiência de 55 anos de idade que vem da prática. Do aprender fazendo. A garotada de hoje, tenho percebido isso e tentado trabalhar isso até em casa, porque a visão deles é muito mais de querer mandar, querer projetar, querer executar. É uma geração que não tem a disposição de se envolver no processo, enxergar o processo, analisar o processo e executar o processo. É uma vantagem que acho que eu teria. A experiência de vida e de gestão.

 

Folha – Você falou que como empresário sempre pensa no cliente. O político tem que pensar no cidadão. Qual a diferença de perfil do cliente e do cidadão?

Joilson – Não vejo diferença nenhuma. Quando penso no meu negócio, pensando no cliente, também penso nele como um cidadão. Primeiro penso nele como humano, como pessoa, depois vejo o que ele pode me dar como cliente. Mas em primeiro lugar olho como cidadão.

 

Folha – Você disse que uma das suas preocupações é a desigualdade. Em um eventual governo seu, quais seriam as prioridades?

Joilson – Saúde, Educação, segurança e habitação. É quando poucos têm muito e muitos têm pouco. E o pouco além do que ele tem, não é o mínimo para que possa ter dignidade. O governo anterior, de Rosinha e de Garotinho, uma das coisas que mais me encantou, estou falando porque faria a mesma coisa, é a habitação. Não estou falando se está certo ou errado a execução, mas o modelo de tirar as pessoas da inércia, do submundo, isso faz dar dignidade. Aí já entra outro caso. A partir do momento em que eu dei dignidade, dei igualdade, aí todo mundo tem direito de se desenvolver e aquele que não quiser, é um problema dele. Mas ele teve o mesmo direito, a mesma oportunidade.

 

Folha – Você fez referência ao Morar Feliz, que foi o maior contrato da história do município de Campos, com valor de R$ 1 bilhão. Mas os próprios diretores da Odebrecht que assinaram o contrato, o Benedicto Junior e Leandro Azevedo, denunciaram o repasse de caixa dois para as campanhas de Garotinho a governador, além de Rosinha, a prefeita, e Clarissa, a deputada. É esse o exemplo a ser seguido?

Joilson – Sendo bem sincero a você, falei do modelo, de tirar a desigualdade. Uma cidade que chegou a ter um orçamento de R$ 3 bilhões, hoje tem R$ 2 bilhões, e ter pessoas vivendo no submundo… Para mim isso é uma desigualdade. Não estou dizendo que o modelo que eles fizeram é bom ou ruim. Mas eu tiraria as pessoas do submundo.

 

Folha – O que chama de submundo?

Joilson – Submundo é morar numa favela, sem saneamento, sem esperança. Eu já tive momentos na minha vida que tinha recursos, mas não tinha energia elétrica, água encanada, saneamento. Então eu sei mais ou menos o que é isso. Vou dar outro exemplo de uma coisa que me incomoda muito. É ver as pessoas dormindo na rua. E esse governo  Rafael teve a sensibilidade de colocar lá no Cepop. Isso, para mim, foi uma grande atitude humana. Agora se qualquer coisa que foi falada tem corrupção, isso nunca fez parte da minha vida. Não sou santo, mas nunca permiti que houvesse corrupção dentro da minha empresa.

 

Folha – O que acha de caixa dois?

Joilson – Um problema sério. Quem faz isso está arriscado ir para cadeia.

 

(Foto: Antonio Leudo – Folha da Manhã)

 

Folha – Você tem quantos supermercados hoje?

Joilson – Hoje são 12 e, com esse novo, serão 13.

 

Folha – Tem uma média de quantos clientes por mês?

Joilson – Em média, umas 900 mil pessoas por mês. No caso, contabilizando as pessoas que voltam mais de uma vez.

 

Folha – Campos tem mais de 500 mil habitantes. Como funciona a transição na sua cabeça de 900 mil clientes para 500 mil cidadãos exigindo Saúde, Educação, transporte, habitação, lazer?

