Saúde — Noticiário, opinião e redes sociais em conflito entre patrão e empregado

 

 

Saúde, noticiário e opinião

Na edição de ontem da Folha, em seu espaço semanal, o colunista Murillo Dieguez dedicou cinco notas à sua visão crítica da greve dos médicos da Saúde Pública de Campos, deflagrada na última quarta (07). E mexeu em um vespeiro, gerando ferroadas em enxame nas redes sociais. Não se espera que médicos saibam sobre jornalismo mais do que jornalistas sabem sobre medicina. A Folha, como qualquer outro jornal do mundo, se divide em duas partes: noticiário e opinião. O primeiro busca a isenção pela narração impessoal dos fatos. O segundo, como o próprio nome diz, se trata de opinião, portanto parcial, sobre estes mesmos fatos.

 

José Roberto Crespo (Foto: Isaias Fernandes – Folha da Manhã)

 

Contraditório

Na parcialidade inerente à opinião, a mídia deve buscar o equilíbrio pelo contraditório. Muito anterior ao jornalismo, é o princípio da ágora grega, onde pontos de vista diferentes dos cidadãos eram ecoados, que inventou a democracia meio milênio antes de Cristo. Na busca do equilíbrio entre as opiniões, mesmo sem saber o que Murillo escreveria, já havia sido marcada uma entrevista (aqui) do presidente do Sindicato dos Médicos, José Roberto Crespo, no programa Folha no Ar da manhã de ontem, da Folha FM 98,3. Já no noticiário, ele e outros líderes da classe, foram ouvidos em todas — todas! — as matérias da Folha sobre o movimento.

 

Opiniões e opiniões

São várias as confusões sobre a divisão de papeis no jornalismo. Hoje secretário de Governo, quando repórter da Folha, Alexandre Bastos chegou a ser responsabilizado na tribuna da Câmara Municipal por uma charge publicada no jornal. É mais ou menos o que faz quem “acusa” Murillo de expressar a opinião da Folha. Esta se dá apenas neste Ponto Final, não nos vários colunistas e articulistas que ecoamos. São as opiniões deles, não do jornal. É opinião do jornal, por exemplo, que o governo errou ao implantar o ponto biométrico, ao mesmo tempo em que suspende as gratificações e substuituições dos médicos. E que o erro que pode custar caro em 2020.

 

Opinião comum

Há coisas que excedem a opinião do jornal, de um colunista ou articulista. Trata-se da opinião comum. É o caso do oportunismo de uma categoria que só lembra da precariedade das condições de serviço, que se arrasta na Saúde há mais de uma década, quando é submetida à biometria e tem suspensas as gratificações. Como também é opinião comum a injustiça de se reduzir pela metade o rendimento mensal de um médico plantonista que fez despesas contando com R$ 4 mil de salário, mais R$ 4 mil de gratificação. Foi o que José Roberto Crespo observou ontem no Folha no Ar. E vale para todos os profissionais da Saúde.

 

E a população?

Nos tempos de polarização em que vivemos, causados pelas redes sociais que tinham como objetivo integrar as pessoas, mas as dividiram em fenômeno inédito na história da humanidade, há contradições. Nelas, quem acusa parcialidade contrária, geralmente o faz enquanto pleiteia parcialidade a favor. Como todo médico sabe, a diferença entre o remédio e o veneno é a dosagem. A briga dos profissionais da Saúde Pública com a Prefeitura é um típico conflito de classes entre patrão e empregado. Só quem não pode pagar o pato é a população. Sobretudo em algo que tem o poder de determinar entre sua vida e sua morte.

 

Reforço

Eleito com discurso de forte apelo pela segurança pública, o governador Wilson Witzel (PSC) convocou mais de 500 aprovados em concurso para policial militar desde o início do ano. Líder do PSC na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), o deputado Bruno Dauaire disse, em entrevista a uma rádio no Rio de Janeiro, que Witzel o prometeu que após a formação dos agentes, os novos PMs com origens no interior vão retornar à região para recompor os efetivos dos respectivos batalhões.

 

Água

Com o objetivo de investigar possíveis irregularidades na medição de água em todo o Estado, a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) instaurou uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). O deputado estadual Gil Vianna (PSL), membro da CPI, participou de reunião em que parlamentares defenderam a revisão legal na Tarifa Social, que não acontece há 25 anos. Gil também é autor do projeto na Casa que obriga as concessionárias fornecedoras de água a instalar bloqueadores de ar nos hidrômetros, mediante solicitação do usuário.

 

Com Arnaldo Neto

 

Publicado hoje (10) na Folha da Manhã

 

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