Fla evolui com técnico português, mas perde três pênaltis e merece declassificação

 

O Flamengo evoluiu taticamente de Abel ao técnico português Jorge Jesus. Os primeiros 20 minutos do time pelas quartas de final da Copa do Brasil, contra o Atlérico Paranaense, foram esfuziantes. Mas o time sentiu a perda do uruguaio Arrascatea, herói dos 6 a 1 sobre o Goiás no Brasileirão.

O gol só veio no 2º tempo, com Gabigol, após bela jogada de Vitinho pela esquerda. Quando tudo parecia encaminhado para pegar o Grêmio de Renato Gaúcho, o empate saiu na única jogada de velocidade que o Atlético PR conseguiu até ali, finalizada por Roni. E o time da Gávea sentiu novamente.

Daí, a decisão foi para os pênaltis. E time que perde três em jogo decisivo não merece avançar. Simples assim.

 

Gustavo Alejandro Oviedo — Bombeiros e piromaníacos no incêndio da Previdência

 

 

A culpa é dos bombeiros

Por Gustavo Alejandro Oviedo

 

Rosinha Garotinho, aquela ex-prefeita que teve na sua gestão o maior desfalque realizado nas contas da Previcampos, se orgulha de que seus filhos votem contra a Reforma da Previdência.

Na quarta-feira 10 de julho, ela escreveu na sua conta de Facebook: “O povo é que será mais uma vez massacrado, empobrecido e passado pra trás. Não quero aqui criar polêmica, pois sei que o tempo vai mostrar a realidade. Mas quero parabenizar aos meus filhos Clarissa e Wladimir que mesmo sabendo que iriam estar em minoria votaram a favor do povo.”

Será que Clarissa e Wladimir, tão preocupados com o povo como são, teriam aprovado o que a Previcampos fez sob a administração municipal de sua mãe — e sob o conselho do pai? Repasses injustificados à Prefeitura para cobrir o seu rombo, e aplicações temerárias em fundos de investimento de araque?

Em 26 de dezembro de 2016, a apenas quatro dias de finalizar o mandato da prefeita, uma decisão liminar do juiz Heitor Campinho determinou a interrupção dos repasses que o instituto previdenciário vinha fazendo à Prefeitura, a pedido do Ministério Público. Na sentença, o magistrado aponta que “o repasse de valores ao município sem a devida comprovação das restituições e indenizações pode representar um abalo considerável na saúde financeira da Previcampos”.

A atual gestão de Rafael Diniz já teve de realizar o caminho oposto: repassou mensalmente R$ 14 milhões a Previcampos para que o instituto possa honrar o pagamento de pensões e aposentadorias. Hoje o repasse é de ao redor de R$ 2 milhões mensais. Se não o fizesse, o pagamento desses benefícios seria comprometido. Cabe perguntar: qual das duas administrações tirou o dinheiro “do povo”?

Pensando bem, há coerência na atitude do clã: o imediatismo de tentar ficar como os heróis do presente, embora isso signifique penúria no futuro — para os outros. Rosinha parabeniza seus filhos deputados por dizer “não” a um ajuste no sistema que é inevitável para evitar o colapso total. Ela gostou apenas de como os meninos ficaram bonitos na foto, sem reparar no fundo da imagem.

Pode-se gostar ou não, mas há de se reconhecer que a atitude da atual gestão de fechar as contas com a receita “real”, sem recorrer ao dinheiro dos aposentados, nem antecipando receitas de royalties futuros, é bem menos prejudicial para a cidade, em termos de consequências a médio e longo prazo.

É claro que isso não é simpático aos olhos de muitos. O contingenciamento anunciado na última sexta-feira (12) por parte da Prefeitura também não é uma medida popular. Mas parte da ideia de que o ajuste a ser feito, em função da queda da receita, deve ser suportado pela administração, e não pela população. Significa, também, que o problema financeiro de hoje deve ser resolvido de imediato, sem chutar a bomba acessa para a seguinte gestão.

“Botamos fogo na casa e culpamos os bombeiros”. Essa é a filosofia e a estratégia do populismo. Cabe ao cidadão escolher se fica do lado do socorrista ou do piromaníaco.