Joilson – Isso vai se aprender fazendo. São coisas que às vezes você vai ter que personalizar, criar um modelo. Gestão de pessoa é complicada. E atender essa quantidade de gente é mais complicada ainda. E eles com toda a razão, porque o dinheiro é da população. Quando eu coloco um cliente dentro da minha loja, é diferente. Eu chamo, mas ele vem se quiser. Mas o prefeito de uma cidade, que tem responsabilidade com o dinheiro público, ele tem que responder a essas pessoas. Ele tem que dar o melhor, o sangue dele por essas pessoas. Por isso desde o começo venho falando que isso não pode virar um pesadelo. Tenho que ter isso muito bem claro na minha cabeça e comunicar muito bem isso para todas as pessoas. Promessa de campanha é algo utópico. A pessoa fala várias coisas, mas não consegue nada. Na campanha, para conseguir o voto, é uma coisa. Mas na hora de fazer, é completamente diferente. Por isso eu falo, não sou político, sou empresário. Posso um dia me candidatar a algum cargo político, mas vou ter a visão de empresário. Vou lutar, com minha visão de empresário, para transformar o resultado que recebo na minha mão para que atenda a população.

 

Folha – Não existe candidatura de si mesmo. O candidato representa um grupo. Você esteve muito tempo à frente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), atualmente  comandada por Orlando Portugal. Você é também muito ligado ao Marcelo Mérida, que se candidatou a deputado federal em 2018. Ele não se elegeu e ficou atrás de Wladimir, Marcão Gomes (PR) e Caio. Naquela época, muito se falava que Marcelo seria um “tubo de ensaio” para uma posterior candidatura sua a prefeito. A não eleição dele foi um sinal amarelo?

Joilson – Sim, é um sinal amarelo. Mas para não entrarmos muito “verde” nesse negócio, acho que a candidatura dele nos serviu para ver o que é certo ou errado. Foi a primeira vez que fizemos esse trabalho todo, mas percebemos o que fizemos de errado. E outra coisa, o Marcelo liderou a candidatura. Fizemos um trabalho em conjunto, mas ele liderou. Uma campanha política precisa ser mais encorpada.

 

Folha – Você foi a várias reuniões de campanha com ele.

Joilson – Fui, participei e acompanhei tudo. Mas eu tenho um modelo meu de ser, que é de seguir a hierarquia. Às vezes você tem que seguir que está ali na frente, quem está liderando. Você tem que entender que é preciso se colocar no seu lugar. Essa semana Marcelo esteve lá em casa, conversou comigo, trocamos idéias sobre essa questão do partido dele. Mas acho que uma campanha para deputado é uma coisa e uma campanha majoritária é diferente. Uma candidatura para prefeito é mais focada, é muito mais alinhada no próprio município. Já para deputado federal abre para outras cidades.

 

Folha – Você teve quatro mandatos e meio à frente da CDL agora Orlando Portugal está à frente da entidade. Tivemos o episódio de desentendimento entre Orlando e o secretário municipal de Governo Alexandre Bastos. A CDL fez algumas cobranças por melhorias no Centro, Bastos respondeu nas redes sociais, dizendo que se tratava de política partidária, pelo fato de Orlando ter sido ex-secretário do governo municipal Rosinha. Houve um certo estremecimento entre a categoria que você representa e o governo Rafael?

Joilson – Quando somos presidente da CDL, fazemos tudo de acordo com a diretoria. Quando o Orlando tomou essa decisão eu não estava na reunião, mas do que eu sei, ele pediu autorização da diretoria para fazer isso. Se a categoria se estremeceu porque um entendeu de um jeito ou de outro, ele não fez por conta própria. Toda a diretoria apoiou a decisão.

 

Folha – Você concorda com os pleitos colocados por Orlando?

Joilson – Vou ser bem claro, não vi os pleitos que Orlando Portugal colocou, mas não são pleitos de agora.

 

Folha – Segurança, morador de rua, transporte público…

Joilson – São todos pleitos antigos. Falei mais cedo da questão dos moradores de rua, que a Prefeitura tomou uma atitude. Talvez tenha sido pela reivindicação de Orlando. A pessoa pode não ter gostado de como o Orlando falou, mas ele entendeu que era preciso o Orlando falar. Não são reivindicações de Orlando, são da CDL. Sabemos que tem as coisas que poderiam ser feitas de outra maneira, mas não são porque falta um pouco de atenção. Até um pouco de zelo, eu diria. Orlando teve o impasse porque ele tinha que ter, ele é o líder e estava nessa posição.

