Na sociedade de especialistas em que hoje vivemos, em que o mais brilhante neurocirurgião é incapaz de diagnosticar um simples resfriado, o verdadeiro intelectual é aquele capaz de fazer pontes entre áreas de conhecimento distintas. Na disputada palestra da noite de ontem, que lotou o Trianon, promovida pela Uno Imobiliária, o economista e jornalista Ricardo Amorim demonstrou essa capacidade pré-socrática, renascentista de pensamento, capaz de ligar ciências exatas e humanas para evidenciar as suas conclusões.
Ao mostrar um gráfico histórico do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil nos últimos 110 anos, ficou evidente como as mudanças mais bruscas do regime político do país só ocorreram quando o bolso da poulação doeu. Não por coincidência, foi durante os PIBs brasileiros mais baixos que se deram a Revolução de 30 que levou Getúlio Vargas ao poder; a queda do Estado Novo do ditador em 1946; o golpe civil-militar de 1964; o fim melancólico da ditadura militar em 1985; o impeachment de Fernando Collor de Mello em 1992, que propiciou a estabilidade do Plano Real com Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso; e, mais recentemente o impeachment do desastroso governo Dilma Rousseff, em 2016.
Agradeço pubicamente à oportunidade de compor a mesa redonda que abriu a palestra de Ricardo Amorim, mediada pelo jornalista Marco Antônio Rodrigues, ao lado de José Humberto do Nascimento, da Realiza Construtora; Mateus Terra, da Golf Invest; Talles Roberto, CEO da Metro Malls; Leandro Almeida, superintendente do Boulevard Shopping Campos; Sérgio Simas, CEO da Forte Telecom; e Christiano Abreu Barbosa, diretor financeiro do Grupo Folha. E o agradecimento é pessoal ao Mário Otávio de Souza, presidente da Uno, e ao seu diretor, Fernando Abreu, meu primo, que conheço desde criança e vejo, não sem orgulho, o homem empreendedor e de visão que se tornou.
Ao lado de tantos empresários, tentei passar em resumo a história econômica de Campos, desde a introdução da cana-de-açúcar no séc. XVII, nossa principal atividade até o ciclo do petróleo, iniciado (aqui) no final dos anos 1970 e hoje em franca decadência (aqui e aqui), chegando ao Porto do Açu. Na condição de “isentão” keynesiano, em meio a justificados entusiastas do liberalismo econômico, tentei oferecer o contraditório necessário a qualquer debate, ao lembrar que as reformas profundas e necessárias ao Estado brasileiro, tocadas pelo presidente de fato do país, o deputado federal Rodrigo Maia (DEM/RJ), na Argentina não deram muito certo politicamente com o (ainda) presidente Mauricio Macri.
Mas, como Ricardo Amorim demonstrou que a história do PIB nos últimos 110 anos do Brasil ensina politicamente, a maior lição da noite no Trianon foi o endosso da sentença de James Carville, estrategista do ex-presidente dos EUA Bill Clinton: “É a economia, estúpido!”
Em primeiro lugar eu lhe dou os parabéns por suas palavras e fico feliz de ter tido a chance de ver , ouvir e constatar duas coisas. A primeira que eu sempre soube: o quanto foi ruim o governo da era Dilma e que ele ajudou a acabar com o BRASIL e a acabar com a nossa indústria de açúcar e álcool. E o segundo que foi a minha grande surpresa ( o gráfico da foto mostra isso) que foi na época do regime militar que o nosso país mais cresceu economicamente falando. Eu sempre soube que havia sido um sucesso , mas nunca havia comparado com outras épocas. Forte abraço.
Caro Victor,
Trancrevo aqui a resposta que já tinha dado nas redes sociais: Foi o chamado “Milagre Econômico”, cuja ressaca veio na hiperinflação legada pelos militares da ditadura aos civis eleitos democraticamente. Mais ou menos como houve nos governos Lula, com a explosão mundial das commodities e dos Brics, cuja cefaleia veio com Dilma, que pulsa em nossas têmporas até hoje. No mais, grato pela generosidade!
Abç!
Aluysio
DESVIAR A ATENÇÃO DO DISTINTO PÚBLICO
De maneira ironicamente perversa, podemos considerar Bolsonaro como o mais sincero candidato vencedor em uma eleição presidencial: jamais escondeu suas opiniões autoritárias, fez ameaças mortais contra “petralhas”, disparou contra globalistas, ditadura gay e ambientalistas prometendo uma messiânica guerra cultural.