 

Publicado hoje (14) na Folha da Manhã

 

João Gilberto — Brasil perdeu mestre da contenção no samba, ídolo dos nossos ídolos

 

João Gilberto (1931/2019)

 

O ídolo dos nossos ídolos

Por Aluysio Abreu Barbosa

 

Mas este texto não era para falar de João Gilberto? E você vem com Eric Clapton, seu aculturado anglófilo? Calma, explico. Como meu pai tinha me passado, desde que sou capaz de lembrar, muito da sua vasta cultura musical em MPB, jazz, tango, bolero e ópera italiana, sempre desejei sair do polo passivo e estabelecer diálogo de influências. Como ele não gostava de rock, nem guitarra elétrica, tive muita dificuldade para convencê-lo que o gênio de Clapton, como aprendi sobre Gilberto, excedia o instrumento e o estilo.

Vai, então, que era 1992 e a MTV grava e lança o Unplegged de Eric Clapton. Foi um estrondoso sucesso de público e crítica, com mais de 26 milhões de discos vendidos em todo o mundo e três prêmios Grammy.

Os motivos? Primeiro, pela irresistível curiosidade de conferir o deus da guitarra tocando violão. Segundo, porque foi nele que o inglês branco finalmente superou o constrangimento para se assumir como um dos maiores nomes na história do blues, música de lamento dos negros dos EUA. Terceiro, porque o disco foi puxado pela história trágica da lacrimogênea canção “Tears in Heaven”, que compôs para seu filho Conor, morto aos 4 anos após cair por acidente da janela do 53º andar de um prédio em Nova York.

Mas, logo que comprei e ouvi pela primeira vez o disco, estranhei que sua primeira música, “Signe”, composição de Clapton e executada sem voz, apenas instrumental, fosse levada por ele no violão numa característica batida de bossa nova. Bem verdade, a cintura dura se revela na percussão, como sempre acontece quando um não brasileiro se arrisca no batuque do samba. Mas aquela viola não faria feio na roda de bamba de nenhum morro carioca.

Como escutava o disco o tempo todo, estava com ele num dia de sol daquele início dos anos 1990, em que fui visitar meus pais em Atafona. Eles estavam hospedados na casa de Cicinha e Edvar Chagas, hoje falecido como meu pai. Mas lembro da curiosidade de Aluysio e Diva, que estavam na piscina da casa, quando botei no aparelho de som aquela primeira faixa do Unplegged de Clapton. Antes, lancei o desafio: “Quero ver se vocês adivinham quem toca o violão nessa música”.

 

 

Durante os 2:07 minutos da faixa, meus pais gastaram munição nos palpites: “João Gilberto?”, “Não!”; “Baden Powell?”, “Não!”; “Carlinhos Lyra?”, “Não!”; “Roberto Menescal?”, “Está frio!”; “Já sei: Raphael Rabello!”, “Na-na-ni-na-não!”. Quando a música acabou e eu disse que era Eric Clapton, eles fizeram caras mudas de espanto. E nos pequenos olhos verdes do meu pai, vi refletidos seus dois braços dados a torcer. Sem verbo, como era coisa dele.

Só uns 10 anos depois, lendo uma entrevista de Clapton, fui descobrir a origem daquela composição bossanovista pelo gênio do blues e do rock. Após assistir a um show de João Gilberto em Londres, ele ficou tão impressionado com a revolucionária batida de violão do brasileiro, que não suportou ser apenas polo passivo. Foi impelido a dialogar com aquilo, como eu com meu pai. E o resultado foi “Signe”, que escolheu para abrir seu disco até hoje mais exitoso.

Após a morte de João Gilberto, no último dia 6, quase tudo foi escrito sobre o criador da batida da bossa nova no violão. Junto com o piano de Tom Jobim e a poesia de Vinicius de Moraes, ele integrou a santíssima trindade do movimento musical brasileiro que ganhou o mundo entre o final dos anos 1950 e a década seguinte. A novidade foi pegar a melodia e o ritmo do samba, riquíssimos, e associá-los à harmonia mais sofisticada do jazz. Foi o mesmo que o argentino Astor Piazzolla faria com o tango para criar o Nuevo Tango.