 

Folha – Marcelo Mérida também foi secretário no governo Rosinha.

Joilson – Foi. O que eu quero dizer é que é da natureza do Orlando. Ele é explosivo por natureza. É o jeito dele. Orlando tinha muita vontade de ser presidente da CDL. Portanto, ele está fazendo mudanças na diretoria e quer deixar a marca dele. Em momento nenhum ele se omitiu porque é um líder. Ele traz esse jeito. Não é de Rosinha, de Garotinho, é dele.

 

Folha – Você não vê, como Bastos disse, uma ligação do seu grupo com o grupo de Garotinho?

Joilson – Não vejo isso, não. Orlando é empresário do ramo de farmácia, Marcelo foi secretário de Rosinha? Foi, Marcelo Mérida tem as empresas dele, tem os negócios dele e não vive de política. É uma pessoa que tem a vida própria. Não vejo isso.

 

Folha – Nesta semana foi definida (aqui) a ida de Mérida ao PSC do governador Wilson Witzel. Falta só oficializar. Como vê a possibilidade dele se lançar candidato a prefdeito pelo partido? Ou apoiar Wladimir, que tem o deputado estadual Bruno Dauaire, líder do PSC na Alerj, como seu principal aliado político?

Joilson – No começo eu falei que não sou político e, sim, empresário. Não conheço muito sobre isso. Eu acabo consultando quem conhece, mas não tenho habilidade para falar sobre isso. Não tenho conhecimento, não tenho história. Essa conjuntura sobre partidos não está desenhada para mim. No final, na minha visão, tem alguém que dita a regra do jogo. Não sei se estou certo ou errado, mas o meu modelo é ser empresário e não político. Mesmo se eu venha assumir um cargo político, vou dizer que estão lidando com empresário. Depois que me eleger, não, aí serei político.

 

Folha – Mas para se eleger você precisa passar pela política. No Brasil não existe candidatura avulsa.

Joilson – Sim, por isso disse que preciso me assessorar com as pessoas que conhecem isso. Por isso não sou apto a dar uma resposta sobre as conjunções políticas.

 

Folha – Mas ninguém imagina que você vai vir candidato contra Marcelo Mérida, por exemplo. Fatalmente, essa decisão política também vai interferir na sua decisão de entrar ou não na política.

Joilson – Sabe o que decide para mim no final? É o voto. O que decide quem vai ser, é que tem a melhor perspectiva de ganhar a eleição.

 

Folha – Mas para você chegar a colocar seu nome como opção de voto, tem que passar pelo partido.

Joilson – Já entendi isso e sei que tem que ser assim, mas estou esperando um pouco mais. Vou continuar do meu jeito. Marcelo esteve conversando comigo ontem (quarta-feira), ele perguntou mais ou menos isso e eu respondi para ele: “Marcelo, eu sou empresário e não político. Vou continuar do mesmo jeito e amanhã ou depois a gente vê o que vai dar, a gente estuda. Vai depender de como esteja a situação. Não vou entrar em alguma coisa para ficar me arranhando”.

 

Folha – Vamos fazer um pinga fogo. Eu dou um o nome e você me diz qual a sua opinião. Rafael Diniz?

Joilson – É um cara que todo mundo acreditou nele. E ele fugiu do que todo mundo acreditou. Não conseguiu fazer o que gostaria de fazer, não sei. Para mim, Rafael Diniz ainda é um negócio meio encoberto, porque ele fala uma coisa para você, demonstra uma coisa para você, e você não vê isso acontecer. Lá em casa, quando se candidatou, ele disse assim: “O que eu faço?”. Ganhou as eleições e falou: “E agora, o que eu faço?”. Então, é um cara que caiu no negócio sem saber o que era. E até hoje ele está procurando, eu acho, o que realmente ele teria que fazer como prefeito.

 

Folha – Wladimir Garotinho?