Plano de governo? Simples: acabar, reduzir, fundir, desparelhar, cortar, destruir, enxugar. Vender e privatizar tudo o que poder, segundo o então “posto Ipiranga”, Paulo Guedes.
Podemos critica-lo de qualquer coisa, menos de “estelionato eleitoral”, como aconteceu na reeleição de FHC em 1998. Oito meses depois, o capitão da reserva sistematicamente cumpre tudo o que prometeu – o resultado: risco de paralisia em programas federais, ministérios, universidades e escolas federais por falta de dinheiro. E uma densa nuvem escura apocalíptica, formada pela fumaça do aumento de 70% de queimadas no Norte do País, que se misturou com a chegada de uma frente fria no Estado de São Paulo, tornando a tarde em noite, com um céu entre amarelado e cinza.
Enquanto isso, o noticiário econômico da mesma grande mídia (supostamente crítica a Bolsonaro, torce pela Reforma da Previdência e faz silêncio aos bilhões de reais de emendas parlamentares, explicitamente para compra de votos no Congresso a favor das reformas) enaltece a fúria privatizante de Paulo Guedes e descreve como as medidas neoliberais do Governo trazem de volta a “confiança” e a “segurança jurídica” ao mercado. A economia nunca está em recessão, mas sempre em “lenta recuperação”. Logicamente à espera das reformas para decolar…
A mídia blinda o núcleo duro do Governo (as medidas neoliberais), ou seja, a missão hardcore do Governo vai sendo cumprida com a precisão de um relógio suíço… desde o impeachment de 2016.
Sabemos que tanto Bolsonaro como os militares nutrem um profundo ódio e ressentimento contra o próprio país em que vivem: para eles, o Brasil é uma nação que precisa ser salva dela mesma. Cronicamente inviável, precisa ser tutelada por força poderosa como EUA. Para nos proteger de ameaças exóticas, como comunistas, globalistas, ditadura gay, Foro de São Paulo, Venezuela, seja o que for.
MEU DEUS, TEM GENTE QUE ACREDITA NISTO ATÉ HOJE:
“O Brasil nasceu corrupto e com uma miscigenação de raças que só prejudica a índole e temperança brasileira. Por isso, formou um povo pouco afeito ao trabalho e a seriedade.”
Esse sempre foi o pressuposto ideológico da Escola Superior de Guerra que legitimou o golpe militar de 1964 e a submissão militar-estratégica e econômica à geopolítica norte-americana durante o período da Guerra Fria.
O discurso ambientalista sempre foi um álibi para a cobiça mundial dos recursos naturais da Amazônia.
Nessa guerra de criação de álibis, cortinas de fumaça e diversionismo, o Governo estaria criando intencionalmente a justificativa para uma intervenção externa na Amazônia. Afinal, esse sempre foi o propósito do capitão da reserva: bater continência ao país mais poderoso.
Com uma estratégia destrutiva às claras, sem disfarces, com ofensas toscas à comunidade internacional, Bolsonaro explicitamente cria o (desculpe o trocadilho!) perfeito “incêndio do Reichstag” para legitimar uma intervenção externa, bem ao gosto da geopolítica norte-americana – e afastar do Brasil definitivamente a ameaça da influência econômica do softpower da China.
A elite sabe que a agenda neoliberal nunca foi boa de voto ou conduziu um candidato à vitória eleitoral no Brasil. Por isso, desde o golpe de 2016, Temer ou Bolsonaro serviram como pivôs de uma guerra a para ocuparem o papel de “bois de piranha”, enquanto o saco de maldades das “reformas” é enfiado goela abaixo. E o anestésico é o gás do riso: as mesóclises mal colocadas nos discursos parnasianos do Temer; ou as escatologias e tosquices “lacradoras” de Bolsonaro.
Bolsonaro mesmo nada pensa, a não ser governar para os seus 30% – o núcleo duro de fundamentalistas, milícias urbanas e digitais + as igrejas neopentecostais que lavam o dinheiro.
O jornalismo é o grande culpado pelo uso de fotos antigas publicadas como se fossem da devastação da Amazônia hoje. Simplesmente porque são raras as fotos novas.
Em qualquer acontecimento ou evento importante, as boas fotos se repetem nas redes sociais e nos jornais. Não é o que acontece agora. Os incendiários da Amazônia estão numa boa.