Se o violão de João foi criação própria e personalíssima, seu canto contido, na ourivesaria de cada sílaba, ecoando o mínimo toque entre língua, dentes, lábios e palato, é influência direta de Chet Baker. Outro gênio da música, o trompetista e cantor dos EUA foi um dos maiores nomes do cool jazz.

 

 

Quem se impressionou de cara com a antológica gravação de “Chega de Saudade” pelo brasileiro, em 1958, deve ouvir a gravação de Chet de “My Funny Valentine”, em 1953. O eco da voz deste sobre aquele, cinco anos depois, grita em cada sussurro.

 

 

Ernest Hemingway, na prosa
João Cabral de Melo Neto, na poesia

Com seu violão e canto, João Gilberto foi um mestre da contenção no samba, como Chet Baker no jazz e Eric Clapton, no blues. É uma arte mais sutil e rara que a de expansão. E tem expoentes além da música: Ernest Hemingway e Graciliano Ramos na prosa, João Cabral de Melo Neto na poesia, Robert De Niro na interpretação, Zinédine Zidane no futebol. Em diferentes áreas de expressão humana, suas artes têm a circunscrição da essência. Existem para provar que menos é mais.

Sobre todos esses nomes, a característica que talvez distinga João Gilberto é essa tremenda influência que ele teve sobre outros gênios da sua área. Não só os brasileiros vivos e cônscios em 1958, capaz de fazer com que todos se lembrem onde estavam quando ouviram “Chega de Saudade” pela primeira vez, como sobre alguém distante em espaço, cultura e estilo como Eric Clapton.

Foi pelo eco da batida do violão de João que consegui traduzir um meu ídolo a outro, ao vento nordeste de Atafona. E esse talvez seja o melhor resumo do gênio da raça que o Brasil perdeu: ele foi o ídolo dos nossos ídolos.

 

Publicado hoje (14) na Folha da Manhã

 

Após votar contra Reforma da Previdência, Wladimir defende professores no destaque

 

 

Após votar contra (aqui) o texto-base da Reforma da Previdência, aprovado na quarta (10) na Câmara Federal, por 379 votos  131, o deputado federal Wladimir Garotinho (PSD) corre atrás do prejuízo na votação dos destaques do projeto do governo Jair Bolsonaro (PSL). Na apreciação de possíveis mudanças à Reforma nesta sexta-feira (12), o parlamentar de Campos votou “sim” ao destaque que beneficiava os professores. A alteração, contida em emenda do PDT, reduz a idade para aposentadoria dos docentes da educação básica. Vários outros destaques, que são sugestões de alteração ao texto original da proposta, foram analisados desde a quarta-feira (10).

Wladimir explicou que a aprovação de destaques é fundamental para melhorar o texto-base da Reforma da Previdência, que teve voto contrário do deputado. “Eu fui um dos dissidentes do partido na votação do texto-base, de forma muito respeitosa. Um dos motivos foi exatamente essa transição proposta aos professores que no meu modo de entender estava muito dura”, explicou ele, que votou favorável a alguns destaques ao texto-base e contrário a outros.

Para Wladimir, a aprovação da mudança para os professores ameniza a situação esse profissional tão importante para o Brasil. “Então, para corrigir esse equívoco e honrar os heróis professores desse país, eu vou encaminhar ‘não’ é o texto e ‘sim’ ao destaque do PDT. E mesmo assim tenho que reconhecer que transição e ficou muito aquém do que os professores merecem”, disse em seu encaminhamento no Plenário da Câmara.

Destaques

Desde a última quarta-feira, vários destaques ao texto-base da Reforma da Previdência estão em análise pelos deputados federais. Wladimir Garotinho, como ele mesmo tinha registrado anteriormente, votou pelo fortalecimento dos trabalhadores mais vulneráveis e que precisam de proteção social. “Minha posição em relação à Reforma da Previdência seguiu minhas convicções e, principalmente, meus compromissos em buscar ações que levem o país ao desenvolvimento econômico, sem abandonar a proteção dos mais vulneráveis”, comentou.

