Anunciadas para ontem (02), as obras no Hospital Geral de Guarus (HGG) vão começar nesta quarta (04). Primeiro com a montagem do canteiro de obras na sala de esterilização, depois com a reforma do centro cirúrgico. Os dois setores estiveram entre os sete interditados (aqui) no último dia 20, com a infiltração da água de chuva, que interrompeu o atendimento clínico do hospital. A previsão é de que as obras sejam concluídas em dois meses, “até o final do verão”. Foi o que disse hoje o diretor do HGG, Dante Pinto Lucas. Ele também quis desfazer qualquer mal-entendido com os hospitais contratualizados de Campos, a partir da sua entrevista (aqui) ao Folha no Ar 1ª edição da última sexta (29), na Folha FM 98,3, junto ao secretário de Saúde Abdu Neme:
— Já trabalhei como médico nos hospitais Beneficência Portuguesa, Plantadores de Cana, Álvaro Alvim e Santa Casa de Misericórdia. Tenho o maior respeito e carinho pelas quatro instituições e seus profissionais, todos meus colegas, alguns de longa data. São hospitais importantes não só para Campos, como para todo o Norte Fluminense, pois atendem doentes de toda a região. Eu disse apenas que, dada a situação financeira fragilizada de Campos com a queda acentuada nas receitas do petróleo, é fundamental que os hospitais contratualizados se sentem com o município para se adequar a essa nova realidade. Não é porque hoje entraram (aqui) esses R$ 8 milhões de verba estadual, que amanhã vamos ter esse recurso de novo. Os leitos dos contratualizados são ocupados por doentes que primeiro são estabilizados no HGG e no Ferreira Machado, que dão o atendimento de emergência e por isso têm que ter uma equipe mais numerosa, que custam mais para serem mantidas.
Dante esteve reunido ontem no HGG com representantes das secretarias municipais de Saúde de São João da Barra, São Francisco de Itabapoana, Quissamã, Macaé e São Fidélis. A pauta do encontro foi coordenar esforços na tentativa de desafogar a atendimento de emergência na região:
— O Norte Fluminense tem dois polos regionais de Saúde. Campos atende os doentes do seu próprio município, maior do Estado do Rio, São João, São Francisco e São Fidélis. Macaé atende os da sua cidade, mais Quissamã, Carapebus e Conceição. Mas pacientes destes municípios têm vindo também para Campos, porque Macaé tem recebido muitos doentes da Região dos Lagos. Além de recebermos também de Cardoso Moreira, Italva e Itaocara, que deveriam ser atendidos por Itaperuna, polo do Noroeste. O problema é regional, daí a necessidade de tentarmos um suporte com a secretaria estadual de Saúde, para que Quissamã e São João, por exemplo, que também têm hospitais, possam segurar seus pacientes — disse o diretor do HGG.
Na adaptação do popular samba “Malandragem dá um tempo”, versão irreverente do compositor Bezerra da Silva (1927/2005) sobre a maconha: pode vender como remédio, mas não pode cultivar agora. É o resumo da decisão hoje da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), ligada ao ministério da Saúde, de liberar a venda de medicamentos à base da Cannabis sativa (nome científico da maconha), mas manter seu cultivo proibido no país. Em Campos, quem se dedica ao estudo científico da planta e seus usos medicinais questionou a medida:
— A questão é que só quem está se beneficiando com essa decisão da Anvisa são as grandes empresas. Isso não vai gerar nenhum emprego para o Brasil. A maconha é uma planta, que não causa nenhum tipo de risco de vida aos seres humanos. E qualquer farmácia do país está cheia de drogas que podem matar pessoas. Não podemos cultivar para estudar cientificamente a maconha. Nem importar material para a produção dos medicamentos ela derivados. Apenas comprar da indústria. Prevaleceu o interesse comercial — reagiu a engenheira agrônoma Ingrid Trancoso, pós-graduanda da Uenf, ao anúncio hoje da Anvisa.
