A Casa do Povo de Campos se dobrou à vontade do povo de Campos. Thiago Calil não será mais nomeado chefe de de gabinte do vereador Paulo Arantes (PSDB) na Câmara Municipal. O edil hoje anunciou que cancelou a nomeação, após gerar grande reação popular. Condenado na operação Cinquentinha, por comandar o esquema de compra de votos para a candidatura a prefeita de Rosinha Garotinho (hoje, Patri) no distrito de Vila Nova, na eleição de 2008, Calil seria depois sentenciado a 25 anos de prisão no caso “Meninas de Guarus”, pelos crimes de estupro, associação criminosa, submissão de criança/adolescente à prostituição/exploração sexual e cárcere privado.
Apesar de muitos temerem pelo destino do país, devido o espírito muitas vezes autoritário do governo Jair Bolsonaro (PSL), ainda vivemos em uma democracia. Nela, os representantes eleitos têm que ser sensíveis ao desejo de quem os elegeu para serem representados. Foi o que Paulo Arantes demonstrou ao voltar atrás numa decisão que o expôs, assim como seus colegas vereadores e a própria instituição da Câmara Municipal. Pelo fato de Calil ter sido condenado apenas em primeira instância e recorrer em liberdade na segunda, só esta poderia impedi-lo legalmente de assumir qualquer cargo no Legislativo goitacá, pela lei municipal da Ficha Limpa.
Veja abaixo a nota do Arantes sobre “uma atitude que tomei indevidamente”, antes de seguir “com minha consciência limpa de que fiz o certo”:
— Diante dos fatos e, principalmente, do meu respeito à população campista, não poderia deixar de me pronunciar sobre uma atitude que tomei inadvertidamente. Assim que tomei conhecimento detalhado sobre o fato, de imediato revi da decisão, seguindo à risca minha consciência e meus princípios de família. Trata-se da nomeação para a chefia do meu gabinete, de Thiago Calil, um conterrâneo do meu querido distrito de Vila Nova, onde nasci, me criei e tenho laços de amizade. Na época em que aconteceram os fatos com ele, eu seguia minha vida como comerciante que sou até hoje, além de pessoa que, como cidadão comum, sempre esteve atendendo, na medida do possível, aos anseios das comunidades. Soube sim de toda a história, mas sem tomar conhecimento de sua dimensão. Além disso, atrelado a laços de amizade e baseado na Lei da Ficha Limpa do Legislativo, assinei a nomeação, que já foi desfeita. Sigo com minha consciência limpa de que fiz o certo!
Sim, o vereador fez o certo. Como a coluna Ponto Final concluiu após divulgar aqui, em 19 de julho, a nomeação de Thiago Calil: “Os crimes pelos quais foi condenado a 25 anos de prisão atentam contra qualquer senso de moral humana. E, sim, o tornam a pessoa errada no lugar errado. Significam que a Casa do Povo não é o seu lugar. Cabe à sociedade não esquecer”.
A sociedade não esqueceu. Abaixo, o memorando de Arantes que torna sem efeito a nomeação de Calil como seu chefe de gabinete na Câmara Municipal:
Calil ontem deu uma entrevista num site de Campos. E disse que o estão condenando e julgando por um suposto crime. E perguntou se a história fosse verdadeira ele não poderia trabalhar. Calil negou no site qualquer possibilidade de deixar o cargo de chefe de gabinete na Câmara. Um dia antes de ser exonerado. Eita site pé frio né??
Cara Márcia,
Não li a matéria e ignoro qual seja o site. Mas se o que vc diz é verdade, não parece ter sido obra de jornalista. Se fosse, teria a obrigação profissional de se ater aos fatos para lembrar que seu entrevistado foi julgado e condenado, sim. Mas pela juiza Daniela Asumpção, em 8 de junho de 2016.
E “se a história fosse verdadeira”? Isso quer dizer que Calil mantinha em cárcere privado crianças e adolescentes, alguns entre 8 e 11 anos, para fins de prostituição. E que obrigava esses menores a consumirem drogas, antes de as levar pessoalmente, de carro, aos locais dos programas sexuais.
Difícil aferir o nível moral de quem não vê nada demais no fato de alguém com esse “currículo” ser depois nomeado para trabalhar na Câmara Municipal, pago com dinheiro público. De qualquer maneira, após Calil fazer contato com a Folha na sexta, dia 19, no mesmo dia foi enviada a ele uma pauta com oito perguntas, para que pudesse oferecer sua versão dos fatos, mas dentro de mínimo critério jornalístico.
Segundo Calil, após conversar com seus advogados, ele preferiu não responder. O que é seu direito. Assim como procurar dar sua versão a gente sem compromisso de ofertar informação de qualidade aos seus leitores. E quem age assim na divulgação de notícias, não é nem “pé frio”, mas fabrica por desqualificação o próprio azar. Para sanar quaisquer dúvidas, segue abaixo a pauta da Folha enviada a Calil:
1 –Você foi condenado a 25 anos de cadeia pelos crimes de estupro, associação criminosa, submissão de criança/adolescente à prostituição/exploração sexual, tirar proveito da prostituição alheia e cárcere privado. E recorre em liberdade. O que diz em sua defesa?
2 – Segundo a Justiça, você manteve em cárcere privado crianças e adolescentes, algumas entre 8 e 11 anos, para prostituição. Até 15 menores eram confinados para este fim, em Custodópolis. E as obrigava a consumir drogas, levando-os de carro aos locais dos programas sexuais. Como pai de família, que juízo faria de alguém condenado por esses crimes?
3 – Abafado pela repercussão do “Meninas de Guarus”, houve também denúncia de extorsão no inquérito sobre o caso na Polícia Civil. Um dos seus inspetores chegou a ser preso depois pelo mesmo crime, em outro município. Houve extorsão? Como?
4 – Além de você, políticos e empresários conhecidos da sociedade campista também foram condenados, presos e depois soltos no caso. O que pode dizer da participação deles?
5 – A lei municipal da Ficha Limpa, do vereador Thiago Virgílio (PRP), proíbe que a Câmara tenha qualquer servidor condenado em decisão colegiada de 2ª instância. Por enquanto, você só é condenado na 1ª. Sua nomeação não é ilegal. Mas é moral? Por quê?
6 – Sua nomeação provocou forte reação na sociedade. Não teme que ela acabe prejudicando o vereador Paulo Arantes (PSDB), que o nomeou, como toda a Câmara Municipal? Por quê?
7 – Presidente da Câmara, que recebe previamente todos os requerimentos de nomeação, Fred Machado (PPS) disse que chegou a conversar com Paulo Arantes, prevendo que sua entrada geraria grande resistência popular. Ele não está certo? Por quê?
8 – Antes do caso Menina de Guarus, você já havia sido investigado e condenado por comandar o esquema de compra de votos da ex-prefeita Rosinha Garotinho (hoje Patri) em Vila Nova, quando ela foi eleita a primeira vez, em 2008. O que pode falar da Cinquentinha?
Abç e grato pela particpação!
Aluysio