Dentre os destaques apoiados pelo deputado Wladimir estão os que garantem renda da viúva ou viúvo de, pelo menos, um salário mínimo; proteção à maternidade, especialmente à gestante; a diminuição para a mulher da aposentadoria integral de 40 anos para 35 anos. Além disso, uma das emendas aprovadas permite para os homens diminuição de 20 para 15 anos o tempo mínimo de contribuição. O deputado de Campos votou contra o destaque que alterava o Benefício de Prestação Continuada (BPC).

Outra emenda aprovada, com apoio de Wladimir, diminuiu a idade exigida para aposentadoria de policiais federais, policiais civis do Distrito Federal e agentes penitenciários e socioeducativos federais, se eles cumprirem a regra de pedágio de 100% do tempo de contribuição que faltar para se aposentar. Caso cumpram esse pedágio, a idade será de 52 anos para mulher e de 53 anos para homem. Se não cumprirem o pedágio, a idade exigida continua a ser de 55 anos para ambos os sexos.

O deputado destacou também que é preciso fugir da polarização PT x Bolsonaro e votar de maneira coerente. “As coisas andam tão loucas nesse país que muitas pessoas têm dificuldade em entender que vários parlamentares não seguem os extremos e votam de maneira independente”, comentou. “Ser a favor ou contra o Brasil é totalmente diferente de seguir pessoas ou discursos fáceis. É importante o equilíbrio”, afirmou.

Com informações da assessoria do deputado

 

Garotinho determinou incoerência de Wladimir na aprovação da Reforma da Previdência?

 

 

(Foto de Antonio Cruz – Folha da Manhã)

 

A Reforma e os deputados da região

A região tem quatro deputados federais. Dois de Macaé: Christino Áureo (PP) e Felício Laterça (PSL). E dois de Campos: Wladimir (PSD) e Clarissa Garotinho (Pros), há anos radicado na cidade do Rio de Janeiro. O voto de três deles na proposta da Reforma da Previdência do governo Jair Bolsonaro (PSL) cumpriu o que vinham anunciando: Christino e Laterça a favor; Clarissa, contra. A novidade ficou por conta de Wladimir. Desde que foi eleito deputado federal pela primeira vez, ele vinha defendendo a necessidade da Reforma da Previdência. Mas ontem votou contra o texto-base, aprovado em primeiro turno na Câmara Federal.

 

Opção: caos!

A Reforma da Previdência, como definiu o ex-deputado Delfim Neto, “é questão aritmética, não de desejo”. Sozinha, é improvável que seja suficiente para curar a moléstia financeira do Brasil, na UTI desde a infecção pela “nova matriz econômica” de Dilma Rousseff (PT). Mas, sem ela, uma certeza: o Brasil quebra. Faltaria dinheiro não só aos inativos, como para manter os serviços públicos federais. Os “contingenciamentos” iriam muito além da vingança mesquinha de Bolsonaro contra a educação pública. Em curto prazo, o país viveria situação semelhante à do Estado do Rio em 2017. Com uma fundamental diferença: sem ter a quem pedir socorro.

 

A cegueira e as castas

Pode-se entender quem pregue contra a Reforma da Previdência por cegueira ideológica. Por não desejar que o governo Bolsonaro tenha êxito econômico, se fortalecendo para tentar a reeleição. Mas sobre isso, como nem sempre acontece, os bolsonaristas estão certos: é torcer a favor do “quanto pior, melhor” e contra o país. Como também se entende que servidores públicos queiram manter seus muitos privilégios sobre a grande maioria que trabalha na iniciativa privada. É um egoísmo de casta, semelhante ao da cultura milenar da Índia. E encontra sua melhor definição no dito popular: “farinha pouca, meu pirão primeiro”.

 

Pobres, não pobreza

Há também argumentos humanistas contra a Reforma da Previdência. Mas que não se sustentam diante dos números. No último dia 5, o bispo diocesano de Campos, Dom Roberto Ferrería Paz, pregou: “É fundamental (…) nos mobilizarmos e não deixarmos que essa Reforma (…) se instale em nosso país, a exemplo do Chile, onde a pobreza assola nossos irmãos”. Após reformar sua Previdência desde 1981, o Chile é a economia mais sólida da América do Sul. Na dúvida, o país vizinho hoje tem 8% de pobres, contra 25% dos pobres brasileiros. O amor aos pobres é um valor louvável do cristianismo. Só não pode ser confundido com amor à pobreza.