Ao lado do ex-reitor da Uenf Almy Junior, também engenheiro agrônomo, Ingrid falou (aqui) sobre o uso medicinal e recreativo da maconha no programa Folha no Ar 1ª edição, da Folha FM 98,3, no último dia 20, feriado nacional da Consciência Negra. Foi um dia antes dos dois cientistas participarem de um seminário, no Centro de Convenções da Uenf, sobre o uso medicinal da maconha. Hoje, a nova regulamentação para medicamentos com base nas propriedades da planta foi aprovada por unanimidade pela Anvisa. Ela é temporária, com validade de três anos. Almy também questionou a medida:
— Um retrocesso que só atende a indústria de medicamentos. Impedir o Brasil de produzir seus próprios princípios ativos é antieconômico e nada inteligente. Pior, estes medicamentos a base de cannabis, comercializados pelas farmácias vão ficar muito caros. sobre uso medicinal da cannabis. O estudo da planta para sua utilização medicinal é um tema que todos nós apoiamos, porque ele é ciência pura. É um tema que países conservadores como Israel, ou estados conservadores (dos EUA) como o Texas, já fazem há muito tempo. E as pessoas só vão entender no dia em que alguém da família precisar de um medicamento qualquer. O debate é que, sem a permisssão para o cultivo, a gente está cerceado do direito de fazer ciência. O pesquisador brasileiro tem o problema da legalização, corre o risco de ser preso porque usa o material nativo do Brasil para fazer ciência. E nós estamos falando de uma planta (a cannabis) que tem 10 mil anos de utilização pelo homem — lembrou o ex-reitor da Uenf.
Na mesma reunião da diretoria colegiada do órgão foi rejeitado o cultivo de maconha para fins medicinais no Brasil. Por 3 votos a 1, proposta foi arquivada pela agência reguladora. Com a decisão, fabricantes que desejarem entrar no mercado precisarão importar o extrato da planta, como ressalvou a pesquisadora da Uenf. Sobre a venda em farmácias, a norma passa a valer 90 dias após sua publicação no Diário Oficial da União. De acordo com a resolução, os produtos liberados poderão ser para uso oral e nasal, em formato de comprimidos ou líquidos, além de soluções oleosas.
O texto não trata do uso recreativo da maconha, que continua proibido. A comercialização ocorrerá apenas em farmácias e drogarias sem manipulação, que venderão os produtos prontos, mediante prescrição médica. O tipo de prescrição médica necessária vai depender da concentração de tetra-hidrocanabidiol (THC), principal elemento psicotrópico da cannabis sativa, ao lado do canabidiol (CBD), que é usado em terapias como analgésico ou relaxante.
O THC altera as funções cerebrais e é a substância que provoca os mais conhecidos efeitos do consumo da maconha, droga ilegal no Brasil. Entretanto, estudos indicam que o THC também pode ser usado como princípio ativo para fins medicinais. Nas formulações com concentração de THC inferior a 0,2%, o produto deverá ser prescrito por meio de receituário tipo B e renovação de receita em até 60 dias. Já os produtos com concentração de THC superior a 0,2% só poderão ser prescritos a pacientes terminais ou que tenham esgotado as alternativas terapêuticas de tratamento. Neste caso, o receituário para prescrição será do tipo A, mais restrito, padrão semelhante ao da morfina.
Ao anunciar ontem (aqui) que vai retomar as tarifas do aço e do alumínio do Brasil e Argentina porque os dois países sul-americanos desvalorizariam artificalmente suas taxas de câmbio, reduzidas pela realidade da recessão econômica agravada pela guerra comercial entre EUA e China, Trump fez o que sempre faz: usou de fake news.
Para quem governa, abaixo e acima do Equador, usando do mesmo artifício desonesto, o golpe duro nas exportações e na balança comercial brasileiras não deixa de obedecer ao conceito bíblico do eterno retorno: você pode escolher o que semear, mas colherá o que plantou.
Para quem foi eleito presidente do Brasil batendo continência à bandeira dos EUA, cujos defensores repetem o gesto patético diante de uma Estátua da Liberdade fake, fica a lição geopolítica traduzida em samba pelo saudoso Bezerra da Silva: ninguém respeita lambe-botas. Sobretudo quem tem a bota lambida.
Depois de terem liberados R$ 7,3 milhões de recursos municipais no último mês, os hospitais contratualizados de Campos recebem, nesta terça-feira, dia 3, mais R$ 8 milhões. O recurso é oriundo do Governo do Estado, obtido através de intermediação do deputado estadual Rodrigo Bacellar (SD). Este ano, até então, foram repassados aos contratualizados R$ 82,9 milhões em recursos federais e R$ 50,7 milhões em recursos municipais.
A responsabilidade de média e alta complexidade é do município e, também, do estado. Por esta razão, o estado contribuiu para que o município possa continuar fazendo seus repasses junto aos contratualizados. No último dia 28, a Prefeitura de Campos liberou aos hospitais R$ 2,9 milhões. Antes disso, também em novembro, já havia sido liberados R$ 4,4 milhões — todo este montante de recursos municipais.