Os fazendeiros não sofrem flagrantes dos crimes que cometem, porque não há fotógrafos para registrá-los. A Amazônia queima há mais de mês, e os jornais não enviaram equipes de guerra para a região. Sim, equipes de guerra, como as que sempre são enviadas para zonas de conflito.
A Globo, o Globo, a Folha, o Estadão, a Bandeirantes, a Record, todos os veículos da grande imprensa, que têm redações numerosas e recursos financeiros, são omissos com os atos criminosos que matam a Amazônia.
Todos optaram por cobrir o fogo por satélite. O jornalismo brasileiro acomodou-se na cobertura do espaço, dispondo de imagens que não são captadas por profissionais da imprensa, mas por técnicos e cientistas do ambientalismo.
É constrangedor. O jornalismo brasileiro, que não conseguiu oferecer um furo relevante, um só, sobre a Lava-Jato, não consegue oferecer imagens dos incêndios que mostrem a dimensão dos ataques à floresta.
O jornalismo da grande imprensa é preguiçoso desde o golpe. Continuou preguiçoso na caçada a Lula. E só acordou quando o Intercept teve acesso às conversas escabrosas de Sergio Moro com Deltan Dallagnol.
Os jornais e as TVs poderão enviar (ou já devem ter enviado) equipes à Amazônia ontem ou hoje ou nos próximos dias. Mas terá sido tarde. O começo do crime não foi registrado, nem seus autores nunca serão identificados.
O jornalismo brasileiro, que cobriu até a guerra da Crimeia, foi covarde diante da ação dos desmatadores protegidos pelo bolsonarismo.
O jornalismo não teme o Talibã ou o Estado Islâmico e vai às regiões em que atuam. Mas tem medo de fazendeiros, jagunços, grileiros e matadores de índios.
Caro Guilherme,
Enquanto a esquerda brasileira insistir melancolicamente na narrativa de “golpe” ao necessário impeachment (melhor defindido em castelhano, “juicio político”) de Dilma, pelos motivos econômicos evidenciados pelo Ricardo Amorim, favorecerá a extrema-direita de Bolsonaro a se perpetuar no poder.
Abç e grato pela chance do debate!
Aluysio
O SOCIÓLOGO JESSÉ SOUZA ENTREVISTOU REPRESENTANTES DA ALTA CLASSE MÉDIA PARA ESCREVER O LIVRO “A CLASSE MÉDIA NO ESPELHO” .
O pretexto era o combate à corrupção, mas se sabe hoje que era uma falácia. A classe média nunca esteve preocupada com a corrupção — se estivesse, estaria protestando pela punição a Fabrício Queiroz e Flávio Bolsonaro, flagrados em movimentação milionária atípica.
Um dos entrevistados por Jessé foi o CEO de um banco, cujo nome é preservado. O executivo conta como o banco compra políticos, juízes e até jornalistas, para manter um sistema corrupto de privilégios.
HÁ UMA CONVERSA COM UM CEO DE BANCO (‘’QUE EXPLICA COMO SE COMPRA O MUNDO’’, ESCREVE O AUTOR, E COMO ESSAS COMPRAS FUNCIONAM COM POLÍTICOS E JUÍZES):
E O PAGAMENTO DIRETO?
“A mina de ouro de qualquer banco comercial ou de investimento é o Banco Central. Ali só entra gente nossa. E o país é gerido a partir do Banco Central, que decide tudo de importante na economia. É lá que a zona cinzenta entre legalidade e ilegalidade define a vida de todos. Isso não aparece em nenhum jornal.
Podemos fazer qualquer tipo de especulação com o câmbio, como nos swaps cambiais, por exemplo. Se der errado, o Banco Central cobre o prejuízo. Não existe negócio melhor. Se der errado, o famoso Erário paga a conta. Quem controla toda a economia somos nós e a nosso favor, o Congresso nem apita sobre isso. Quando, muito eventualmente, decide sobre algo, apenas assina o que nós mandamos, essa é verdade que ninguém conhece porque não sai em nenhuma TV.
Claro que tudo é justificado como mecanismo de combate à inflação, e não para enriquecer os ricos. Para quem vê isso tudo funcionar a partir de dentro, como no meu caso, é até engraçado.”
NEGÓCIOS ILEGAIS MESMO?
“Nosso lucro é legal, ou seja, legalizado, já que somos intocáveis e ninguém se mete conosco. Boa parte dos juízes e ministros de tribunais superiores, como todo mundo no meio sabe, advogam por interposta pessoa, e nós somos os principais clientes de alguns e de quem paga melhor. São os bancos que pagam as eleições do Congresso quase inteiro. Aí você pode legalizar qualquer coisa, qualquer papel sujo que a gente mande ao Congresso os caras assinam. Nesse contexto, onde se pode tudo, as operações abertamente ilegais são uma parte menor dos lucros, mas obviamente existem.”