 

Tabata é o futuro

Há casos nacionais emblemáticos. A jovem e promissora deputada Tabata Amaral (PDT/SP), como esperado, votou a favor da Reforma da Previdência. E foi ameaçada de expulsão pelo presidente da legenda, o insuspeito Carlos Lupi. Se consumada, o PDT perderá a parlamentar que melhor tem encarnado uma esquerda moderna e não sectária. Tabata, por sua vez, terá trabalho: escolher entre os convites que choverão de outros partidos. Na Austrália, o primeiro mandamento do Partido Trabalhista é: não gastar mais do que arrecada. No Brasil, o rombo da Previdência em 2018 foi de R$ 288,8 bilhões. Em 2019, está projetado em R$ 309,4 bilhões.

 

Incoerência de Wladimir

Mas, Tabata, Christino, Laterça e Clarissa foram coerentes. Votaram conforme vinham anunciando. Entre os quatro, o placar de 3 a 1 pela Reforma da Previdência é um resumo próximo ao final da sua aprovação ontem na Câmara: 379 a 131 deputados. Conhecer o voto de cada um deles deve orientar todo eleitor na hora de votar na eleição de 2022. Na derrota (e vitória do país), a maior crítica a Wladimir não é ao seu voto, mas à sua incoerência. Ele defendeu a necessidade da Reforma da Previdência desde que foi eleito pela primeira vez deputado federal. E assim o fez até ontem, quando votou contra a Reforma.

 

Pau mandado do pai?

Wladimir lembra Bolsonaro, que como deputado votou contra a Reforma da Previdência de FHC, Lula e Dilma. E se posicionou contra a projetada por Temer. Em momento inédito na história do Brasil, aprovou a sua: com maioria da população a favor de uma reforma que reduz direitos. Aos 33% dos brasileiros que, pela última pesquisa Datafolha, ainda apoiam o presidente, parece difícil mudar pela lógica a crença no “mito”. Já em Campos, pelo que se viu em grupos de WhatsApp, Wladimir ontem perdeu votos para 2020. Muitos creditaram seu voto à submissão aos ditames populistas do pai. E que não faria diferente como prefeito.

 

Publicado hoje (11) na Folha da Manhã

 

Votos contra a Reforma da Previdência de Wladimir e Clarissa, que integra comissão da Reforma Tributária

 

(Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Dois deputados federais de Campos, embora Clarissa Garotinho (Pros) esteja radicada há anos na cidade do Rio, ela e seu irmão Wladimir Garotinho (PSD) votaram contra o texto base da Reforma da Previdência do governo Jair Bolsonaro (PSL). O voto contrário de Clarissa já tinha sido anunciado. A novidade do dia, além de Wladimir também ter votado contra a Reforma da Previdência, é que sua irmã conseguiu uma vaga na comissão especial da Câmara Federal que vai analisar a grande reforma seguinte do país: a tributária.

A filha dos ex-governadores Anthony (sem partido) e Rosinha Garotinho (Patri) comentou sobre a atuação que terá na Reforma Tributária e justificou seu voto contra a Reforma da Previdência:

— É uma grande responsabilidade poder atuar na comissão especial que vai analisar a PEC 045/19 sobre a Reforma Tributária, que é urgente, necessária e vai unificar o país. No Brasil gastamos cerca de 2 mil horas só para calcular e pagar impostos. Precisamos mudar essa realidade, trabalhar para a simplificação dos impostos eredistribuir melhor as receitas tributárias. Com relação a Reforma da Previdência, mesmo compreendendo que o modelo atual tem de sofrer alterações, não posso ser favorável a uma Reforma que, em vários pontos, praticamente impedem o acesso do brasileiro à Previdência. A economia de quase R$ 1 trilhão anunciada será feita praticamente em cima dos mais pobres. Ela vem do Regime Geral, onde 80% das pessoas ganham apenas 1 salário mínimo e da assistência social, que garante atendimento a pessoas em situação de pobreza extrema.

