Em greve (aqui) desde o último dia 7, os médicos da Saúde Pública de Campos podem ganhar companhia. Se em sua última assembleia, no dia 22, os médicos decidiram (aqui) pela manutenção da greve, os dentistas também marcaram a sua própria assembleia para às 19h da próxima segunda, dia 26. No auditório do edifício Connect Work Station, na rua Saldanha Marinho, 458, os ondontólogos do serviço público municipal estabeleceram três pontos na pauta: 1) ponto biométrico, 2) condições de trabalho e 3) salário.
Se vão aderir, ou não, à greve dos médicos, é uma decisão de classe legítima, que só cabe aos odontólogos. E, diferente dos médicos — que negam ser contra a biometria, mas só publicamente —, os dentistas tiveram a honestidade de elencar o ponto biométrico como primeiro ítem da pauta. E é aí que, a despeito da justiça de se lutar por melhores condições de trabalho e salários, a legitimidade do pleito falseia.
Como ouvi de um ondontólogo e servidor municipal, antes da palestra (aqui) do economista e jornalista Ricardo Amorim, na noite do dia 21, no Trianon: o servidor que se nega a ter fiscalizadas suas horas de trabalho, pelas quais firmou contrato pessoal com a Prefeitura assim que se inscreveu no concurso público, tem pouca ou nenhuma diferença para o empresário corrupto que vende mil garrafas d’água ao poder público, mas só entrega 500 ao respeitável público que pagou pelas mil.
E o mais irônico é perceber que os médicos e dentistas da Saúde Pública de Campos, com as exceções que confirmam a regra, votaram majoritariamente em Jair Bolsonaro (PSL) a presidente em 2018. E o fizeram alegando ter como principal motivo o combate à corrupção, sobretudo no poder público do país. Do Planalto Central à planície goitacá, o buraco parece ser um pouco mais embaixo.
Após a publicação da postagem, o blog recebeu versões diferentes sobre a questão do ponto. No link desta postagem na página do blog no Facebook, o odontólogo e servidor Beto Miranda questionou (aqui) o sindicato:
— Se ele está falando por um número de dentistas do município, ok. Mas o sindicato não me representa. É no mínimo bizarro pauta de uma reunião o ponto biométrico. Com ponto ou sem ponto, o servidor tem que cumprir com sua carga horária.
Quem também entrou em contato com o blog foi o Rafael Correa, outro dentista e servidor municipal. Ele fez questionamentos muito semelhantes à pauta estabelecida pelo sindicato, com o ponto biométrico em primeiro lugar:
— O sindicato não tem sede no município. E o presidente (Domingos C. F. Júnior) é uma pessoa de difícil acesso. Ele estabeleceu essa pauta sem ouvir o conjunto dos 450 dentistas que trabalham como servidores de Campos. As condições de trabalho e os salários defasados são, sim, pleitos da categoria. Mas não o ponto biométrico. Participo de um grupo de WhatsApp chamado “Dentistas de Campos”, que reúne entre 150 a 200 odontólogos servidores. E é uníssono: ninguém é contra a biometria, que já está funcionando há um mês. O único questionamento é a falta de orientação aos profissionais, para saberem como e onde bater o ponto. E o fato de que, pela precariedade de condições e falta de equipamentos, muitos batem o ponto, mas não têm como trabalhar.
Abaixo, a convocação da assembleia do Sindicato dos Odontologistas do Norte do Estado do Rio de Janeiro (Sonerj):
Este “ondontólgos” seriam de outro planeta?
Caro Sergio,
O erro de digitação no título foi corrigido antes do seu comentário, escrito com erro de concordância de número. Mas agradeço ainda assim. Já o ponto biométrico como principal item da pauta do seu “planeta”, não teve erro algum. A não ser com a população que paga seu salário.
Abç e grato pela chance do debate!
Aluysio
Boa tarde. O seu informante, está um pouco desinformado. A reunião realmente acontecerá, mas nada tem a ver com greve ou com o não cumprimento da carga horária. Você também não deve conhecer a fundo o que acontece na saúde de Campos, principalmente o que ocorre na odontologia. Deveria conhecer para não sair publicando coisas que não sabe. Deveria também nos dar mais informações, já que foi muito eficiente em fazer uma matéria cheia de suposições e sem fonte. Quem falou e como conseguiu dados para saber em quem os dentistas votaram nas eleições para presidente?Fora que isso não diz respeito a ninguém. Como sabe o que será debatido com essas pautas? Antes de sair julgando uma classe inteira, deveria se ater a verdade.
Caro JR Costa,
A reunião e seus motivos estão no edital de convocação publicado ao final da postagem. Testemunhas, sobretudo parciais como você, mentem. Documentos, não. E o atendimento de toda a odontologia da Saúde Pública de Campos “não diz respeito a ninguém”? Cautela e senso de ridículo costumam evitar a dor de dente que reside em uma afirmação tão arrogante, prepotente e infeliz.
Abç e grato pela chance do debate!
Aluysio
Caro Aluysio, quero esclarecer alguns pontos:
1- o que eu disse foi que ninguém tem a ver com o fato de quem votamos para presidente, o voto é um direito do cidadão e cada um vota em quem acha melhor e, a eleição para presidente da república , aliás, isso por hora é completamente irrelevante sobre o que queremos. Acho que cautela é bom sim e acredito que como jornalista você entendeu o que escrevi.
2- o documento do sindicato é apenas uma convocação para uma assembléia, concordo que colocar essa pauta do ponto biométrico em primeiro lugar foi muito infeliz, mas o odontólogo explicou, como foi colocado na reportagem, no entanto o documento não informa sobre o que será discutido nessa assembléia, portanto , cautela, a suposição de uma greve e de que o fato de ” não querer ” cumprir carga horária ou que isso incomode , foi sugerido na reportagem, quando não é esse o problema , como bem o odontólogo falou, por isso digo que os fatos devem ser apurados antes de serem publicados.
3 – não foi dito em hora nenhuma que o Atendimento Odontológico da Saúde pública de Campos não era de interesse e nem que não diz respeito a ninguém, mas acredito que tenha entendido isso também.
4 – comparar uma classe inteira com corruptos não é uma coisa respeitosa e também precisa de cautela.
Espero sinceramente que tenha ficado tudo explicado , acho que não consegui me expressar direito e por isso ficou esse mal entendido.
No mais, espero que tenha uma boa noite e um bom fim de semana.
Caro Jr Costa,
Sim, vamos por partes:
1 – Sim, o voto é secreto e livre. Só que tem consequências, como a contradição de ter embarcado no antimarxismo esquizofrênico de Bolsonaro para depois ter seu pleito de classe legitimado por um conceito de Marx.
2 – Concordamos: colocar o ponto biométrico como primeiro item da pauta foi muito, mas muito infeliz. E sobre isso, além de noticiar, emiti opinião. Diferente de um jornal, noticiário e opinião podem andar juntos em um blog. Sobretudo em um chamado Opiniões.
3 – Não, entendi que você foi arrogante, e igualmente infeliz, quando disse que o atendimento de toda a odontologia da Saúde Pública de Campos “não diz respeito a ninguém”. E continuo a entender assim. O que não entendo é como você pode entender diferente.
4 – A comparação não foi feita por mim, mas por um seu colega, dentista e servidor municipal. E o sujeito da analogia foi “o servidor que se nega a ter fiscalizadas suas horas de trabalho”. Por óbvio, a carapuça não deveria ser vestida por quem não a usa.
Abç e grato pela chance do debate!
Aluysio
Caro Aluysio,
Os problemas da saúde de Campos são enormes. Na Odontologia não é menos grave. Desde 2015, vimos lutando por melhores condições de trabalho. Eu e grande parte dos colegas votamos no Rafael Diniz esperançosos e crentes em suas promessas de que o problema na saúde era de gestão e de que dinheiro não faltava. Diversos consultórios odontológicos da prefeitura foram fechados por falta de manutenção dos equipamentos. A falta de materiais e instrumentais odontológicos é outra situação crítica e que vem estressando os profissionais. A Odontologia requer uma série de medicamentos para que sejam realizados os procedimentos dentro da técnica adequada. Uma simples obturação requer três, quatro, materiais distintos para ser realizada. A falta de um deles inviabiliza a realização bem sucedida de um procedimento. Muitos colegas têm contribuído comprando materiais, consertando equipamentos para continuar atendendo. E todos sabem que material odontológico não é barato. Mas tudo tem limite. Cansamos. Todos. Não dá mais para fingir que tudo vai bem e ficar oferecendo um tratamento ruim à população, ouvindo desaforos quando o atendimento não pode ser oferecido porque o equipamento quebrou. A população desabafa conosco que estamos com “a cara na reta”, como se diz. A questão salarial é outro ponto importante, não é verdade que ganhamos bem. Em média, o profissional de saúde recebe 50% a menos que o mesmo colega que atua em Macaé, cidade também recebedora de royalties e, portanto, sujeita aos mesmos percalços financeiros. Não se tem notícia de caos na saúde de lá. O prefeito é médico. Seria essa a diferença ou seria mesmo de competência? Por fim, o ponto biométrico. Nunca ouvi queixa dos colegas quanto ao ponto em si. A queixa refere-se à maneira engessada e à falta de clareza quanto à sua execução. Um hora a ordem é para registrarmos a entrada e saída. Outra, para registrarmos a cada 6 horas de turno trabalhados. Uma hora, pode-se cumprir turnos de 10/12h por dia; noutra, que os turnos deverão ser de 8 horas por dia, no máximo. Existem colegas que participam de projetos itinerantes pelos distritos da cidade promovendo ações de educação em saúde bucal. Campos é uma cidade enorme. Esses colegas se deslocam para Santo Eduardo, Farol, Ponta Grossa, etc. Terão que registrar seu ponto no centro de saúde (Rua Gil de Góes), se deslocarem para os distritos onde se dará a ação, retornar na hora do almoço, voltar para o distrito para, finalmente, no fim do dia, voltar ao centro de saúde para registrar sua saída. Impossível! E nas UBS mais distantes? Imbé, Serrinha, Morro do Coco, como se deslocar diariamente para cumprir turnos de 4 horas? Já imaginou o gasto com combustível? Transporte público regular não há. Em muitas localidades, o último ônibus sai às 17horas para o centro da cidade. O salário de aproximadamente3.800 reais (com insalubridade inclusa) não compensa, entende? Até agora, o dentista e o médico atendiam por produtividade. Atendem um número X de pacientes, maior que o colega da cidade, indo menos vezes para esses lugares mais distantes. No entanto, sua produtividade se equivale àquele. Aí, você pode dizer, não está satisfeito, largue.! Sim, pode ser que muitos médicos e dentistas o façam. Talvez seja a meta do governo. No entanto, é preciso observar que serviço público de saúde não foi feito para se economizar ou gerar lucro, o ganho É SOCIAL. Temos uma população muito carente de saúde. A saúde bucal, por questões culturais, a presença forte da economia do açúcar, mais ainda. Por tudo isso que estamos nesse debate e nessa luta. A questão é muito mais complexa que o ponto biométrico. O ponto não é o ponto, mas é um dos pontos. Pareço a ex-presidente falando, rssssss, mas acho que entendeu.
Abraços.
Primeiro é um absurdo uma cidade de 500 mil habitantes ter quase 500 dentistas. Da 1 pra mil habitantes. Juntos custam milhões por mês. Tem consultórios e materiais para trabalharem? Nao. Talvez nunca teve direito. Aí então é um rio de dinheiro dos campistas jogado no lixo. Agora é óbvio que o estopim foi ter que bater ponto, principalmente para os medicos. A prefeitura fingia que pagava por 20 hs e os medicos fingiam que cumpriam a carga horaria. Se nao é mais pra fingir o horario….o jeito vai ser a galera pedir exoneração e depois a prefeitura resolver se paga mais ou diminui a carga horaria em novo concurso. E médico tem salario alto mesmo, ate porque pra se formar um na faculdade da cidade ja ta beirando 1 milhão de reais entre mensalidades e despesas, fora outros sacrificios…tem muito pano pra manga ainda