INFALÍVEL
“Não existe negócio que não seja intermediado por um banco, seja legal ou ilegal. Essa história de operador e doleiro é coisa da Lava Jato e da imprensa para desviar a atenção da participação dos agentes financeiros. Os bancos são completamente blindados porque inventaram um meio infalível de distribuir dinheiro para quem já tem muito poder e dinheiro. Falam de todo mundo menos de nós, que comandamos tudo.
Aliás, parte do lucro dos bancos vem de lavar dinheiro e intermediar transações. Mas o grosso da grana vem do Banco Central, das remunerações de sobras de caixa – que são ilegais, mas sobre as quais ninguém diz nada – das operações de swap cambial, dos títulos da dívida – enfim, o Banco Central é nossa mãe. É tudo escancarado, mesmo com inflação zero e o país na ruína.”
SE DER ERRADO?
“Podemos fazer qualquer tipo de especulação com o câmbio, como nos swaps cambiais, por exemplo. Se der errado, o Banco Central cobre o prejuízo. Não existe negócio melhor. Se der errado, o famoso Erário paga a conta. Quem controla toda a economia somos nós e a nosso favor, o Congresso nem apita sobre isso. Quando, muito eventualmente, decide sobre algo, apenas assina o que nós mandamos, essa é verdade que ninguém conhece porque não sai em nenhuma TV.
Claro que tudo é justificado como mecanismo de combate à inflação, e não para enriquecer os ricos. Para quem vê isso tudo funcionar a partir de dentro, como no meu caso, é até engraçado.”
E COM OS POLÍTICOS E OS JUÍZES, COMO FUNCIONA?
“Com os políticos você paga a eleição do cara e o que sobrar, se sobrar, porque toda eleição é mais cara do que se imagina de início, ele embolsa.
Com os juízes os presentes funcionam que é uma beleza. O cara termina incorporando ao salário – afinal, é a mania deles. A coisa que mais irrita um juiz é saber que um advogado ganha muito mais do que ele. Na verdade, quando o advogado é muito rico, pode ter certeza que também enfia a mão na merda. Como advogado, para enriquecer de verdade, você tem que saber comprar promotores e juízes, além de advogados de outras empresas, para que escolham o seu escritório quando houver necessidade.
Quando o juiz é muito vaidoso, o melhor método é pagar uma palestra com 100, 200 ou 300 mil reais, e ainda faz o cara se convencer de que é por sua cultura jurídica. Ou fazemos seminários internacionais com grandes jornais e revistas comentando e fotografando – aí eles piram.
Vou lhe contar um caso que vai fazer você entender como tudo funciona. O X queria abrir uma casa noturna em Florianópolis, só para se divertir. O diabo é que encasquetou de construir a boate num lugar que era área de proteção ambiental, o MP (Ministério Público] local encrencou e a história virou uma pendenga judicial. Aí tive que ir lá para acertar com o juiz. Quando deixei tudo combinado, o X mandou uma loura – que foi favorita dele durante um tempo e depois passou a trabalhar com a gente, dessas muito bonitas e de 1,80 de altura, como só tem no Sul – levar, numa bolsa grande dessas de marca, um milhão de reais, misturando reais e dólares.
A ordem do X foi mais ou menos assim: “Põe aquele vestido vermelho justinho da Armani que te dei, entrega a mala e faz o juiz feliz.” O fulano passou um fim de semana com a loura, ficou com o dinheiro e a mala, e o João construiu a boate bem onde queria. É assim que funciona com o Judiciário.”
“A CLASSE MÉDIA NO ESPELHO” CONVIDA O LEITOR CORAJOSO A SE DESPEDIR DAS ILUSÕES A ELE VENDIDAS PARA SE VER COMO REALMENTE É.
O primeiro mito desmontado neste novo livro é o de que a massa da classe média é definida exclusivamente pela sua renda.
O segundo mito demolido é a concepção cultural do brasileiro como vira-lata, inferior, ignorante, emotivo e corrupto por natureza.
LIVRO NA ÍNTEGRA:
http://www.fetrhotel.com.br/wp-content/uploads/2018/11/Jesse%CC%81-Souza-A-Classe-Me%CC%81dia-no-Espelho.pdf