Wladimir, que várias vezes defendeu a necessidade da Reforma da Previdência, também justificou seu voto contrário ao projeto do ministro da Economia Paulo Guedes, mesmo em oposição à orientação à bancada do seu partido:

— Aguardei até o último momento as alterações no texto-base da comissão especial. E decidi votar contra, mesmo com meu partido tendo fechado questão favorável. Não há dúvidas de que uma Reforma da Previdência é necessária, mas, infelizmente, a proposta está muito aquém do que seria razoável para o Brasil. Por mais que se defenda que a Reforma atinge as parcelas mais ricas da população, a realidade é que o texto que estamos votando trata de forma injusta os trabalhadores, os professores, os aposentados e as pensionistas. Na votação dos destaques em plenário, vou analisar um a um e esperar, com os destaques, corrigir o que está equivocado no texto-base.

 

Leia a reportagem completa na edição desta quinta (11) na Folha da Manhã

 

Crônica do domingo — Lava Jato, Brasil e Venezuela na mesa do boteco

 

 

 

— Já viu a nova pesquisa da XP Investimentos? Saiu hoje, em pleno sabadão, e os bolsonaristas comemoraram! — abriu o debate Marcelo, em meio à primeira talagada de cerveja.

— Comemoraram o quê? Que, após as passeatas em seu apoio, Bolsonaro estancou sua sangria de popularidade e continua com 35% de ruim e péssimo?

— Deixa de ser cínico, Aníbal. Você sabe do que eu estou falando. Mesmo depois que a Veja comprou as revelações do marido do deputado do Psol sobre as conversas do Moro com o Dallagnol, a pesquisa mostrou que 43% da população acham que a Lava Jato não cometeu excessos no combate à corrupção.

— Não vou rebaixar nosso sábado ao nível das redes sociais, se não choca a cerveja. Mas cínico é você! Ou cínico, ou não sabe ler nem calendário. A pesquisa da XP foi feita entre segunda e quarta. E a Veja só divulgou a matéria na sexta.

— Taôkei! E você acha que mudaria alguma coisa?

—  Talvez pouco ou nada. De qualquer maneira, fico entre os 33% que acham que a Lava Jato cometeu excessos e algumas de suas decisões devem ser revistas. Mas não é essa a questão.

— E qual é? Ver a petezada comemorando matéria da Veja? Como nos bons tempos em que os dois foram “conjes” no impeachment de Collor?

— A atitude do PT é que é cínica. E está longe de ser novidade. Mas a questão é a seguinte: a Lava Jato que hoje se apega a esses 44%, como afogado a uma tábua, já deve ter percebido que se trata da madeira que sobrou do veleiro dos 86% de apoio nas pesquisas de setembro de 2018, no mês anterior à eleição. Que já não era mais o encouraçado dos 96% entre 2016 e 2017. O apoio popular à Lava Jato está fazendo água. Só não vê, quem não quer.

— Pode até ser. Mas eu fico nos 15% da pesquisa fresquinha, que acham que a Lava Jato cometeu excessos, mas o resultado valeu a pena. Ou você vai acreditar nessa balela de que a operação foi parida pelo interesse geopolítico dos EUA, depois da descoberta do Pré-Sal?

— Nisso só acredita quem teve a alma lavada pelo documentário “Democracia em Vertigem”.

— Isso foi filmado pela neta do fundador da Andrade e Gutierrez para a Netflix fazer uma compensação de mercado com a esquerda festiva pela série “O Mecanismo”.

— Pois é. Eu tenho noção do ridículo. A Lava Jato nasceu por acaso, de uma investigação sobre tráfico de drogas que tinha dinheiro lavado pelo doleiro Alberto Youssef. Ele já era velho conhecido do Moro no caso Banestado e estava até o pescoço no esquema de corrupção bilionário da Petrobras nos governos do PT. Pelo qual deu uma Ranger Rover de R$ 250 mil de presente ao Paulo Roberto Costa, que já tinha sido até superintendente da estatal na Bacia de Campos. Uma coisa levou à outra e deu no que deu.

 

 

— Então você ainda não entrou na galera do Lula Livre? — indagou Marcelo, em meio a risos umedecidos por outro gole de cerveja.

