Morreu hoje, aos 41 anos, em acidente de helicóptero na Califórnia, um dos maiores gênios da história do basquete: Kobe Bryant. Para ampliar a tragédia, ele estava com sua filha Gianna, de 13 anos, e mais sete pessoas. Todos morreram. Kobe foi campeão cinco vezes da NBA, maior título do basquete, sempre como protagonista e atuando pelo Los Angeles Lakers. Em 2000, 2001 e 2002, o ala-armador fez uma dupla inesquecível com o pivô Shaquille O’Neall. O ego enorme de ambos era equilibrado pelo comando “zen” do técnico Phil Jackson, que vinha da experiência de ter antes treinado o maior time de basquete todos os tempos: o Chicago Bulls de Michael Jordan, vencedor seis vezes do título da NBA, nos anos 1990.
Com a saída de Shak do Lakers, Kobe assumiria de vez a condição de estrela maior do time. E escudado por outro grande pivô, o espanhol Paul Gasol, ele ganharia mais dois títulos da NBA, em 2009 e 2010, quando foi o MVP (Most Valuable Player, “jogador mais valioso”) daquelas duas finais. Seu melhor ano na NBA, no entanto, é considerado o de 2008, quando foi o MVP da temporada. Mas perderia a final do campeonato para o Boston Celtics de Kevin Garnet e Paul Pierce, em série de seis jogos.
Naquele mesmo ano de 2008, Kobe liderou a seleção de basquete dos EUA na conquista do seu primeiro ouro olímpico, em Pequim, batendo na final a Espanha do companheiro de clube Paul Gasol. Aquele time, que tinha também LeBron James no auge da forma, seria o único comparado ao “Dream Team” (“Time dos Sonhos”) original. Aquele de 1992, em Barcelona, que reuniu monstros como Michael Jordan, Magic Johnson, Larry Bird, Scottie Pippen, Charles Barkley, Karl Malone, John Stcokton e David Robinson, na primeira Olimpíada aberta aos jogadores profissionais da NBA. “Filho” mais brilhante daquela geração inigualável de duas décadas antes, Kobe conquistaria em Londres-2012 sua segunda medalha de ouro olímpica pelos EUA, contra a mesma Espanha de Gasol.
De fato, Kobe era filho do também jogador de basquete Joe Bryant. Após atuar na NBA pelo Philadelphia 76ers e Houston Rockets, foi jogar na Itália nos anos 1980. E levou junto seu filho caçula, que cresceria tendo como ídolo no esporte um certo brasileiro que àquela época brilhava no basquete italiano: Oscar Schmidt. A criação na Itália fez com que Kobe fosse também um apaixonado por futebol, torcedor do Milan e fã do jogo brasileiro. Quando voltou aos EUA em 1991, a grande habilidade demonstrada na High School (ensino médio) fez com que fosse draftado em 1996 com apenas 17 anos, sem passar por nenhuma universidade, como é o hábito no maior basquete do mundo.
No draft da NBA, feito para dar a preferência dos melhores reforços jovens aos clubes de pior desempenho na última temporada, o jogador não pode escolher seu time. A não ser que você seja Kobe Bryant. Sem nunca esconder que queria jogar no Los Angeles Lakers, ele foi draftado pelo New Orleans Hornets, pelo qual não chegou a jogar nenhuma partida. Ainda mera promessa, forçou sua troca com o já consagrado pivô sérvio Vlad Divac, que era ídolo do Lakers.
Kobe nunca vestiu o uniforme de nenhum outro clube. Desde 1996, quando foi o jogador mais novo a pisar numa quadra da NBA. Até se aposentar, em abril 2016, quando abriu mão de disputar a Olimpíada daquele ano no Rio. Sempre com a camisa roxa e dourada do Lakers, Kobe só mudou de número: a 8 com que jogou até 2007, e a 24, com que atuaria pelo resto da carreira. As duas seriam aposentadas em 2017 pelo único clube que defendeu por duas décadas, conduzindo-o a cinco conquistas do maior título de basquete da Terra.
Considerada sua maior atuação em um jogo de basquete, Kobe marcou 81 pontos pelo Lakers contra o Toronto Raptors, em 22 de janeiro de 2006. É a segunda maior pontuação da história da NBA. Pela evolução na marcação e placares menos elásticos, é considerada pelos especialistas como mais difícil que a primeira: os 100 pontos do pivô Wilt Chamberlain, pelo Philadelphia Warriors sobre o New York Knicks, em 2 de março de 1962. Confira no vídeo abaixo os 81 pontos de Kobe, 44 anos depois:
Para quem nasceu anos 1970 como Kobe, e começou a gostar de basquete nos anos 1980 por conta do Lakers de Magic Johnson, outro campeão cinco vezes da NBA, os anos 1990 existiram para ficar boquiaberto com o talento de Michael Jordan. E aplaudir seus seis títulos pelo Chicago Bulls. Até que Kobe surgiu ainda adolescente naquela mesma década, para se tornar homem na seguinte. E voar como Jordan, por sobre as cabeças de gigantes, para igualar a façanha de Johnson, vestindo a camisa do mesmo clube.
Mesmo torcedor do Lakers por conta de Johnson, confesso: para mim, as atuações de Kobe que nunca vou esquecer foram com a camisa dos EUA. Eram as Olimpíadas de Pequim-2008 e estava “internado” na casa de uma namorada no inverno de Teresópolis. Vendo pela TV, com o Pico do Dedo de Deus pela janela, jamais esquecerei da semifinal de 22 de agosto contra a Argentina, campeã das Olimpíadas de Atenas-2004 batida na seguinte por 101 a 81. Nem da final contra a Espanha, dois dias depois, vencida por Bryant e companhia por 118 a 107.
Kobe foi um gênio do esporte. Dos maiores que vi em meu tempo de vida. E marcou uma fase dela, aquecida entre pernas e edredons, que guardo dentro de um estojo.
Confira o vídeo com as 40 melhores jogadas de Kobe na sua brilhante carreira de 20 anos na NBA: