Ingrid Trancoso — O dilema da regulamentação da Cannabis no Brasil

 

Maconha foi liberada pela Anvisa para ser usada como remédio, mas não pode ser cultivada no Brasil (Foto: Divulgação)

 

 

Ingrid Trancoso, enhenheira agrônoma, pesquisadora e pós-graduanda da Uenf (Foto: Facebook)

O dilema da regulamentação da Cannabis

Por Ingrid Trancoso

 

A Diretoria Colegiada da Anvisa decidiu aprovar a regulamentação da produção e comercialização de medicamentos derivados da Cannabis e arquivar a proposta de regulamentação do plantio para fins medicinais e/ou pesquisas científicas. O resultado dessa decisão foi comemorada principalmente pelas indústrias farmacêuticas, que garantiram um mercado bilionário em prol da saúde dos brasileiros. A sociedade continua refém da indústria, pois a tendência é que esses medicamentos sejam disponibilizados a um valor exorbitante, tendo em vista a necessidade de cultivar a planta no exterior, fomentando empresas estrangeiras. A Anvisa teve a oportunidade de incentivar uma cadeia produtiva nacional e assim gerar milhões de empregos, abastecer o mercado interno, possibilitar pesquisas e sobretudo garantir o acesso a saúde de forma justa à sociedade. No entanto, preferiram alimentar o lobby das grandes indústrias e negociar a saúde do povo brasileiro.

Nós, pesquisadores, não encontramos sentido na proibição do cultivo, tendo em vista que existem drogas disponíveis nas farmácias de fácil aquisição e que causam a morte de centenas de pessoas, como por exemplo a dipirona. A Cannabis não causa risco de morte e apresenta efeitos colaterais extremamente menores do que a morfina, que tem padrão de aquisição semelhante a de medicamentos com concentrações superiores a 0,2% de THC (composto psicoativo da Cannabis). Esses medicamentos só poderão ser prescritos aos pacientes terminais ou que tenham esgotado as alternativas terapêuticas de tratamento. Isso é um absurdo, pois o THC em concentrações superiores também é eficiente no tratamento de diversas doenças. Em muitos casos apresenta maior eficácia e efeitos colaterais mais leves do que as drogas ditas eficientes.

Se por um lado ainda temos muitas dificuldades em garantir a soberania nacional e o acesso justo aos medicamentos derivados da Cannabis, por outro reconhecemos que os pequenos passos dados pela Anvisa impulsionam o debate em relação à importância do desenvolvimento do mercado nacional. Não é possível que Israel, Canadá, Uruguai, Colômbia, dezenas de estados do Estados Unidos e diversos outros países estejam fazendo tudo errado. Basta se informar. Nós, pesquisadores, estamos aqui para isso.

 

Publicado hoje (04) na Folha da Manhã

 

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