— Não tenho dúvida de que Lula é culpado pela maioria dos crimes pelos quais foi condenado e ainda será julgado. Como são Eduardo Cunha, Sérgio Cabral, Renan Calheiros, Aécio Neves, ou Garotinho em Campos, que poderia dar aula a muita gente de como se livrar da cana dura. E sabe o que isso quer dizer?

 

 

— Que você ainda não entrou na teoria freudiana da negação?

— Que é só a minha opinião. Como o sujeito ali, da mesa ao lado, pode ter outra. Inclusive de que eu ou você também estamos no esquema. Mesmo que ele pregue moralidade enquanto emplaca o carro no Espírito Santo. O mesmo que para em fila dupla para deixar o filho na escola. No estado democrático de direito, o que faz a diferença entre a suspeita e a condenação é o que se pode provar em juízo. Como o suspeito será investigado e julgado. Nisso, parece claro que Moro e Dallagnol ultrapassaram vários limites éticos e legais.

 

 

— É. Pode ser que o Moro tenha errado em aceitar ser ministro da Justiça do Bolsonaro.

— Você ainda tem alguma dúvida? Foi um erro maior do que o Lula cometeu ao escolher Dilma como sua sucessora, depois que Dirceu e Palocci caíram de podre, para ela quebrar o país. Ou da esquerda brasileira, hoje em orgasmos múltiplos com a Vaza Jato do Greenwald, em seus abraços de afogado com os dois ex-presidentes do PT.

— Não é só isso. Ainda que o Moro tenha cometido erros, chamar ele de “juiz ladrão”, como aquele outro deputado do Psol, enquanto se acredita que Lula é “a alma mais honesta do Brasil”, é o poste mijando no cachorro.

 

 

— E se for um poste em “golden shower” sobre outro poste? Prisão de Lula à parte, Moro agiu de maneira descaradamente política quando fez revelação seletiva da delação de Palocci a seis dias do primeiro turno da eleição presidencial de 2018. Como o MP já tinha recusado aquela delação, desconsiderada pelo próprio Moro no julgamento, não dá para negar o objetivo de atingir a candidatura do Haddad. Depois ele aceita do adversário vencedor um ministério?

— Isso são águas passadas.

 

 

— Mas entraram no casco da Lava Jato e reduziram sua popularidade em mais da metade. Isso enquanto o Greenwald aponta mais torpedos, já com a Folha de São Paulo e a Veja na esquadra. Essas são as águas perigosas de hoje, nas quais Moro vazou a Bolsonaro o inquérito da PF sobre os laranjas do PSL, mesmo sob sigilo na Justiça Eleitoral de Minas Gerais. E, como ministro, aceitou a determinação presidencial para que outros partidos sejam investigados, numa clara tentativa de usar a PF como polícia de governo, não de Estado.

— Quem disse isso? A Intercept, o PT ou o Psol?

— Foi o próprio Bolsonaro, no final do mês passado, quando estava no Japão. Ele está fazendo com o Moro o que o PT queria que Dilma obrigasse o Cardozão a fazer no mesmo ministério da Justiça contra a Lava Jato. E, com todos seus muitos defeitos, ela não fez.

— Vai defender agora a Dilma?

 

 

— Defendo que o Brasil conseguiu eleger e reeleger uma incapaz de esquerda presidente, para voltar às urnas e eleger um incapaz de direita. E não vou negar os fatos. Eles indicam que o risco do Brasil virar Venezuela, com o domínio de um governante autoritário e populista sobre as instituições, existe nas duas extremas. Sobretudo naquela capaz de defender até o trabalho infantil! — advertiu Aníbal, antes do gole mais amargo de cerveja.

 

Publicado hoje (07) na Folha da Manhã

 

Imoral ou legítimo? PEC de Clarissa com Wladimir na comissão para favorecer Garotinho

 

(Arte de Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Não é novidade que a deputada federal Clarissa Garotinho (Pros) encaminhou (aqui) o Projeto de Emenda à Constituição (PEC) nº 45318 “com o intuito de manter direitos políticos de pessoas que estiverem cumprindo penas restritivas de direitos”. Nem que, entre essas pessoas, está o ex-governador Anthony Garotinho (sem partido), condenado pela Justiça Federal a prestar serviço comunitário em um hospital psiquiátrico no Rio. A novidade é que a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Federal deu parecer pela admissibilidade da PEC de Clarissa e determinou para sua análise a formação da comissão especial. E dela também faz parte Wladimir Garotinho (PSD), o outro deputado federal filho do ex-governador.