Joilson – Não sei, é um cara novo, um cara que vem aí, tem experiência de pai e mãe com gestões, chegaram a ser governadores. Ele tem uma geração de exemplo dentro de casa. Se vier a ser um gestor público, pode usar bem ou mal. É um cara que conhece isso tudo, tem uma visão melhor do que qualquer um de nós do que é certo ou errado, do que é a política, do que deve fazer, como fazer, e ainda a retaguarda dele, o pai e a mãe, duas pessoas totalmente diferentes uma da outra… Ele pode achar um meio de campo, ser um grande líder, uma grande liderança. Se souber o bem dos dois, vai tirar um resultado muito bom.

 

Folha – Anthony Garotinho?

Joilson – Rapaz, eu acho que esse cara é um fenômeno.

 

Folha – Positivo ou negativo?

Joilson – Dos dois lados, tanto positivo como negativo.

 

Folha – Caio Vianna?

Joilson – É um cara que pode tirar alguma resposta boa de Dr. Arnaldo, que teve uma liderança boa. Mas, eu acho que ele não tem visão nenhuma de gestão pública, conhecimento, de experiência de gestão de nada. Não estou… Pelo amor de Deus, é entender bem o histórico dele. Se vou contratar alguém para entrar na minha empresa, olho o currículo e vejo o que ele já fez, como ele fez.

 

Folha – Rodrigo Bacellar?

Joilson – É um cara mais articulador. Tem mais visão de articulação, é um cara mais dinâmico… Não sei se vai fazer uma boa gestão, mas parece ter uma experiência muito boa de articulação.

 

Folha – Gil Vianna?

Joilson – É um cara bacana. Tem uma história bonita, mas não sei se tem uma visão dessa gestão, do que é uma gestão de poder público, e digo Campos, especialmente, com R$ 2 bi de orçamento.

 

Folha – Marcelo Mérida?

Joilson – Marcelo é um cara bacana, um líder da sua categoria. Um líder que tem uma visão de companheirismo, uma visão de arrastar, com carisma. É um líder que hoje está no Rio de Janeiro e tem uma liderança na categoria, consegue arrastar a categoria quando precisa… Quando precisa fazer um movimento, trabalha bem. E ele é muito focado na liderança dele empresarial. Hoje, pode estar abrindo um pouquinho, mas é muito mais focado na liderança como empresário, de categoria, do que político mesmo.

 

Folha – Carla Machado?

Joilson – Acho ela uma grande líder. Ela parte para cima, saber o que quer e dá o tom das coisas.

 

Folha – Jair Bolsonaro?

Joilson – É um cara que ficou seis mandatos como deputado, quase 30 anos. Conhece todos os bastidores. Como é um cara muito firme, militar, não quer se igualar ao que ele via nos bastidores. “Sou contra isso, não faço isso, não aceito isso”. Acho que isso está parando um pouco, o país não está avançando muito como deveria avançar por causa dessa rigidez dele. Mas, como ele agora abriu um pouquinho, está contrariando aquilo que ele queria. Mas, ele tem que entender que, para andar as coisas…

 

Folha – Tem que liberar emendas para aprovar a Reforma da Previdência. Rodrigo Maia?

Joilson – O Rodrigo Maia eu acho um cara muito firme, tem uma visão muito clara sobre política. É o pai dele mais novo, com mais experiência e mais vivência. E com um argumento muito melhor que o do pai, mil vezes. Acho que é um cara muito político. Eu acho que faz ele bem o papel dele lá.

 

Folha – Luiz Inácio Lula da Silva?

Joilson – Esse cara, para mim, foi um corrupto, um safado. Eu nunca votei nele. Avaliei ele como o pessoal que trabalhava na lavoura lá, que, quando queria ficar parado, se mutilava, arrancava a perna, pegava a pele do joelho, cortava, e depois ainda botava leite de mamão para ficar inflamado e não ir trabalhar. A primeira vez que eu soube que ele arrancou o dedo… o mindinho não serve para nada. Esse cara, para mim, comparo aos caras que trabalhavam lá e faziam isso. Então, para mim, ele nunca serviu. Todo governo dele, todo mundo endeusava ele, eu nunca endeusei. E sabia que um dia ele ia pagar caro pelo que fez. Desde o começo. Deus está preservando ele vivo para ele ver que não é assim que se trata as pessoas.

 

Folha – Sérgio Moro?

Joilson – É um cara intelectual.

 

Folha – Com “cônge” e tudo?