— A gente sempre deixou claro que a Saúde é prioridade em nosso governo e os hospitais contratualizados também fazem parte. Tanto que, com muito menos recursos, a gente vem mantendo os pagamentos dentro de nossas possibilidades. Neste último mês já repassamos R$ 7,3 milhões de recursos do município e agora mais R$ 8 milhões vindos do estado. Vale destacar a grande atuação do deputado estadual Rodrigo Bacellar, a quem, desde já, agradecemos. E, semana que vem, estaremos fazendo repasse da verba federal, mostrando que os hospitais são sim prioridade de nossa gestão. Vivemos uma nova realidade financeira, mas estamos cumprindo nossos compromissos dentro de nossas possibilidades — esclarece o prefeito Rafael Diniz (Cidadania).
O secretário municipal de Saúde e presidente da Fundação Municipal de Saúde (FMS), Abdu Neme ressalta o cumprimento dos compromissos por parte do governo municipal:
— Após trabalho de bastidores do prefeito Rafael Diniz e do deputado Rodrigo Bacellar, a Prefeitura libera hoje (terça-feira) recursos no montante de R$ 8 milhões. Com R$ 7,3 milhões dos últimos dias, chegamos à cifra de R$ 15,3 milhões. Também estamos na expectativa de, como sempre fazemos seguindo determinação do prefeito, repassarmos em dia os recursos federais para todas as unidades de saúde, o que gira em torno de R$ 5 milhões.
Articulador junto ao Governo do Estado para a liberação da verba de R$ 8 milhões, o deputado estadual Rodrigo Bacellar destacou o trabalho de outros dois políticos:
— Só tenho a agradecer ao vice-governador Cláudio Castro e ao presidente da Alerj, André Ceciliano (PT) por nos atenderem e terem a sensibilidade com a questão que passam as finanças de Campos neste momento. Os recursos serão importantes não só para o município, mas para a região como um todo, uma vez que Campos atende a várias cidades. Espero que os hospitais façam um bom proveito e possam ajudar as pessoas — afirmou o deputado.
Depois de andar sempre na frente da cobertura das eleições a reitor da Uenf, vencida (aqui) pelo professor Raúl Palácio na eleição de 17 de setembro, o Grupo Folha agora reserva especial atenção à eleição a reitor do Instituto Federal Fluminense (IFF). Ela será realizada no próximo dia 11, quarta-feira da semana que vem, nos 12 polos do IFF, em 10 municípios.
Candidatos ao comando da maior insituição de ensino de Campos e região, os professores Jefferson Manhães de Azevedo, Jonivan Coutinho Lisbôa e Maurício Gonçalves Ferrarez terão espaços iguais para exporem seus planos e ideias. Tanto aos leitores da Folha da Manhã, quanto aos ouvintes e telespectadores (pelo streaming aqui) do Folha no Ar 1ª edição, na Folha FM 98,3.
Na última sexta (29), com convite feito às três candidaturas, foram sorteadas a ordem das entrevistas no jornal e na rádio. Reitor candidato à reeleição, Jefferson concedeu na tarde de hoje uma entrevista à Folha da Manhã, que será publicada na próxima sexta (06). Nesta terça (03), Jonivan será o convidado do Folha no Ar, enquanto Ferrarez dará uma entrevista ao jornal no final da manhã, que será publicada no sábado (07).
Na quarta (04), o IFF permanecerá na pauta do Folha no Ar 1ª edição, mas os candidatos estarão presos pela manhã em um debate previamente marcado na reitoria. À tarde do mesmo dia, Jonivan dará sua entrevista ao jornal, que será publicada no domingo (08). Na quinta (05), a Folha FM também entrevistará Jonivan. E, na sexta, Jefferson fechará a semana do Folha no Ar 1ª edição.
A decisão será no voto de professores, servidores e alunos do IFF. As três categorias têm igual valor, diferente da Uenf, onde o magistério tem peso de 50% no colégio eleitoral. A Folha espera poder contribuir no debate de uma instituição de fundamental importância para Campos e toda a região, dentro e fora dos muros da escola.
Da aldeia à tribo, Diva, Yve, Flamengo e Liverpool
No sábado, na virada histórica de 2 a 1 sobre o River Plate, veio a Libertadores da América após 38 anos. No domingo, com os jogadores ébrios em cima do trio elétrico navegando lento um oceano de gente no Centro do Rio de Janeiro, veio o sétimo Campeonato Brasileiro. Na segunda, dia 25, Jorge Jesus ganhou o título de cidadão carioca da Câmara Municipal do Rio. No mesmo dia, no que há de goitacá e particular na alegria de uma nação, foi anunciado que a professora Diva Abreu Barbosa e o ator Yve Carvalho (in memoriam), dois rubro-negros, foram eleitos vencedores do Prêmio Alberto Lamego, mais importante da cultura no município.