 

Print do atual estágio da comissão especial ainda sem prazo para analisar a PEC de Clarissa

 

Clarissa Garotinho

Clarissa foi indagada pelo blog se a iniciativa visa favorecer seu pai. E respondeu por sua assessoria:

— A PEC foi apresentada com o intuito de modernizar a Constituição Federal ao instituto das penas alternativas, que foram consagrados no nosso Código Penal, da maneira como são aplicados hoje, apenas no ano de 1998. Sempre pautei meu mandato pela razoabilidade e impessoalidade. O tema já está sendo tratado também no âmbito do Judiciário e já foi matéria debatida pelo Supremo.

Wladimir Garotinho

Pessoalmente, Wladimir também negou favorecimento de Garotinho:

—  Sou a favor da PEC porque ela legaliza uma tese jurídica já amplamente discutida nos tribunais e por se tratar de justiça com aqueles que cumprem penas alternativas, como pagamento de cestas básicas e prestação de serviços comunitários, garantindo a esse cidadão o direito de votar. Não se trata de uma medida para beneficiar meus pais, até mesmo porque o Garotinho, caso a Justiça não reveja essa situação, terminará de prestar serviços comunitários antes da próxima eleição.

Marcão Gomes

Apesar das versões, a reação política do Planalto Central à planície goitacá foi contundente. Adversário dos irmãos Garotinho na eleição a deputado federal de 2018, na qual teve mais votos que os dois filhos do ex-governador, mas não se elegeu, o secretário de Desenvolvimento Humano e Social de Campos, Marcão Gomes (PR), disparou:

—  O que se espera de um candidato à Câmara Federal é a defesa de princípios. E o mínimo que se espera dos deputados federais é o princípio da moralidade. Os dois filhos de Garotinho orquestram em Brasília uma tentativa descarada de tentar favorecer seu pai e todos os políticos ficha suja como ele. É algo que envergonha a população de Campos e do Estado do Rio. O que eles tentam fazer é uma imoralidade!

João Paulo Granja

Advogado do Grupo Folha, João Paulo Granja também fez críticas à moralidade da PEC de Clarissa, que será analisada pela comissão especial composta também por Wladimir:

— A PEC faz tábula rasa quanto ao princípio da moralidade, indo de encontro ao recente ao entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF), que admitiu a suspensão dos direitos políticos em caso de condenação criminal, ainda que para cumprimento de pena restritiva de direitos.

Como disse o jurista de Campos, o STF recentemente teve entendimento oposto ao que pretendem Clarissa e Wladimir. Em 8 de maio, o site da Corte Constitucional informou aqui:

— Na tarde desta quarta-feira (8), o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) concluiu o julgamento do Recurso Extraordinário (RE) 601182, com repercussão geral reconhecida. Por maioria dos votos, os ministros fixaram entendimento de que a suspensão de direitos políticos nos casos de condenação criminal transitada em julgado aplica-se às hipóteses de substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos.

Apesar do entendimento da instância máxima da Justiça brasileira, contrário à PEC dos Garotinho, outro advogado campista teve interpretação diferente. Ex-assessor do STF, Carlos Alexandre de Azevedo Campos explicou:

—  O entendimento do STF não é desprezado pela PEC de Clarissa. A doutrina alemã chama isso de “correção legislativa da jurisprudência”. E a doutrina estadunidense, de “diálogos institucionais”, que é o conceito mais em voga no Brasil. O Congresso respeita a decisão do STF, que interpreta e Constituição e fixa um entendimento. Seria um enfretamento se o legislador criasse uma lei ordinária enfrentando o entendimento do STF. O que o Congresso faz para mudar o entendimento, sem afrontar o STF? Muda a Constituição. E diz ao STF: estou tanto acatando sua decisão, que estou mudando a Constituição para ter esse novo entendimento. Isso só não é possível quando se trata de cláusula pétrea. Mas não é o caso. Então é legítimo.

 

Leia a reportagem completa na edição desta sexta (05) na Folha da Manhã