Joilson – Eu acho que é. Um cara que estudou para isso, analisou, viu a história de grandes países, como que se resolveu…

 

Folha – Ele estudou muito a Operação Mãos Limpas da Itália.

Joilson – Isso… Ele viu como que resolveu essas situações. E ele tomou algumas atitudes baseado naquelas informações que ele trouxe: quando liberou aquela delação…

 

Folha – Para Lula não ser ministro.

Joilson – Isso. Se ele fosse, acabou.

 

Folha – Wilson Witzel?

Joilson – É outro que caiu de paraquedas. Pelo menos das últimas vezes que vi ele falando da história como governador, estava falando como um um cara que saiu da magistratura e foi para o Executivo.Meu amigo, fazer a gestão desse estado, que para mim é um país, e um cara que não se preparou, não achou que ia ser governador… Dizer que ele tinha uma conjunturazinha e tal… Tinha, claro, as pessoas que o apoiavam. Fez o grupo dele, e essas pessoas que estão com ele. Agora, o fundamental, que eu discuto muito sobre isso: tem que ter o chefe para segurar no leme do barco. Se não for um cara que tem experiência para governar, dança. Porque a galera faz o que quer, cada um tem um pensamento, e fica fatiada em várias secretarias, e isso aí morreu, cara. É um risco de dar errado muito claro, porque cada secretaria tem um dono. Cada setor tem um dono. O líder tem que olhar a coisa toda. Ele pode não tomar a decisão em tudo, mas tem que olhar tudo. Tem que saber de tudo. Eu digo o seguinte: o líder não precisa saber das coisas pequenininhas. Se eu cuidar da pulga, o cachorro morre. Mas, se eu deixar a pulga continuar crescendo muito, o cachorro também morre, porque a pulga mata o cachorro. Então, eu não preciso cuidar da pulguinha lá, mas preciso entender o tamanho, a quantidade de pulga. Se não, entendo é um fracasso.

 

Folha – André Ceciliano?

Joilson – Tive pouco com ele. Em um dia que estive com ele lá, inclusive, ele estava papeando com Bruno Dauaire. Acho que é um cara que tem uma liderança boa, tem um jeito bom de liderar, sabe escolher bem as pessoas para estarem do lado dele. É um cara bom de articulação. Mas, acho que ele tem mais coisa para mostrar ainda aí.

 

Folha – Campos dos Goytacazes?

Joilson – É uma cidade privilegiada. É reconhecida por ser a cidade que primeiro teve energia elétrica, conhecida como a cidade que mais produziu cana-de-açúcar e, hoje, o petróleo. Então, ela teve grandes fases. Em todas as fases mundiais de produção de energia, ela estava no contexto. Campos, estrategicamente, em questão de logística e de um monte de coisa, ela está muito bem posicionada. Se souber tirar resultado disso, Campos avança muito. Essa visão, a gente, que é campista, a gente tem.

 

Pàgina 2 da edição de hoje (28) da Folha

 

Página 3 da edição de hoje (28) da Folha

 

Publicado hoje (28) na Folha da Manhã

 

Rafael critica Wladimir, mas poupa Caio em ponte com os Bacellar. Mérida vai ao PSC

 

 

Charge do José Renato publicada hje (27) na Folha da Manhã

 

Wladimir bate em Caio, Rafael poupa

A rodada da semana do programa Folha no Ar, da Folha FM 98,3, se iniciou na segunda (aqui), com o deputado federal Wladimir Garotinho (PSD). E se encerrou ontem (aqui), com prefeito Rafael Diniz (Cidadania). E permitiu algumas conclusões. Rafael vai centrar fogo em Wladimir. Mas, pelo menos por enquanto, poupará a pré-candidatura de Caio Vianna (PDT). O filho do casal Garotinho, por sua vez, vai bater tanto em Rafael, quanto em Caio. Sem falar com a imprensa, além da que se resume na sua assessoria, o filho do ex-prefeito Arnaldo Vianna (MDB) vai ficar quieto, na tentativa de manter sua rejeição baixa por inércia.