Tolstói dizia: “Quer ser universal, canta a tua aldeia”. Atualmente mais conhecida por sua atuação empresarial, publicitária e em eventos, como diretora-presidente do Grupo Folha, Diva foi também poeta, cronista e compositora premiada, inclusive em festivais do Rio de Janeiro, nos anos 1960. Na metade daquela década, quando voltou a Campos, após se formar em História na Universidade Santa Úrsula, foi a primeira mulher a usar calça jeans e fumar em público na planície marcada pelo conservadorismo. O fazia enquanto tomava café no Ceceu, quedando os muros do patriarcado na “Rua dos Homens em Pé”.
Diva formaria gerações em História do Brasil pelas três décadas seguintes, como professora do Liceu e da Faculdade de Filosofia de Campos (Fafic). Nesta, na segunda metade dos anos 1970, organizou as duas Semanas Universitária de Arte e Cultura (Suacs). Nelas, entre outros, trouxe o diretor teatral Aderbal Freire Filho, que encenou “O Auto da Compadecida”, o cantor e compositor Gonzaguinha, o saxofonista Paulo Moura e o pianista erudito Antônio Guedes Barbosa, todos em apresentações gratuitas. Depois, como chefe do departamento de Cultura do último governo municipal Zezé Barbosa (1983/1988), promoveu a reconciliação do escritor José Cândido de Carvalho com sua cidade natal, ao abrir a Casa de Cultura em Goitacazes que leva seu nome. E instituiu o Prêmio Alberto Lamego que receberá no próximo dia 28 de março.
Morto de insuficiência renal em 26 de maio de 2018, com apenas 54 anos, Yve Carvalho começou no teatro nos anos 1980. Sua primeira peça foi “Blue jeans”, encenada no Teatro de Bolso (TB) sob a direção de Félix Carneiro, o saudoso Felinho. A partir da sua atuação em “O Noviço”, de Martins Pena, em 1986, Yve saiu de Campos como o primeiro ator campista pago nos palcos do Rio. Lá, investiu na sua formação acadêmica. Após se formar como técnico em ator na Escola de Teatro Dirceu de Mattos, também se graduou em licenciatura em teatro na Unirio.
Aprovado em concurso como professor de arte da rede estadual e ainda morando no Rio, Yve integrou o elenco da peça campista “Auto do Ururau”, dirigida por José Sisneiro, que arrebatou em 2005 o prêmio Shell, dos mais importantes do teatro brasileiro. No mesmo ano, ele venceu como intérprete o FestCampos de Poesia Falada. Defendeu a obra “Goya Tacá Amopi”, do poeta e diretor teatral e Antonio Roberto de Góis Cavalcanti, o Kapi (1950/2015), que estreara como assistente de direção com Aderbal Freire Filho, durante a Suac de Diva.
O reconhecimento na terra natal e o fato de ter passado em concurso como professor de arte na rede municipal de Campos, trouxeram Yve de volta em 2006. Sua parceria com Kapi colheria mais frutos, em 2008. Com a interpretação do primeiro, sob a direção do segundo, o poema “conversão a mais de uma atmosfera”, de minha autoria, acabaria vencendo o 11º Concurso Nacional de Poesia Francisco Igreja. O palco, não poderia ser mais honroso: a sala Machado de Assis, na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Além da obra, Yve ganharia como melhor intérprete daquele festival, seu único prêmio como ator em terras cariocas.
Ainda em 2008, Yve faria sua primeira experiência no cinema. Sob a direção do campista Carlos Alberto Bisogno, protagonizou o curta “Efígie”, lançado em 2009. Enriquecido pela experiência, retornaria aos palcos no mesmo ano, para encenar no TB seu primeiro monólogo: “Meu querido diário”, do dramaturgo, poeta e professor Adriano Moura. Novamente sob direção de Kapi, foi um ato de resistência de Yve, bancado do próprio bolso. Encenada já em setembro, foi apenas a segunda montagem de artistas locais naquele ano triste para o teatro de Campos.
No verão de 2010, Kapi passava uma temporada em Atafona. E decidiu juntar poemas sobre a praia sanjoanense, dele, meus, de Artur Gomes e Adriana Medeiros, adaptados como causos contados entre pescadores na peça chamada “Pontal”. Yve foi o primeiro ator pensado e o único a sempre integrar seu elenco. O palco seria o Bambu, como Neivaldo Paes Soares passou a ser conhecido após ocupar no Pontal de Atafona a antiga casa de barco da família Aquino, transformando-a em bar e sua residência. Apesar do teatro improvisado, sem luz elétrica e com acesso apenas pela areia, numa montagem com atores, diretor e autores locais, aquela estreia foi um inesperado sucesso de público.
Com a morte de Kapi em 2 de abril de 2015, dois meses antes de Neivaldo desaparecer misteriosamente na foz do Paraíba, Yve se assumiu também como diretor. Trabalhando com a produtora Oráculo do ator Luiz Fernando Sardinha, ministrou cursos sobre tragédias gregas para jovens. E os dirigiu em clássicos da dramaturgia ocidental: “Édipo Rei”, de Sófocles; “Medeia”, de Eurípedes; e “Prometeu acorrentado”, de Ésquilo. Depois de montar os três no TB, levou o último também ao palco do Trianon.
O grande ator também assumiria a direção de “Pontal”. E a encenou em palcos como o Cais da Lapa, o Porto do Açu, o Sesc e o Sesi de Campos, além da praça do Liceu, durante a o I Festival Doces Palavras (FDP!), em setembro de 2015. Após sua estreia num pedaço do Pontal que não existe mais, foi por iniciativa de Yve que a peça teria outra montagem emblemática. Durante a ocupação do Teatro de Bolso pelos artistas de Campos, no movimento Ocupa TB, entre maio e junho de 2016, “Pontal” foi encenada como mais um ato de resistência de Yve. Que comandaria sua reestreia no teatro já reaberto, com casa lotada, em 30 de junho de 2017.
Do palco às coxias, Yve sempre foi a estrela principal. Uma das maiores na história — matéria de Diva — do teatro de Campos. Que, como ela, merecia o Alberto Lamego em vida.
Cantados os vultos da aldeia, resta a tribo mais ampla. A conquista da América do Sul e do Brasil pelo Flamengo foi embalada a plenos pulmões por sua torcida: “E agora o seu povo/ Pede o mundo de novo”. O pedido tem mais dois jogos para ser atendido no Qatar. O primeiro, na semifinal do Mundial de 17 de dezembro. Será contra o vencedor entre o Al Hilal, da Arábia Saudita e campeão da Ásia, e o Espérance, da Tunísia e campeão da África.
Para quem acha que será jogo fácil, mas tem consciência de como foi difícil a final da Libertadores contra o River, que se lembre: em 2018, o tradicional copeiro argentino caiu na semifinal do Mundial. Antes dele, o mesmo já tinha acontecido com outros campeões da Libertadores: os brasileiros Internacional (2010) e Atlético Mineiro (2013), e o colombiano Atlético Nacional (2016). Em 2019, dado curioso é que o Al Hilal foi o último time que o técnico português Jorge Jesus treinou, antes de vir para o Flamengo em julho.
Do outro lado, campeão da Europa, o inglês Liverpool tem também um adversário potencialmente difícil na semifinal do dia 18: o Monterrey do México, campeão da América do Norte. Este, por sua vez, terá antes que passar pelo vencedor entre o Hienghène, campeão da Oceania, e o Al Saad, representante do anfitrião Qatar. Treinador alemão do Liverpool, Jürgen Klopp é hoje considerado o melhor do mundo. Ele chegou a aventar enviar seu time B para a disputa internacional. Mas definiu na terça (26) que irá com sua força máxima.
Diferença nas tradições à parte, engana-se quem crê que a gravidade do confronto entre Europa e América do Sul no futebol tenha pesado na decisão do Liverpool. Tampouco foi sua tradição particular com o Flamengo, de quem levou um passeio de 3 a 0, quando Zico e companhia conquistaram o Mundial de Clubes há 38 anos. Como os rubro-negros cantam incessantemente: “Em dezembro de 81/ Botou os ingleses na roda/ Três a zero no Liverpool/ Ficou marcado na história”.
O que pesou na decisão do milionário clube inglês em 2019 foi o fato da final da Libertadores entre Flamengo e River ter sido assistida em 169 países, por 5 bilhões de pessoas. No pay per view, se cada um dos fãs do esporte mais popular do mundo pagar 1 dólar para assistir à hipotética final do Mundial entre Liverpool e Flamengo, em 21 de dezembro, isso renderia 5 bilhões de dólares — 3,85 bilhões de libras esterlinas, ou 21,15 bilhões de reais. Esse é o placar que realmente conta.
Dentro do campo, o Liverpool terá na sua vanguarda Salah, Firmino e Mané. O Flamengo, Arrascaeta, Gabigol e Bruno Henrique. Como os rubro-negros Diva e Yve, de lado a lado haverá a chance de fazer história e arte. Para, em lance do imponderável, impor a cultura do futebol. Quem conseguir chegar lá, leva o prêmio que transcende as cifras.