 

Governo x CDL

Em outro movimento do tabuleiro político para 2020, Rafael ontem abriu sua participação no Folha no Ar endossando as críticas do seu secretário de Governo, o jornalista Alexandre Bastos, ao presidente da CDL/Campos, Orlando Portugal. Como Bastos afirmou primeiro nas redes sociais (aqui) e, ontem (aqui), nesta coluna, os rafaelistas entendem que as cobranças da CDL à administração municipal têm origem político-partidária. Para eles, Orlando continua agindo como nos tempos em que foi secretário do governo Rosinha Garotinho (hoje, Patri). Rafael, no entanto, ressalvou seu respeito à CDL. E evitou críticas ao líder lojista Marcelo Mérida.

 

Mérida no PSC

Ligado ao grupo de empresários locais, que reúne tanto Orlando, quando seu antecessor na presidência da CDL, Joílson Barcelos, Mérida disputou pelo PSD uma vaga de deputado federal em 2018. Entre os candidatos locais, teve menos votos do campista do que Wladimir, único eleito; Marcão Gomes, hoje secretário de Desenvolvimento Econômico e Social de Rafael; e Caio. Com as bençãos de Wilson Witzel, Mérida vai para o PSC do governador. O martelo foi batido ontem (aqui). Só falta definir a data. O líder lojista vai assumir a presidência do partido em Campos, pelo qual já é o nome mais cotado para uma candidatura própria a prefeito.

 

Apoio a Wladimir?

Como o deputado estadual Bruno Dauaire é líder do PSC na Alerj e principal aliado político de Wladimir, a entrada de Mérida pode também ser para compor uma chapa encabeçada pelo filho do casal da Lapa. Ou até uma candidatura de apoio, como o ex-deputado Paulo Feijó (PR) fez com Rosinha Garotinho (hoje, Patri), contra o ex-prefeito Arnaldo Vianna (hoje, MDB), em 2008. O papel de candidato de apoio, para fazer o jogo sujo contra o principal adversário do apoiado, pareça impróprio ao jeito sereno de Mérida. Ainda assim, ele elevou o tom ao falar à coluna do ataque de Bastos ao presidente da CDL: “me senti pessoalmente atingido”.

 

Promessas

Enquanto compra briga com uma parcela do setor produtivo da cidade, que entende agir a favor do garotismo, o governo Rafael está pressionado. Pressionado pela situação financeira que herdou do governo Rosinha, que teria deixado uma dívida de R$ 2,4 bilhões. Pressionado por ter que pagar todo mês à Caixa Econômica 10% dos royalties do petróleo, por conta da “venda do futuro” do município feita pelos Garotinho. Após inaugurar o Hospital São José, cumprindo uma promessa feita por Rosinha, Rafael vê promessas suas mais distantes, como retomar ainda este ano o Restaurante Popular e o cartão cooperação (antigo Cheque Cidadão).

 

Os Bacellar

Fragilizado pela situação financeira do município, que o levou a um contingenciamento de que tornou seu governo ainda mais impopular com os servidores, talvez isso explique a opção de Rafael de não partir para a desconstrução de Caio. A ponte entre os dois pré-candidatos a prefeito é mantida com base nos Bacellar. Embora também pré-candidato a prefeito, o deputado estadual Rodrigo (SD) age como principal aliado de Caio. Assume sua voz e defesa, como fez ao rebater (aqui) as críticas de Wladimir no Folha no Ar. Enquanto isso, o ex-vereador Marcos (PDT) e seu outro filho, Nelson, mantém seus muitos pés no governo Rafael.

 

Acordos e dilema

A entrada de Mérida no PSC não fecha a alternativa para que o governador Witzel acabe apoiando Wladimir. Já em relação a Rodrigo e Caio, quem estaria por trás é o presidente da Alerj, André Ceciliano (PT). Comenta-se nos bastidores que o acordo seria para fazer o filho de Arnaldo prefeito, enquanto o filho de Marcos assumiria uma vaga no Tribunal de Contas do Estado (TCE). Em desvantagem a dois dos seus principais adversários de 2020 na questão de apoio, Rafael demonstra convicção de estar certo nas medidas de austeridade do seu governo. São necessárias. Mas, por antipáticas, não garantem sucesso político. Esse é o seu dilema.

 

Publicado hoje (27) na Folha da Manhã